Capítulo 42 - Foi só tempo roubado

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Devil


Deitada sobre meu corpo, Louise traça os dedos rente aos contornos da minha tatuagem.

Estamos a um bom tempo aqui, nem sei bem dizer quanto. Sei que deveria ir embora, deixá-la sozinha com a culpa que virá depois o demônio dos sentimentos for embora, mas não consigo. É como se meu corpo tivesse um fio que me levasse a ela.

Nenhum dos dois disse nada até então.

Estudo seu quarto, sentindo o aroma dos seus cabelos, mas enrijeço no momento em que sua mão toca suavemente a minha.

– O que está fazendo? – pergunto, assustado.

Mas então ela sorri.

E o sorriso dela... Por todos os deuses, o sorriso de Louise consegue me deixar de joelhos.

– Só estou vendo seus anéis, oh, demônio das trevas. Não vou apunhalá-lo com uma adaga, não se preocupe.

Sem perceber, meus lábios também se repuxam. Louise espia o anel dourado em formato de V no meu dedo do meio, mas se interrompe quando vê o dedo indicador vazio, erguendo os olhos, como se estivesse tendo uma lembrança.

Em silêncio, ela se levanta da cama e recolhe seu robe do chão, cobrindo seu corpo com o tecido de seda, antes de caminhar até sua cômoda. Abro a boca para perguntar o que está fazendo outra vez, mas paraliso quando reparo no objeto que ela tira da gaveta.

Meu anel.

Um deles, na verdade.

Louise anda de volta até a cama e se senta no colchão, me estendendo o anel Flammae.

– Você deixou na sala no dia em que voltamos da conversa com a esfinge – ela avisa, ainda segurando o objeto dourado, e eu observo os traços da coroa em chamas nele por um segundo antes de fazer que não com a cabeça.

– Pode ficar com ele.

No mesmo instante, seus olhos se franzem.

– Mas é seu, por que eu ficaria com ele?

Seguro seus punhos e arrasto seu corpo de volta para cima do meu, arrancando um leve ofego da sua boca. Tomo o anel da sua mão e o ponho no seu dedo indicador.

– Apenas fique com ele.

Mesmo querendo protestar, Louise assente e descansa a cabeça sobre meu peito novamente, causando algo incomum em mim.

Eu realmente devia ir embora. Estar assim com uma humana não deve ser apropriado para o diabo. Porque eu sou perverso, desprezível, e ela é uma humana sem maldade alguma.

Ainda assim, eu fico.

Minutos se passam, talvez horas, e nós continuamos sem dizer uma palavra sequer. Até Louise se levantar novamente do meu peito.

– O que são essas duas marcas nas suas costas?

– O quê?

Ela ergue a mão, contornando meu ombro, e toca um dos pontos sensíveis da minha pele. Não consigo evitar de cerrar os olhos nesse momento.

– Ah, me desculpa. Isso dói? – ela pergunta, afastando a mão bruscamente. – Me desculpa mesmo, eu não sabia que sentia dor...

– Eu não sinto – admito, contraindo os ombros e me escorando na cabeceira da cama. – É só que... é um ponto bem sensível.

Confusa, Louise afasta alguns fios dos seus cabelos lisos, os levanto até sua orelha.

– Por que é sensível?

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora