Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)

Capítulo 43 - Até o coração mais frio e cruel consegue amar

Louise

- Eu quero apenas conversar.

Encaro os olhos pretos de Scarlett, tentando entender como viemos parar nesse lugar que parece não ter fim. É diferente do inferno. O ar é frio e há nevoa por toda parte. Não consigo enxergar nada além do vazio e escuridão.

- E conhecendo a territorialidade do meu irmão - ela continua, e os fios acima das suas sobrancelhas são soprados ao vento cada vez mais agitado. - Ele não deixaria isso acontecer nem em um milhão de anos.

- Onde estamos?

Scarlett parece estar mais cautelosa hoje. Não que não estivesse antes, mas dessa vez é como se estivesse com um receio das consequências dos seus atos. Ou talvez não.

- Se chama Entremundos. Não é o seu mundo, mas também não é o meu.

- E por que me trouxe até aqui?

Minutos atrás, eu estava de partida daquele maldito lugar. Ter feito aquelas coisas com Aren foi um erro. Um erro que pagarei pelo resto da minha vida se o que ele tiver dito sobre Dylan for verdade.

- Já disse, para conversar - Scarlett responde, à alguns metros de distância, varrendo o lugar com um olhar, como se dissesse que não há como fugir. - A sós, de preferência.

- Para conversar sobre o quê? Se for sobre a sua pretensão de conquistar o inferno, infelizmente eu não posso te ajudar. Inclusive, estava indo embora daquele lugar antes que você nos trouxesse para cá.

- Indo embora? - Ela ergue as sobrancelhas avermelhadas. - Interessante.

- Então - continuo, ignorando a surpresa em seu rosto - se não tiver um motivo para que eu esteja aqui, por favor me deixe voltar para casa.

- Casa - ela murmura para si mesma, como se estivesse apreciando a palavra. - Fiquei longe de casa por anos, criança. Por anos eu estive vagando pelos mundos, tentando encontrar um lugar que substituísse aquele. Sessenta e seis anos depois, desisti de tentar, e tive que abrir mão do meu bem mais precioso para isso. Mas então resolvi retomar o que é meu.

- O que é de vocês dois, você quis dizer.

Ela dá de ombros, arrastando a bota pelo chão rochoso.

- Aren já reinou por tempo demais. Se acomodou demais. Antes éramos implacáveis. Mas agora? - Um riso de escárnio escapa da sua boca. - Ele passa o tempo dormindo com humanos. Acha que essa deveria ser a reputação do diabo, criança?

- Isso você deve perguntar a ele.

Repuxando os lábios suavemente, Scarlett me estuda de cima a baixo, parecendo um pouco impressionada com meu tom.

- A humana tem garras, então. Acho que estou começando a entender o que ele viu em você. Aren detesta coisas simples. Já deve ter percebido que ele adora complicar tudo.

Não faço a mínima ideia se ela sabe da briga que tivemos horas atrás, ou se está falando isso porque claramente é a verdade. Aren transforma qualquer coisa em complicação.

- E de novo, acho que você deveria estar dizendo isso para ele, porque eu não tenho nada a ver com seja lá o que você quer de mim.

- Ah, mas você tudo a ver com isso, criança.

Reviro os olhos, lembrando do que ela havia me dito antes.

Digamos que é suposto que o diabo se apaixone por uma certa humana.

- Olha, Scarlett, eu gostaria mesmo de poder ajudá-la a conseguir sua casa de volta, mas eu realmente não posso te ajudar. Essa baboseira sobre o diabo se apaixonar por uma humana é a maior furada, porque nem em um milhão de anos Aren iria conseguir se apaixonar por alguém. E se, por um milagre do destino, acontecesse de fato, eu não seria essa humana.