· 41 · Atenção, Atenção! Jogador Abatido!

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Anabel tinha olheiras fundas e marcadas, como as de alguém que não dorme há dias. Vinha lutando contra o cansaço constante, porque este ainda era inferior ao medo de adormecer e ter que reencontrar justamente aquilo a que se dedicava a impedir. Era doloroso presenciar, dia após dia, a cena de um futuro que tanto assombrava-a.

Achou que poderia evitar, se nenhum deles soubesse o que os aguardava... Se estivessem distantes um do outro, então talvez tivessem uma chance de burlar as regras traçadas pelo destino. Mas todos os seus esforços agora pareciam inúteis, levando ao mesmo fim inevitável no alto daquele campo aberto, em meio à escuridão de uma noite sombria.

– Cinco minutos atrás eu nem sequer sabia quem eram essas pessoas... Como pode achar que vou me tornar um deles? – Emily perguntou. – Você me conhece muito bem. Pareço o tipo de pessoa que seguiria os ideais deles?

– Só estou contando exatamente o que vi. Além disso, deve se lembrar daquela noite em que enfrentamos um bicho-papão. Na época eu pensei que a materialização do seu medo não fosse nada demais. Agora já não estou mais tão convencida assim. – ela suspirou.

A brisa fria da noite entrava por uma janela entreaberta do cômodo. Ninguém se dera ao trabalho de prestar atenção nas chamas da lareira apagando-se. Haviam questões mais delicados a serem discutidas do que brasas perdendo força até virar cinzas.

– Não pode usar isso como argumento. Nem eu sei o que foi aquilo!

– Mas a visão...

– Não me importa o que a visão mostrou, eu quero saber se confia em mim. – Emily levantou-se, jogando a almofada para longe e batendo no peito. O gato decidira se deitar perto dos pés de Anabel, olhando-a com suas grandes órbitas esmeralda, também aguardando por uma resposta (ou petisco, talvez).

– É claro que confio! Só não posso simplesmente ignorar algo dessa proporção. A vida de outras pessoas está em risco, Emily!

– Então apenas sejamos racionais. – ela andou de um lado para outro. – Que motivação eu teria? Que utilidade? Você-sabe-quem aceitaria uma nascida-trouxa entre seus Comensais puro-sangue?

– Acha que estou inventando.

– Não, mas acho que pode ter se enganado. E até que seja provado o contrário, prefiro esquecer essa história.

– E vai continuar a vê-lo? Quer mesmo arriscar colocá-lo em perigo? – Anabel disse, ciente de que se tratava de um ponto fraco para a amiga.

Emily travou o maxilar e com fúria, afastou-se. Ela parou nas escadarias que levavam ao dormitório, com a pergunta corroendo-a. Não tinha certeza sobre a precisão das visões, mas era a única responsável por suas escolhas. Enquanto estivesse no controle destas, jamais machucaria ninguém.

– Vou.

– Se as coisas saírem do controle, você vai se tornar perigosa para todos ao seu redor.

– Não se preocupe. Eu não vou.

– Confio em você, Emily. Arriscaria meu pescoço por você, porque sei exatamente o tipo de pessoa que é... Só não espere que outros façam o mesmo.

– Se confia tanto em mim, por que tentou nos afastar?

– Porque confio em você, mas não nas circunstâncias. Achei que a maneira mais fácil de evitar o pior, seria te mantendo longe de tudo o que tivesse relação com a minha visão.

– Vou me deitar. – Emily baixou a cabeça e fechou os olhos, tentando se recompor. – Deveria tentar fazer o mesmo.

Os dias seguintes foram caóticos, como se estivesse andando numa corda bamba prestes a se romper. Emily agia como uma criminosa tentando esconder os vestígios de seu crime, embora este na realidade, ainda fosse inexistente.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora