· 76 · Qualquer Caminho Serve

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A manhã seguinte, uma sexta feira opaca e desbotada, trouxe conversas tão frias quanto a brisa soprando do lado de fora, acompanhadas de um chá quentinho preparado por Anabel. A xícara de café de Emily porém, permaneceu intacta até o fim da refeição, já que a única parte faminta da garota era a curiosidade acerca do objeto que teimava em revirar.

De amargo já bastava seu humor.

A bússola de prata encarava-a de volta sem dar as respostas que tanto queria. A agulha, que deveria apontar para o norte, girava sem parar dentro do círculo a que estava confinada.

Emily seguiu o relevo dos floreios da tampa com a ponta do indicador e deitou a cabeça sobre a mesa, frustrada. Apenas seus problemas aumentavam, as soluções não acompanhavam tal ritmo. Quem sabe o constante azar fosse uma das consequências de ser uma Lestrange, perseguindo-a como uma maldição de um sangue que sequer aceitava carregar em suas veias.

– O que é que estamos encarando? – Lee disse após puxar a cadeira e igualmente apoiar a cabeça sobre a mesa.

– A minha bússola. – empurrou-a na direção dele e ambos arrumaram a postura, um de frente um para o outro. – Se tem alguma propriedade mágica, ainda não descobri qual é.

– E ainda por cima está desorientada. – ele concluiu, analisando-a minuciosamente.

– Exatamente. – afirmou desanimada, apoiando os cotovelos na superfície de madeira e fazendo bico. – Cedrico foi a última pessoa a usá-la quando ainda estava boa, na noite em que... – ela parou e baixou a cabeça, depois soprou o ar e tentou prosseguir. A morte de Cedrico sempre seria uma ferida aberta. – Enfim. Deve ter sido afetada e por isso não para de girar.

– Girar? Mas Emily, a agulha está parada. – Lee disse. A jovem arqueou as sobrancelhas e levantou-se, deu a volta na mesa e parou ao lado dele. – Viu? O norte fica para lá. – Jordan apontou para a porta da cozinha. A agulha por sua vez, para o jardim. – Fui comentarista das partidas de Quadribol em Hogwarts por anos. Aprender a me situar no espaço é um hábito difícil de abandonar. Sua bússola até pode estar com algum problema na orientação, mas a agulha continua parada.

– Que maluquice é essa agora? – murmurou de maneira retórica ao constatar que o garoto estava certo. – Deixe-me testar algo, Lee. – Emily estendeu a mão e ele depositou o objeto sobre esta. Mal tinha encostado em sua pele quando novamente começou a rodopiar. – O que diabos está acontecendo com essa coisa?

– Deveria esperar por Atlas – ele sugeriu. – Você sabe... Só para o caso de ter algum resquício de arte das trevas. O cara até pode ser meio suspeito, mas é a especialidade dele. – os dois ouviram a porta da frente ranger e o rapaz virou-se na cadeira para falar com Anabel, que havia acabado de voltar com flores para adornar os vasos de cerâmica dos cômodos.

– Eles chegaram. Estão te esperando lá fora. – Anabel avisou e a amiga assentiu, enfiando a bússola no bolso e caminhando até a porta. A mais velha deteve-a, segurando-a pelo pulso. – Já conferi a identidade deles, mas por favor tome cuidado.

Emily deu-lhe um sorriso complacente e deixou o Chalé. Atlas e Verity aguardavam no jardim, conversando tranquilamente. Era definitivamente incomum ver Atlas tão sorridente e de bom humor perto de outra pessoa.

– Bom dia, Emily! – ele saudou ao notar a presença dela. – Ia sugerir um passeio, mas o dia está horrível. – indicou o céu nublado com a cabeça. – Vamos entrar?

– Na verdade, aceito a sugestão do passeio. – disse espiando a janela da cozinha por cima do ombro, na qual Anabel e Lee trocavam empurrões e se espremiam para tentar vê-los. Seria melhor conversar longe de olhares curiosos.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora