Capítulo 22 - Nomes têm poder, Louise

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Louise


Há algo de errado comigo.

Entreabro meus olhos, sentindo uma ligeira dor na minha mão, e solto pequenos gemidos enquanto meus ossos latejam. Minha visão ainda está um pouco falha, mas consigo ter um vislumbre de três rostos familiares.

Apoio minhas mãos no colchão e me sento, reclinando minhas costas na cabeça da cama.

– O que... aconteceu? – Minha voz sai rouca, como se houvesse algo arranhando minha garganta.

Por quanto tempo eu dormir?

Pisco algumas vezes, enxergando Alec ao lado de Ravena, me olhando como se eu fosse uma alma viva. Na verdade, ele já deve ter visto muito isso, então não seria um bom exemplo. E no canto esquerdo do cômodo, ele parece nem piscar.

Como ninguém tem a intenção de responder à minha pergunta, eu inclino o corpo, apoiando as mãos na beirada cama, e tento me erguer.

– O que pensa que está fazendo? – ele pergunta, se antecipando e se colocando na minha frente.

Mesmo sentada, consigo sentir o seu cheiro amadeirado se infiltrando no meu olfato, como se fosse uma folha de outono que estivesse tentando encontrar a direção certa. Seu corpo musculoso, coberto pelo tecido preto, obstrui minha visão de qualquer outro lugar do quarto.

Não que eu quisesse olhar para qualquer outra pessoa nesse momento.

– O que aconteceu? – repito, para o bem da minha sanidade.

Mas ele não responde, somente me observa com esse olhar misterioso e intrigado, ainda de pé na minha frente. Seus olhos não revelam muita coisa, então me obrigo a desviar os meus para o lado, buscando entender por que está todo mundo estranho.

No entanto, aperto minha testa ao notar uma cômoda de madeira, preenchida por alguns flocos de neve.

Inclino meu rosto ainda mais, reparando nas paredes de obsidianas cobertas por um tecido muito claro de seda. E em alguns pontos do quarto, há desenhos que se parecem com as runas que havia na porta de umas das salas.

Tento me manter tranquila no momento em que me dou conta de que esse não é lugar em que dormir ontem à noite.

– Por que estou nesse quarto? – pergunto, voltando meu olhar ao dele.

E outra vez silêncio.

Ele também retoma seus olhos para os meus. Talvez estivesse reparado na minha espiada pelo quarto.

– Será que alguém vai me dizer o que aconteceu aqui? Eu dormir demais, foi isso?

De repente, algo surge detrás dele. Algo não, alguém.

Ravena.

Seus olhos castanho-escuro tentam oferecer o sorriso enquanto seus lábios pintados de vermelho fazem o mesmo.

– Você teve um ataque de pânico – ela conta, arrastando o gigante da minha frente.

Vejo todo o trajeto conforme ela o empurra para o lado de Alec, que também tenta manter a expressão o mais natural possível, embora eu veja que há algo de errado. Ele – o diabo – não parece nada feliz com o movimento de Ravena, mas não diz nada enquanto ela se aproxima de mim e se senta ao meu lado.

– Você encontrou um demônio dos sentimentos nas Terras Sombrias – ela continua. – Eles pegam seu sentimento mais profundo e o amplia. Foi isso que aconteceu quando você o viu, ficou com muito medo e teve um ataque de pânico. Mas agora está tudo bem, não tem com o que se preocupar.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora