Capítulo 38 - Um maldito demônio inferior, Meu Anjo

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Louise

O diabo caminha pelo salão, trajando seu ar de anjo das trevas, e as sombras o segue todo o trajeto em direção ao seu trono.

Ninguém perde um só movimento seu enquanto ele sobe os poucos degraus usando uma coroa dourada com contornos de chamas, assim como o anel que usava no dedo, e se volta a todos do salão, os olhos cor da noite nunca estiveram tão impiedosos e cruéis quanto agora.

Aren é o diabo, e sua aparência faz jus à sua reputação.

– Demônios – ele cumprimenta. E até seu tom de voz está mais rígido. – Estão se acomodando na festa? Ah, não respondam. Eu não me importo.

Ele abre um sorriso frio, me fazendo lembrar da primeira vez em que o vi em um dos meus pesadelos. Havia me esquecido o quanto seu sorriso pode ser amedrontador. Talvez seja o mesmo e ele nunca tenha mudado, eu apenas me deixei esquecer.

Seu olhar escuro varre o salão silenciosamente, como se procurasse algo, alguém, enquanto todos ainda permanecer concentrados nele. Mas então seus olhos encontram os meus, e uma faísca de fogo acende na escuridão que cerca sua íris enquanto ele desliza seu olhar lentamente sobre meu corpo, coberto pelo tecido transparente do vestido.

O silêncio se instaura no salão enquanto Aren parece esperar algo. Seu olhar retorna aos demônios, e um certo divertimento desperto no seu rosto.

– Por que não estão curvados ao seu rei?

No segundo em que suas sobrancelhas se erguem, dando ênfase ao seu questionamento, todos fazem uma reverência demorada.

Assim como eu, o diabo também percebe a aversão que emana de cada demônio presente aqui. Nenhum deles parece apreciar a saudação imposta por Aren. E ele sabe disso. Tenho certeza de que apenas o fez para estimular o ódio nos olhos dos seus súditos. Porque é disso que ele gosta.

O caos.

Como se também esperasse que eu me curve, seu olhar sombrio penetra o meu, impondo que eu o faça. E somente para não prolongar esse momento, dobro os joelhos superficialmente e me curvo, sentindo aranhas na minha garganta.

E quando ergo os olhos, vejo os seus dançando sobre chamas, como se estivesse desfrutando cada segundo.

– Podem se levantar – ele ordena, arfando um suspiro demorado, e crava os olhos no meu pescoço como se quisesse me devorar de dentro pra fora.

Qualquer demônio que tenha olhos consegue notar a forma como o diabo me observa. O que só faz o pânico crescer sobre minhas veias, porque nenhum deles gosta de mim. Eles não devem gostar de ninguém, mas a humana suja...

No entanto, Aren não parece se importar nenhum pouco com o fato de todos esses demônios notarem seu olhar sobre mim, porque ele não desvia os olhos um segundo.

Não até perceber os rosnados baixinhos que alguns dos seus demônios emitem contra mim.

Seu olhar é afastado do meu somente para observar seus súditos, que se encolhem de leve com o retorno da atenção de Aren a eles.

– Creio que já notaram que temos uma convidada especial essa noite – ele murmura, brincando com uma pequena chama em volta do seu dedo indicador. – Uma convidada muito bela, eu ousaria dizer.

Mais olhares são apontados na minha direção, e eu só quero me enterrar em um buraco.

– Na verdade – Aren continua, se sentando no seu trono, os olhos nunca se desviando dos meus. – Bela não seria nem de perto o que Louise é e está essa noite. Vocês não concordam?

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora