Capítulo 9 - O que... você é?

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Devil


Entro na escola de Louise, sentindo Zion no meu encalce, ainda na sua forma animal.

Mesmo não olhando, consigo sentir suas asas de águia raspando as paredes do colégio e suas penas escuras, exatamente como a cor da sua pele na forma imortal, cintilando sobre a luz que reflete nos vidros.

Suas duas garras da frente rangem no chão, e eu encolho os ouvidos, ordenando mentalmente que use a forma imortal agora. E ele obedece sem nenhuma hesitação.

Em um segundo, estou vendo as patas traseiras de leão e as duas garras da frente de águia, os olhos vermelhos e aterrorizantes para algumas pessoas, a penugem marrom em volta da sua cabeça, e no segundo depois, vejo um homem belo e alto, vestido de roupas semelhante às minhas, rodeado de puro músculo.

Zion prefere a forma de Grifo porque, dessa forma, não há comunicação. E é por isso que o chamei hoje.

Se Ravena e Alec são meus torturadores e caçadores de demônios mais talentosos, o homem imortal à minha frente é o que guarda a entrada e saída de todos eles. Zion é o responsável pelos Portões do Inferno.

Com seus olhos de águia, ele consegue ver tudo o que passa pelo portão. E impede tudo o que não é bem-vindo de entrar e de sair do Hell. Zion nunca deixou passar nada, nos meus cinco milênios de existência, nunca vi ou ouvi Zion cometer um erro na sua função.

Até meses atrás.

Os Sewns, de alguma forma, conseguiram atravessar os Portões do Inferno sem a minha permissão.

E esse é um dos motivos para ele estar aqui hoje. O outro e o mais óbvio, é porque não queria os dois idiotas enchendo meu saco sobre Louise enquanto levasse os demônios de volta ao Hell.

– Está vendo o mesmo que eu? – ele me pergunta, enquanto entramos em uma sala lotada de sangue e muitos cadáveres. – Esses humanos vão nos atrapalhar.

Ele tem razão. Há alguns policiais dentro da sala, parecendo estudar o que poderia ter feito isso com os olhos dessas pessoas.

Eles não conseguem nos ver e nem ouvir, porque controlo suas mentes para não o fazer. Elas são bem frágeis, até mais que a de Louise.

– Parece que foi ataque animal – um deles comenta, estudando um dos cadáveres. – Quando cheguei aqui, não tinha nada. Ele deve ter fugido.

Olho ao redor, mas não vejo um rastro nítido do Sewn, a não ser por algumas pequenas pegadas das garras dos seus pés. Escondo-as das mentes dos policiais para que eles não atrapalhem ainda mais nossa tarefa.

Uma policial se inquieta no canto da sala, os olhos arregalados e aterrorizados fixos nos humanos mortos no chão, mais especificamente para o buraco que está nas suas pálpebras.

– Acho que pode não ser ataque animal dessa vez – ela retruca, segurando uma correntinha no pescoço. – Talvez...

Faço-a parar de falar antes que consiga terminar. Ela não entende como não consegue falar, mas afirmo mentalmente que o que houve aqui foi um ataque de animal e não algo de extraordinário e maligno quanto ela está pensando.

– Tem razão – ela se corrige, voltando o olhar ao policial que estava falando. – Há históricos de animais que atacaram os olhos humanos na cidade. Vou estudar alguns casos e repassar para o senhor.

Então ela sai da sala, e talvez nem esteja consciente do que acabou de dizer, nem saiba que não há nenhum caso semelhante a esse nessa cidade de lixo e muito menos no Mundo dos Humanos.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora