· 31 · As Jovens Bruxas e a Conspiração

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Humpf! Alta Inquisidora?! – a quintanista em uma das poltronas do Salão Comunal esbravejou, jogando o jornal no chão com raiva. – O que é que essa velha quer, afinal?

– Péssimo sinal. – Emily disse depois de espiar a manchete à qual ela havia se referido. Esticou o braço para alcançar a folha e continuou a ler o restante da matéria. – Posso ficar com isso aqui?

– Claro. Faça como quiser, desde que tire da minha frente.

Emily trocou o Salão Comunal pelas estufas, para a aula de Herbologia. No caminho, encontrou Fred e George vendendo algumas de suas invenções para um pequeno grupo de alunos e esperou até que pudessem enfim falar a sós.

– E você? O que vai levar hoje, querida? Faço um desconto para garotas bonitas... Me avise se encontrar alguma por aí. – Fred brincou.

– O irmão de vocês está na primeira página do Profeta Diário. – ela entregou-lhes o jornal e ambos começaram a ler. – Achei que deveriam saber, já que a escola inteira vai começar a comentar em breve.

– Mamãe deve estar inconsolável, Fred – George concluiu, sem desviar sua atenção do texto.

– Aquele babaca! – Fred disse, puxando a folha para sí e amassando-a até transformá-la numa bola de papel. – Vamos George. Temos que preparar um presente bastante amigável para ele... Aposto como vai adorar recebê-lo na frente do chefe!

– Não. Vocês não vão preparar coisa alguma. – Emily impediu que ele saísse dali. – Nossa aula começará em cinco minutos. Você vem comigo.

– Acha que, de todas as coisas possíveis para se fazer agora, eu escolheria justamente envasar plantas?

– Escute aqui, Weasley – Emily posicionou as mãos na cintura. – Eu poderia te deixar meter os pés pelas mãos e te ver fazer algo estúpido, é verdade, mas seu irmão tem razão. A sua mãe já deve estar abalada o suficiente e não precisa de ninguém piorando as coisas.

Fred trocou um olhar com o gêmeo e este assentiu, infeliz. Apesar de sua natureza travessa, George sempre fora o mais complacente. Se Fred costumava ser o instigador, George sabia exatamente quando impor limites. Eram como uma balança em equilíbrio perfeito.

Fred acompanhou-a emburrado até às estufas. Nenhum deles comentou sobre o assunto, ou tocou no nome de Percy Weasley. Ela imaginou que o posicionamento controverso do bruxo estivesse criando um momento de tensão na família. Não tinha dúvidas de que os Weasley's concordavam com Dumbledore e obviamente, fariam de tudo para defender Harry Potter.

Emily teve pena da Sra. Weasley, recordando-se de quando a conhecera no verão e como pareceu-lhe uma bruxa muito amável e bondosa. A família nunca tivera muito a oferecer, mas sempre o fizera de bom grado. Eram pessoas nobres e descentes e não mereciam o tratamento que alguns lhes direcionavam.

Pensou no treino de sábado e em Malfoy. A forma como agia de nariz empinado, impondo sua riqueza e influência como se fossem troféus... Alguns realmente não nascem com as qualidades necessárias para ser um ser humano descente e passam o resto de suas vidas miseráveis tentando compensá-las com fortunas.

– Você está bem? – Emily perguntou à Fred quando estavam saindo da estufa.

– Passei a manhã inteira com as mãos metidas em bosta de dragão. O que acha? – ele respondeu extremamente mal humorado.

– Acho que está ótimo, visto que voltou a ser o trasgo ignorante de sempre. – ela esbarrou propositalmente em seu ombro e saiu pisando irritada.

Um pouquinho adiante, Anabel observava a cena.

– Não diga nada. – Emily implorou.

– Pela sua cara, não será necessário. – ela riu.

– Foi uma exceção. Garanto que não vai me ver falando com eles.

