Capítulo 45 - Ele tinha que falar

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Louise


Corro por entre a neblina, sentindo minhas pernas pulsarem e pensando no que eu me tornei... no que estava oculto dentro de mim.

Sou filha de um demônio. De um demônio que já foi rei. Tenho seu sangue correndo pelas minhas veias... Sangue de demônio. O que isso me torna agora? Continuo sendo uma humana ou... aquelas criaturas das trevas?

Não.

Não sou cruel como aqueles demônios, como ele...

Aqueles seres que ele e Scarlett torturaram... e somente por diversão. Eu nunca faria isso, nunca machucaria alguém daquela forma, com aquele divertimento do rosto. Nunca seria como ele.

Aren é o diabo.

O diabo perverso e cruel. E eu sempre soube disso. Meu interior gritava a todo momento, mas eu me deixei esquecer. Me deixei confiar nele... E o que eu ganhei com isso? Mais mentiras. Ele sabia sobre a minha irmã e ainda assim me disse que não se lembrava.

Eu o odeio.

Mas odeio ainda mais a mim, porque não consigo tirá-lo da minha cabeça, do meu coração. Eu o odeio por ter mentido e feito coisas horríveis, mas a criatura mais repulsiva da história sou eu, por ainda me preocupar com a sua vida...

Scarlett planeja matá-lo.

Eu vi nos olhos dela. Vi na certeza das suas palavras sobre querer o inferno a qualquer custo. Vi na forma como ela me mostrava todas as coisas que fizeram juntos, com a intenção de me fazer odiá-lo.

Atravesso outra nuvem, tentando encontrar uma saída desse lugar que parece não ter fim e ouvindo minha cabeça girar. Não consigo ver nada além da névoa. É como se ela fosse viva, como se tentasse me impedir de sair daqui.

Suor escorre pelo meu rosto, embora o frio esteja por toda parte, e meus músculos imploram por descanso, mas continuo correndo e correndo...

Um grito irrompe da minha garganta no momento em que esbarro em algo. Em um ombro. Forço a visão, sentimento meu coração prestes a explodir como uma bomba, e estreito os olhos ao enxergar os olhos castanho-escuro de Ravena.

O que ela está fazendo aqui?

– Alec, eu a encontrei – ela grita para o nada, estudando minha fisionomia. – Por todos os deuses, você está bem? Ela machucou você?

Alguns segundos se passam para que eu me dê conta de que ela está falando de Scarlett. Como sabe que eu estava com ela?

– Pelos deuses, humana, você nos salvou de uma morte bem lenta – ouço a voz de Alec por entre a neblina, e em seguida um grito de uma águia. – Tudo bem, Zion. Pode descer.

Então eu vejo os dois. Zion, na forma de Grifo, e Alec caminham até mim enquanto Ravena ainda parece tentar buscar nem que seja um arranhão na minha pele.

– O que estão fazendo aqui? – pergunto, tendo um vislumbre de um bater de asas vindo na nossa direção.

– Viemos encontrar você, humana. – Alec repuxa levemente os lábios, mas franze o rosto ao desviá-lo até Ravena. – Tudo bem, Ravena. Ela está intacta.

Parecendo notar que ainda estava me analisando, ela se afasta um pouco, e alguns fios do seu cabelo ondulado sobrevoam sobre seu rosto belo com a ventania do lugar.

– Eu já estava indo embora – comento, ainda com a respiração vacilante. – Scarlett só queria conversar e... contar uma historinha idiota.

Os rostos dos dois se franzem. Até Zion parece inclinar o pescoço de águia para o lado, encolhendo as penas marrons, provavelmente devido aos sopros de ar que correm constantemente através da névoa cinzenta.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora