Louise
Eu sou o diabo, Meu Anjo.
Volto para casa, pensando nessas palavras. Elas já rodaram na minha mente um milhão de vezes, junto com as imagens que se passaram.
Aqueles monstros, aquele fogo...
Não é real. Não é real. Isso não existe. O diabo não existe, é só uma desculpa do ser humano para fazer coisas erradas, para justificar a maldade que corre nas suas veias e nas suas cabeças, para fugir da culpa.
E por que parecia ser, então?, minha mente pergunta a si mesma.
Eu não sei, penso.
Chego em casa e logo dou de cara com meu pai. Os olhos arregalados e assustados, como se também tivesse visto o mesmo que eu.
– Ah, meu Deus, você está bem. – Ele me abraça forte, arrastando suas mãos sobre meus ombros como se nunca mais fosse soltar. – Soube do ataque que houve na escola.
Ah.
O suposto ataque animal, mas que todos sabem que não foi animal. Todos viram aquela coisa correndo atrás de mim, mas parecem que nenhuma estava em sã consciência. Palavras dos policiais, não minhas.
E as únicas que viram aquele demônio com clareza... não estão mais vivas.
– Estou bem, pai – garanto, me desvencilhando dos seus braços. – Não aconteceu nada comigo.
Ele suspira, algumas lágrimas caindo no seu rosto.
– Não posso perder você, filha. É a única pessoa que me restou.
Pisco, surpresa. Então só aí me dou conta da verdade. Meu pai também perdeu minha irmã, não foi só eu. Pensei que ele estivesse se escondendo na igreja, mas ele apenas está tentando viver o luto do jeito dele.
– Não posso perde você, Louise – ele repete.
– Não vai, pai, eu prometo. – Ele me abraça mais uma vez, e em seguida eu digo: – Mas preciso tomar banho agora. Se continuar me abraçando, talvez o senhor vá precisar também.
Ele consegue ri, mas seu sorriso vai sumindo quando me solta.
– Não diga que não avisei. Coisas ruins estão acontecendo, e é tudo culpa dele.
Dele. Do diabo.
Meu pai falou sobre isso meses atrás, mas eu nem considerei. Não acreditava em tal coisa. Mas agora... Talvez ele tenha mesmo razão e existe mesmo um ser maligno como esse.
No entanto, não digo nada enquanto subo para meu quarto, o deixando sozinho e murmurando coisas como "e ainda tem mais coisa por vir".
[...]
Me aproximo de algo que parece ser um pântano, tentando entender como cheguei nesse lugar.
Há algumas árvores vivas, verdes e outras secas. Sons de rugidos são ecoados por todos os lados enquanto rodeio o lugar com os olhos. Poderia facilmente classificar esse lugar como um dos não-lugares a visitar. É escuro e bem parecido com outro que já estive.
Minhas memórias são vagas, mas me lembro ter corrido por entre essas árvores em algum momento.
Caminho alguns passos na direção oposta ao lago brejoso, mas tomo um susto ao notar uma figura feminina estirada de bruços sobre uma rocha enorme e alta.
– Humana? – uma mulher aparentemente alada pergunta, mas como se murmurasse para si mesma. – Há tempos que não vejo seu tipo.
Observo ao redor, mas não tem nada vivo ou falante que possa me ajudar. Pelo menos não visivelmente.
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Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)
RomanceO que aconteceria com o mundo se o diabo se apaixonasse por uma humana? Louise Quinn é uma garota não muito normal, já que foi diagnosticada com esquizofrênica aos cinco anos de idade. Louise costuma ter pesadelos todas as noites com criaturas de ou...