· 71 · Estranhos

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Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição. Sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem, e sete dias são mais do que suficientes para outros.”

Jane Austen (Razão e Sensibilidade)


Fred se preparava para fazer a primeira pergunta. Queria começar leve, dar à ela a falsa sensação de segurança. Quanto mais confiante a garota estivesse, maior o descuido com o que poderia acabar revelando. Não estava preocupado, já havia garantido seu prêmio no momento em que Emily aceitou a aposta.

Uma mente mais cautelosa certamente teria percebido a malícia naquela proposta tão capciosa. Respondendo à todas as perguntas, Fred conseguiria coletar informações e recusando alguma delas, o ruivo encontraria um ponto fraco. A tranquilidade do rapaz residia justamente no fato de que iria sair vencendo, qualquer que fosse o resultado.

– Podemos começar? – ele questionou com os olhos fixos na garota, como um predador prestes a abocanhar a presa.

– Deveríamos estabelecer uma regra antes. – ela sugeriu, descansando as maçãs do rosto no dorso das mãos apoiadas sobre a mesa. – Cinco perguntas.

– Não pode fazer isso. – Fred abandonou sua pose descontraída na cadeira.

– Me parece justo, no entanto. – George interferiu quando o irmão lançou-lhe olhares sugestivos em meio à indignação.

– Pensei que seria um mero espectador, George. – disse entredentes.

– Não faça essa cara... Estou te ajudando, Weasley. – ela usou um tom doce extremamente falso. – Assim você pode pular o papo furado e ir direto ao ponto. Pode esquecer trivialidades e restringir sua curiosidade e desconfiança ao que realmente interessa. Cinco perguntas serão mais do que suficientes.

– Está definido, então? Cinco perguntas? – George apoiou e o outro estalou a língua frustrado.

Fred enrijeceu a postura contra o apoio da cadeira, cruzando os braços na altura do peito. Precisava pensar, não poderia desperdiçar a oportunidade com tolices.

Emily suspirou, esvaziando o copo mais uma vez. Não achou que encontrar uma pergunta seria uma tarefa tão difícil para a geniosa mente de Fred Gideon Weasley, mas aparentemente, estava enganada.

– Certo, já sei – ele abriu um sorrisinho perigoso. – Nos conte sobre você e Atlas.

– Isso não me parece uma pergunta. – ela provocou-o.

Argh! – o ruivo revirou os olhos e balançou a cabeça. – Que tipo de relacionamento vocês dois tinham?

– Éramos melhores amigos de infância... Ou pelo menos, foi nisso que acreditei por algum tempo. – Emily brincou com os anéis na mão para se distrair dos pensamentos. Ainda estava magoada. – Acontece que ele mentiu sobre tanta coisa, que não sei até que ponto posso considerar a amizade dele como algo real. Talvez até os bons momentos tenham sido parte dos planos sórdidos dele.

– Só isso? Eu estava contando com um pouco mais de detalhes sobre o tempo que passaram juntos. – Fred disse apanhando o próprio copo e levando aos lábios.

– Ele me beijou uma vez – ela disparou com deboche. Fred quase engasgou com a bebida e George riu, olhando de um para o outro. – Acha que esse detalhe é o suficiente ou precisa de mais?

– Não era bem o que eu... – ele balançou a cabeça. – Estava me referindo à atividade das trevas. – limpou os lábios na manga da blusa e lançou um olhar sisudo para George, que agora reprimia o riso com a mão sobre a boca.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora