Capítulo 35 - Quero o inferno para mim

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Louise


Agradeço a dona da loja de flores antes de voltar a observar as dálias azuis uma última vez.

Talvez Aren não saiba, mas essas flores têm um valor sentimental muito grande para mim. Brincava com elas o tempo todo na infância. Em alguns momentos com Dylan, mas, na maioria das vezes, sozinha.

Nenhuma das crianças tinham vontade de brincar com uma "louca". Mia sempre tentava ficar comigo, mas sabia que sentia falta das suas dezenas de amigas, então eu optava por ficar sozinha. Não era uma escolha fácil, eu admito, mas foi o mais próximo de estável que tive na minha vida.

E então ele me dá essas flores...

O diabo deu flores a mim.

Ainda é estranho crer que isso aconteceu. Mesmo inspirando o cheiro ácido da flor e admirando suas pétalas azuladas com um sorriso que vai até meus olhos, não consigo acreditar que ele realmente comprou flores para mim.

A vendedora me disse que era possível plantá-la em vasos, e eu pretendo. Se Aren não achar a ideia ruim, claro. Afinal, a casa é dele.

Afasto meu olhar das flores, fazendo menção em girar meu corpo para ir até ele, mas algo me impede. Algo não, alguém. Uma mulher de cabelos loiros e uma risada muito familiar. Mas o que mais me chama atenção são seus olhos. O direito, em especifico. É de metal.

Já vi esse olho, e não faz muito tempo. Beatrice, se não me falhe a memória. Ela é um dos demônios da Tríade do Inferno.

Imagino que o inferno seja um lugar público, onde todos podem transitar, mas o que ela está fazendo aqui?

Sinto seu corpo se movimentar e desvio meu olhar, esperando que ela não me note aqui. Sei que Aren me protegeria, mas ele não está ao meu lado nesse momento. Talvez não seja tão rápido assim.

Devagar e casualmente, dou algumas passadas para longe da loja, mas sinto um braço tocar meu ombro, me fazendo virar o corpo bruscamente, em busca de alguma ameaça. É como se fosse um instinto, impulso.

– Louise, certo? – Beatrice abre um pequeno sorriso, e eu tento manter minha respiração estável para que ela não perceba o medo emanando do meu corpo.

Não digo nada enquanto me desvencilho do seu toque tranquilamente. Me afastando um pouco, estudo suas feições. Seu corpo é bem alto, quase tão grande quanto Ravena, embora seja menor que ela. Sua pele clara sem nenhuma mancha e seus olhos cheios de expectativas. É como se ela esperasse me encontrar aqui.

Beatrice usa roupas consideráveis normais por aqui. O vestido tem um decote bem marcante, muito parecido com os tecidos que há no closet do meu quarto, na casa de Aren.

– O diabo também não permite que você fale, humana? – ela incita, e dessa vez consegue arrancar uma reação de mim, mesmo contra minha vontade. – Então os rumores são verdadeiros.

Surpresa e... um pouco curiosa, estreito meus olhos, sentindo uma inquietação crescer nas minhas veias.

– Que rumores?

Seu sorriso se alarga conforme ela brinca com os dedos, como se considerasse me contar ou não.

– Que o diabo tem alguém que aqueça sua cama nas noites sombrias do inferno.

O quê...? Acham que Aren e eu...?

– Exatamente o que pensou, lixo humano – Beatrice responde, como se lesse a pergunta estampada no meu rosto. – Os demônios andam cochichando por aí que o inferno terá uma nova rainha, mas não imaginam que é a pior raça dos dois mundos.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora