Capítulo 6 - Acorde

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Louise


– E então o que ele fez? – Dr. Relish pergunta, se inquietando na sua cadeira e ajustando os óculos no seu rosto.

Depois que minha irmã morreu, meses atrás, minhas sessões com ele duplicaram. Agora nos vemos duas vezes por semana. Insisti para meu pai que não precisava, mas ele estava irredutível.

Estamos enfrentando o luto do nosso jeito. Ele se trancando na igreja e rezando sei lá quantas horas por dia, e eu... bem, eu sou a mesma, apesar de sentir o contrário. É como se um pedaço de mim tivesse ido embora.

– Louise? – ouço a voz do meu psicólogo, me fazendo voltar à realidade. – Está aí?

Aceno com a cabeça.

– Ele não fez nada, apenas... – Encaro minhas mãos nesse momento, lembrando do e aquele sorriso ameaçador. – Sorriu.

As linhas acima das sobrancelhas do doutor se enrugam. E eu não o culpo. Não faz o menor sentido. Ele apenas ficou lá parado, não fez nada além de sorrir como se não estivesse sendo o momento mais triste da minha vida.

E, de alguma forma, aquilo só me fez ficar com mais raiva dele.

– Sorriu? – Dr. Relish repete para si mesmo.

Faz semanas que ele vem me tentando me convencer a contar sobre o que aconteceu no enterro da minha irmã, mas eu sempre hesitava. Não estava pronta, na verdade, ainda não estou. Nem sei por que estou falando.

– Sim. Eu não sei o que ele queria, mas... Não sei.

Meu psicólogo me encara, a confusão evidente no seu rosto. Ele com certeza acha que só é coisa da minha cabeça e que aquele homem – não humano – não estava lá de fato, somente meus olhos e meu subconsciente o viram.

E eu sei isso porque é o que ele repete a cada sessão que conto sobre meus pesadelos. Eles continuaram todos esses meses, apesar de que, em nenhum deles, o homem-que-controla-as-criaturaz estava lá.

– E ele disse alguma coisa? Além de... sorrir?

Estremeço, lembrando da sua voz grave na minha mente. Olá, Louise. A única coisa que ele disse. Durante toda a cerimônia, enquanto todos choravam e meu pai se atracava com o caixão da minha irmã, essas foram suas únicas palavras. Não uma palavra de conforto ou ajuda, somente um "olá, Louise".

– Apenas cumprimentou. "Olá, Louise", foi o que ele disse.

– E você respondeu?

Nego com a cabeça.

– Nunca daria isso a ele.

Um pequeno sorriso se abre nos lábios do doutor, mas logo se fecha.

– Isso certamente seria algo que você faria.

– Na verdade, seria algo que minha irmã faria. Ela era corajosa e enfrentava a todos por mim. Mas...

– Mas?

– Eu não sei... Sabe, eu... não sei explicar, mas meio que me sinto mais confiante quando ele está perto. Não, confiante não, essa não é palavra certa. Nem sei qual a palavra certa. É só que aquele homem ativa minha raiva de uma forma que eu faria qualquer coisa para arrancar o pescoço dele.

Dessa vez o psicólogo não consegue deixar de gargalhar.

– E o que você acha disso tudo? – ele pergunta, depois de se recompor.

– Como assim?

– Acha que isso é bom? Essa explosão que ele causa em você?

De imediato, balanço a cabeça.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora