Capítulo 8 - Só pode ser um pesadelo

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Louise


Isso não é real.

Me forço a acreditar que tudo isso é coisa da minha cabeça, que esse homem – que obviamente não é um homem – não acabou de quase dilacerar meu crânio de dentro para fora.

Foi como se eu não tivesse mais uma consciência. Ela estava lá, mas eu não a sentia. Ele agarrou os fios da minha mente e simplesmente os enlaçou como se fosse a coisa mais simples do mundo, como se eu não tivesse nenhum controle sobre mim mesma...

Mas não, isso não aconteceu de verdade, embora a dor tenha parecido bem real. É apenas um dos meus episódios. Não é surpresa que isso aconteça, já tive muitas outras conversas com pessoas que achei existir.

Minha mãe, por exemplo. Quando eu era criança, a via por todas as partes. Mas ela estava morta, morreu no mesmo dia que nasci. Da mesma forma, isso aqui não é real, esse homem com um corpo humano não é real.

Nada disso é...

– Quem é você, Louise? – ele repete, estudando minhas feições como se realmente estivesse intrigado comigo. – Eu gostaria de entender.

– Uma louca – sussurro, tendo em mente a figura à minha frente.

Ele sorri, frio e cruel.

– Deve ser por isso que estou tão intrigado com você, então. – Não falo nada, e ele continua: – Mas não é disso que estou falando, Meu Anjo. Quero entender o que você é de verdade, por que está metida nas minhas coisas.

– Em "metido nas suas coisas" você quer dizer ter pesadelos com aqueles demônios nojentos e quase ser morta por eles em todos os sonhos?

Suas sobrancelhas se franzem, e eu nem me importo se está incomodado com o tom da minha voz.

– Resumindo, é isso aí mesmo.

Ergo as mãos, indignado com essa pergunta.

– Acha que eu sei? Acha que eu entendo como funciona meus pesadelos?

– Não faço a mínima ideia – ele responde, dando de ombros. – Por isso gostaria de entender o que é você.

– Já falei. Sou uma louca que sofre de esquizofrenia.

Revirando os olhos, o homem-que-controla-as-criaturas coloca as mãos no bolso da sua calça preta.

– Louise, eu quero que entenda que não estou de brincadeira e que o que fiz com sua consciência é um grão de areia comparado ao que posso fazer com você.

Engulo em seco, tentando não tremer ao som da sua ameaça.

– Acha que estou brincando? Fui diagnosticada com esquizofrenia aos cinco anos. Desde então, tenho esses... episódios como hoje e os pesadelos, apesar de que os outros não pareciam ser tão reais quanto esses.

– Isso não tem nada a ver com o fato de você estar atrapalhando minhas tarefas.

– Você fala como se eu quisesse estar naquele lugar – rosno, sem medo algum de retaliação. – Se não está claro aqui, senhor controlador de demônios, eu não gosto de dormir e simplesmente sonhar com as suas criaturas horríveis e quase ser morta por elas. Então sim, isso tem tudo a ver com o fato da minha cabeça ser quebrada, porque se dependesse da minha vontade, eu nunca sonharia com aquelas coisas que eu nunca vi na vida e nem quase seria morta por elas.

Solto um suspiro demorado enquanto o homem me estuda por um longo tempo antes de mandar, como se não tivesse escutado uma palavra do que eu disse:

– Tem que parar de ir ao meu mundo. Não consigo me concentrar com você a cada dois segundos me atrapalhando.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora