Louise
– Mais uma xícara, por favor – um rapaz sentado à frente do balcão pede.
– Descafeinado?
Ele assente, oferecendo um meio sorriso, e eu sigo até a prateleira dos cafés.
Essa é minha vida agora. Perdi as inscrições da faculdade. Decidi deixar para última hora, mas Dylan foi levado ao inferno e eu fui junto. Uma boa desculpa para dar a diretora, com meu histórico lindo de esquizofrenia. Mas que pena que minha condição não conseguiu resolver meus problemas dessa vez.
Então desde que voltei de lá, estou trabalhando em uma cafeteria, servindo café. Foi tudo o que eu consegui. Afinal, a cidade inteira conhece a louca do final da rua.
Venho tentando convencer a mim mesma de que isso não é tedioso depois dos dias que passei no inferno, depois de toda aquela... agitação. A calmaria às vezes é um privilégio, e eu preciso me acostumar com isso, porque a minha vida toda foi um caos.
Se passaram algumas semanas desde a última vez que nos vimos no meu quarto, e eu estou me esforçando para reprimir qualquer tipo me memória que insiste em retornar à minha mente. Me esforçando ainda mais para não admitir que sinto a falta dele.
– E então, esse café só vai sair quando você me der seu número de telefone mesmo? – ouço o rapaz murmurar, me tirando dos meus pensamentos e me fazendo lembrar que ainda não servi o café.
Merda.
Ergo meu olhar para o garoto, já o vendo me observar com um certo divertimento malicioso no rosto.
– Me desculpe – peço, arrumando meus óculos, e sirvo o café.
– Não se desculpe, por favor. Essa foi a minha deixa de dias para conseguir pedir seu número.
Pisco, surpresa, me dando conta de que esse rosto é realmente familiar. Esse cara vem a essa cafeteria todos os dias. Imaginei que fosse a caminho da sua escola ou faculdade, mas...
– Você...?
Ele ergue uma sobrancelha, esticando os lábios.
– Ah, sim. Eu venho todos os dias a esse lugar porque uma garota muito linda trabalha aqui, então... – Ele estende a mão. – Me chamo Henry, e você?
Ainda levemente surpresa, estudo seu perfil por um segundo. O rapaz tem a aparência de um jovem, os cabelos castanho-claro encaracolados, a pele bronzeada, os olhos um tom de azul muito bonito. Diferente do tom safira de Dylan, eles são mais assombreados, bem parecidos com os de Soren.
Paro por um segundo. Eu realmente estou comparando os olhos desse cara com olhos de um demônio?
Porque você sente falta de lá. Uma voz sopra na minha mente, mas sei que não foi ele. Sua voz é diferente, mais grave e enrouquecida. Na verdade, foi a voz do meu subconsciente. Conheço-a muito bem.
– Louise – respondo a Henry, tentando me abster dessa situação que minha cabeça criou.
– Um nome muito bonito para uma garota tão bonita quanto você. – Ele repuxa ainda mais os lábios e, antes que eu possa agradecer, continua: – E então, qual o seu número de telefone, Louise? Eu realmente gostaria de prolongar essa conversa depois que for embora daqui. E não se preocupe, atingi meus objetivos, mas vou continuar vindo até aqui. Conseguir seu número não é o único motivo para gastar dólares de café todos os dias.
– E qual seria o outro motivo?
– Ver você, obviamente.
Observo o cara por alguns segundos, esperando algo, talvez que Aren apareça e dê um fim nele, da mesma forma como fez com aquele garoto que me beijou na festa da minha irmã, meses atrás. Porque sei que foi ele, no fundo, soube no mesmo momento em que aconteceu, só não queria admitir a mim mesma. Não queria admitir que ele era real.
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Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)
RomanceO que aconteceria com o mundo se o diabo se apaixonasse por uma humana? Louise Quinn é uma garota não muito normal, já que foi diagnosticada com esquizofrênica aos cinco anos de idade. Louise costuma ter pesadelos todas as noites com criaturas de ou...