Nas duas semanas que se seguiram, Emily dividiu seu tempo entre estudos e treinos de Quadribol. Estava animada por fazer parte da equipe e por conhecer pessoas novas. Sentava-se com os outros jogadores durante as refeições, conversava com alguns deles após as aulas e de certa forma estava começando a tornar-se popular entre os demais colegas da Casa. Fato que ela achou ter passado despercebido por Lee, Fred e George, concentrados apenas em suas vendas e produtos.

Em um dia qualquer, foi procurada por Hermione. A garota não deu muitos detalhes, apenas convidou-a para uma reunião no Cabeça de Javali, a fim de tratar de assuntos de extrema importância. Adiantou-lhe apenas que Harry estava envolvido.

– E então? Nós vamos, certo? – Emily questionou ansiosamente à Anabel, quando estavam sozinhas no dormitório.

– Desculpe-me... Mas é que isso me machuca demais. – Anabel desabafou, com evidente amargura. – Sabe o que penso todas as vezes que vejo-o pelos corredores? É como reviver aquela noite. Vejo-o chorando sobre o corpo do meu melhor amigo. Vejo Cedrico entrando naquele labirinto pra morrer. Vejo minha melhor amiga sofrendo... Quantos de nós ainda terão que se sacrificar seguindo o instinto de bravura dele? Mas não importa para aqueles três... Estão todos vivos e juntos.

– Sabe que eles não têm culpa. Reagir assim não vai punir os verdadeiros culpados. Não vai trazer Cedrico de volta.

– Eu sei! Mas não é estranho que Harry tenha sido a última pessoa a vê-lo com vida e não tocou no assunto desde que aconteceu? Ele nunca consolou os melhores amigos de Cedrico, simplesmente nos deixou sem respostas! Que garantia temos de que o próprio Harry, talvez controlado por forças das trevas, não atacou-o? – Anabel ergueu a voz e sentou-se na cama. Estava tentando manter-se calma, mas já havia se exaltado demais. Ela respirou fundo antes de conseguir prosseguir. – Você acha que conhece as pessoas, acha que pode acreditar nelas e depois vê que o mal estava bem diante dos seus olhos...

– O que quer dizer com isso? Não confia em Harry Potter? Não acredita nele? – Emily questionou impaciente e cruzou os braços.

– Não, não é isso! Eu apenas não sei o que deveria pensar... Já perdi Cedrico e não gostaria de assistir a minha melhor amiga seguir pelo mesmo caminho. É doloroso demais.

Emily sentou-se ao lado dela e passou o braço por suas costas, apoiando a cabeça em seu ombro. Anabel importava-se demais com os amigos e a morte de Cedrico havia causado-lhe um abalo profundo.

– O que posso fazer por você? – Emily perguntou. – Para que você fique em paz.

– Não vá. – ela pediu. – Mantenha-se longe de tudo o que estiver relacionado à Harry Potter, Comensais, Artes das Trevas... – Anabel afastou-se e Emily ergueu-se, olhando-a seriamente. – Será que não podemos ser apenas bruxas adolescentes normais? Sem correr riscos, nos preocupando apenas com placares de partidas e prazos de entrega de trabalhos... Não podemos fazer isso?

Emily pensou um pouco e deu-lhe um sorriso melancólico.

– É claro que podemos.

O primeiro fim de semana de Outubro significava também a chegada da primeira visita à Hogsmead. O dia amanheceu claro, mas ventoso. As ruas do vilarejo se encheram de grupos de jovens saindo e entrando das lojas, carregando sacolas consigo. Emily por sua vez, estava conversando com Erick Cadwallader, William Summerby, Justino Finch-Fletchley e Zacharias Smith.

– Olá pessoal. – Gina Weasley cumprimentou-os. – Emily!

– Oi Gina, tudo bem?

– Sim, tudo bem.... É bom te ver, já faz algum tempo desde a última vez.

Ah... Bem... Sim. – ela corou suavemente, pensando sobre o momento constrangedor na Toca dos Weasley's durante o verão.

– Se importam se eu roubar esses dois por um momento? – ela apontou para Smith e Justino.

Os outros três não se opuseram e eles saíram sem dar mais explicações. Emily teve a leve impressão de que sabia exatamente o que estavam aprontando.

Em algum lugar daquele vilarejo, nascia uma conspiração.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora