· 13 · Confissão Improvável

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– Preciso de ajuda – Emily puxou Cedrico para um canto vazio onde poderiam conversar com privacidade. – Como foi que você soube?

– Sobre?

– A garota... Como soube que gostava dela?

– Por quê? – ele perguntou bastante interessado no rumo da conversa. – Não me diga que...

Cedrico arregalou os olhos e tapou a boca com as mãos ao perceber o desespero no rosto da amiga, que olhava para os lados com medo de ser ouvida por mais alguém.

– Estou confusa. – ela tentou convencê-lo e à si mesma. – É só isso.

– E por quem, você "está confusa"? – ele fez as aspas com os dedos discretamente e riu.

– Não ria, Cedrico. É uma tragédia! – disse aflita.

– Certo, vamos tentar voltar um pouco. Pense se gosta de alguma coisa nele, algo que chame sua atenção.

– Bom... Gosto de estar com ele. De nossas conversas, mesmo com todas as piadinhas e provocações. Ele é um cara engraçado e – ela corou. – não posso negar que é bonito.

– Já é um começo. Mais alguma coisa? – Cedrico incentivou.

– Ele me irrita. Profundamente! – ela fechou cara e cruzou os braços. – Me irrita mais do que qualquer outro, quase como se soubesse disso. – Emily mordeu a unha do polegar direito e depois estralou os dedos como se tivesse solucionado um caso dificil. – Foi aquela maldita poção! Deve ter me afetado.

– Que poção? Hoje só preparamos Amortentia... AH! – ele reprimiu sua expressão ardilosa, mordendo o labio inferior para conter o sorriso que ameaçou escapar de novo.

– Eu deveria ter percebido. – ela desviou os olhos e desatou a falar como se o garoto nem estivesse mais ali.

– Quem é, afinal?

– Esqueça, vou me deitar. Se for um efeito colateral por ter ficado naquela sala fechada cheirando a vapores de poção, amanhã já vai ter passado. – e foi para a cama sem se despedir, batendo os pés irritada e abandonando-o cheio de perguntas.

Mas no dia seguinte ainda pensava sobre o assunto e bem mais do que gostaria. Passou o dia sem falar com ninguém, ignorando tudo e todos e remoendo os próprios pensamentos. Não quis ver nenhum dos garotos por uma semana inteira. Nas aulas de Poções, lançava olhares cheios de frieza para Lee, como se o culpasse por tê-los apresentado. Quando se encontrava com os gêmeos, resmungava com raiva e respondia-lhes secamente.

E as coisas ficaram ainda piores depois de passado algum tempo. Agora evitava-os como ervas daninhas. Voltou a tolerar a presença de Jordan e emprestar-lhe anotações, mas a mera menção aos irmãos Weasley tornava-a arisca. Ninguém entendia o que estava acontecendo, ou o que tinham feito.

Mas em um dia qualquer, algo inesperado aconteceu. Ela voltou a agir normalmente. De alguma forma, fez as pazes consigo mesma e começou a fingir que nada havia mudado dentro dela. Se estava ignorando, havia superado, ou aceitado aqueles sentimentos... Isso era um mistério.

– E então? – ele questionou.

– Então o quê? – Emily disse voltando a prestar atenção no que diziam.

– O baile. Perguntei se vai ao baile. – George repetiu.

– Acho que não. Quero passar o Natal em casa. – ela deu de ombros. – Tenho aula. Vejo vocês por aí.

Ela despediu-se deles e compareceu aos cansativos quarenta e cinco minutos de Runas Antigas, seguidos por Adivinhação. A professora Trelawney estava especialmente inspirada pelas aspirações adolescentes e não fez premonições à nenhum de seu alunos.

Ninguém quer ser vítima de infortúnios antes de um baile.

Ao fim do jantar, Cedrico tentou convencer Emily a permanecer na escola para o feriado, assegurando-a de que, se o problema era o medo de não conseguir um par, ele resolveria a questão. A fala deixou-a tão ofendida, que só voltou a falar com ele no dia seguinte após o almoço, quando este pediu desculpas pela milésima vez, alegando ter sido infeliz na escolha de palavras.

A última semana do trimestre trouxe os mais variados boatos sobre os preparativos para a festa. A maioria dos alunos já tinha arranjado pares ou ao menos criado coragem para tentar convidar alguém.

– E aí, já tem um par? – Cedrico questionou assim que Emily sentou-se para comer.

– Ela vai ao baile? Achei que não gostasse desse tipo de coisa. – Anabel comentou. Nas últimas semanas, ela e Cedrico tinham voltado a se falar. Emily fazia o possível para aturar as alfinetadas constantes.

– Não. – ela ignorou o comentário e respondeu-o de mau humor.

– Hum... Mas tive a impressão de que alguns caras tinham te convidado. Não falou com Montague no intervalo de ontem?

– Eles convidaram. – sem muito interesse, ela afastou o garfo da comida que esfriava no prato. – Eu recusei.

– Enlouqueceu. – Anabel disse baixinho e revirou os olhos.

– Algum problema? – Emily questionou, mas a garota negou com uma expressão cínica no rosto.

– E você Anabel, com quem vai? – Cedrico provocou.

– Cormac. – ela jogou uma mecha de cabelo para trás, como se estivesse se gabando.

– Cormac McLaggen? Aquele garoto é um idiota. – Emily inclinou-se para frente para poder vê-la melhor, já que Cedrico estava sentado entre as duas.

– Como se seus novos amigos fossem muito melhores. – Anabel fez o mesmo.

– Me desculpe, acho que não entendi o que quis dizer.

– São delinquentes.

– Mas são companhias melhores. Cormac é um babaca tedioso e você sabe disso. – Cedrico olhava de uma para a outra sem saber como interferir.

– Se me lembro bem, você não gostava deles meses atrás. Só está com inveja por que um garoto bonito me convidou para o baile. – Emily afastou o próprio prato e soltou uma exclamação de incredulidade, conforme Anabel falava. – Continue torcendo, quem sabe um deles fique com pena e convide você!

– Pois bem, eu preferiria mil vezes ir ao baile com um Weasley a aceitar o convite de alguém como Cormac. – ela bateu as mãos na mesa e levantou-se. – E quer saber? No fim das contas, ainda teria um par muito mais bonito e interessante em comparação ao seu.

Mas quando virou-se para deixar o Salão Principal deu de cara com Lee, na mesa da Grifinória, assistindo à discussão. Ele sorria como se achasse aquilo a coisa mais divertida do mundo e Emily quis aparatar dali o mais rápido possível (mas não poderia, como bem informado em Hogwarts: uma história). Ficou com as bochechas vermelhas como um tomate antes de conseguir sair correndo, batendo a ponta dos dedos nos lábios, repreendendo-se por falar sem pensar.

O intervalo acabou e ela continuou a encarar o teto, recusando-se a deixar o dormitório. Estava encolhida na cabeceira da cama, abraçando os joelhos e mordendo as unhas.

Talvez não fosse tão tarde para fazer as malas.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora