Capítulo 17 - Por que eu sequer me importo?

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Louise


O inferno não é nada do que eu pensei que fosse.

Não que eu acreditasse que existia um, mas escutei muitas histórias sobre como seria. Meu pai sempre fazia questão de deixar claro o quão assustador seria. Não que tudo aqui não assuste ou me faça querer desistir e voltar para casa, mas... não sei explicar.

É como se o solo e ar árido fosse familiar. Talvez sinta isso porque já estive aqui nos meus pesadelos.

Ainda assim, não é nada do que imaginei.

Se me dissessem que o inferno tem casas e prédios, eu nunca iria acreditar – pelo menos parece ser, pelos formatos retilíneos das construções de pedras e rochas. Na verdade, eu diria que isso é mais um palácio do que uma casa.

Se me contasse que o inferno, aquele lugar que muitos acreditam estar ardendo em chamas e dor, tem pessoas – demônios que parecem muito com pessoas, pelo menos o corpo – caminhando e transitando como no meu mundo, eu pensaria que essa pessoa tem o mesmo problema mental que eu.

Mas agora, enxergando tudo com meus próprio os olhos... Ainda acho a coisa mais louca e inacreditável do mundo.

– Ainda dá tempo de desistir, Louise – ouço a voz dele chamar, me fazendo sair do transe que estava.

Expiro, inclinando os olhos ao homem-diabo, e nego com a cabeça.

– Não vai me fazer desistir. Nem com... tudo isso.

Olho novamente ao redor.

Isso é realmente assustador. Embora tenha a luz do sol, pelo menos eu acho que seja, o lugar ainda tem um tom de escuridão. Ou talvez seja só a sensação, não sei. Mas é como se, mesmo existindo luz, ainda houvesse algo que gritasse, lembrando que aqui é inferno.

Até as nuvens são mais espessas e escuras – um tom de cinza, como se fosse ocorrer uma tempestade nesse exato momento.

– Admiro o fato de você estar interessada em conhecer meu mundo – ele admite, e eu tento dizer que não estou, mas ele continua: – Mas, como eu disse antes, nada de explorar. Os demônios...

– Vão me matar, eu sei – interrompo, ciente de tudo o que ele disse minutos atrás. – Eu não estava explorando nada, só... tentando entender como isso é possível.

– Como o quê é possível?

Ergo minhas mãos, indicando o lugar ao nosso redor.

– Tudo isso? Eu nunca acreditei nesse tipo de coisa. É difícil acreditar que há casas no inferno, luz e até árvores. Tipo... como isso é possível?

Erguendo uma sobrancelha, ele pergunta:

– Casa? Achou que dormíamosnas cavernas?

Solto uma risada alta, não achando nada engraçado.

– É exatamente isso que estou tentando dizer. Por que vocês sequer dormem? Não são demônios? Não deveriam ser imortais que não têm necessidades humanas?

– Ah, com certeza nós temos algumas das suas necessidades humanas – ele comenta, e eu noto um lado do seu lábio se repuxando. – Louise, Meu Anjo, posso explicar tudo o que quiser, mas precisamos entrar agora. Seu cheiro vai se espalhar rapidamente, e eu não pretendo gastar o resto do meu dia mantando demônios inferiores.

Mordo meu lábio, estudando a casa – palácio – à nossa frente. É feita de um material preto, talvez vidro. Ou não. É muito escuro para ser vidro. Há algumas colunas que se parecem muito com a arquitetura grega-antiga.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora