· 78 · Inimigos Naturais

301 27 121
                                    

Na manhã seguinte, o sol ergueu-se educadamente no céu com uma aparência tão bela que até as nuvens se retiraram para deixá-lo refulgir. O vento quase assoviava melodias, avançando contra as folhas das árvores na expectativa de entrar em harmonia com o canto dos os pássaros empoleirados ali. Foi como se a tristeza, a mágoa e o desespero houvessem encontrado, diante do trajeto que levava à propriedade do chalé, uma fronteira natural intransponível... Ao menos por um dia.

Emily deitou-se de costas na cama e cobriu a cabeça com um dos travesseiros, arrependida por ter se permitido ficar acordada até tarde da madrugada com George, em uma interminável sequência de jogos e conversas. Isso, sem mencionar a garrafa quase vazia de Whisky de fogo, escondida no armário da cozinha atrás de louças de porcelana que ninguém jamais utilizaria.

Ela pressionou as mãos nas têmporas. Uma terrível dor de cabeça corrompia seus pensamentos com um sentimento pulsante de reprovação e seus lábios, pálidos e secos, murmuraram algo ininteligível para qualquer pessoa que não fosse ela. Forçou metade do corpo para fora da cama e seus pés foram de encontro ao frio chão de madeira, causando-lhe arrepios na espinha. Recuperando-se do primeiro impacto, tentou novamente, levantando-se com nada além de força de vontade e vergonha.

Um banho frio a salvaria.

Alguns minutos depois, ao sair do chuveiro, ouviu o barulho de talheres na cozinha e parabenizou mentalmente George por sua iniciativa de se levantar cedo para preparar o café da manhã. As batidas em sua porta que vieram logo em seguida, indicavam a presença de um segundo hóspede pois, logicamente, alguém deveria estar na cozinha.

– Bom dia, Texugo do Mel! Pronta para chutar a bunda desses leões? – Anabel saltitou pelo quarto e se jogou na cama. Sua camiseta era amarela e preta e ela havia desenhado duas listras nas bochechas com as mesmas cores.

– Do que você está falando, garota? – Emily riu, expulsando-a da cama e alinhando os lençóis e travesseiros corretamente.

– Quadribol, é claro! Lembre-se de que temos texugos e leões morando sob o mesmo teto e está mais do que na hora de termos um pequeno confronto por territoriedade. Então... Preparada? – o entusiasmo em seus olhos era feito de pura alegria e expectativa.

– Bem, Srta. Texugo, receio que você deva esquecer um pouco a partida e se preocupar com sua torta de limão queimando lá embaixo. Posso sentir o cheiro daqui. – Emily colocou dois dedos nas laterais do nariz da amiga e o sacudiu levemente, antes de sair do quarto.

– Torta de limão? Não estou assando nenhuma torta de limão. – disse ela, seguindo-a até o andar de baixo. – Ah, entendi... Deve estar funcionando. Esses dois malucos de merda. Merlin nos ajude! – Anabel balançou a cabeça e revirou os olhos. Ela pulou o último lance de escadas antes de Emily e se inclinou contra o braço do sofá, chamando a atenção de Lee Jordan e apontando para a cozinha, do outro lado. – Você não vai querer perder isso, Lee.

A cena com a qual Emily se deparou ao descer as escadas e adentrar a cozinha, não poderia ser descrita por outro adjetivo, senão... Peculiar. Enquanto Verity recitava as instruções de um livro, George e Atlas se acotovelavam no pequeno espaço disponível, despejando fraquinhos de ingredientes dentro de um caldeirão cujo líquido começara a borbulhar.

– E agora vamos... Ah! Bom dia, Atria! – Verity cumprimentou sorridente, largando o livro sobre o balcão mais próximo. Os outros dois ergueram as cabeças, afastaram-se do vapor que começava a subir em espirais e igualmente acenaram para a garota.

– Não me digam que isso é o que eu acho que é. – ela pediu, espiando para conferir. Sentiu o aroma de limão e pólvora impregnado ao redor deles.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora