· 60 · Trevas

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Eu já vou até antecipar meu pedido de desculpas.

— · —

Em um dos cômodos da velha Torre, caldeirões borbulhavam incessantemente. Ali, poções eram preparadas, testadas e embaladas secretamente, com o primor necessário para tal.

De todos os campos da magia nos quais Atlas havia se aventurado, o preparo de poções era o de seu maior domínio, graças ao talento natural e ensinamentos de Severo Snape. Desde a escolha de ingredientes até a identificação de antídotos, não havia uma etapa que o rapaz não pudesse executar com maestria.

Naquela manhã de maio, acordara de extremo bom humor. Deixou a Torre bem cedo e aparatou no Beco Diagonal, carregando uma caixa cheia de produtos para a loja de logros dos gêmeos Weasley.

Atlas mantinha planos sórdidos e segredos. Um deles, ao qual vinha se dedicando desde o natal, consistia em colocar os gêmeos sob uma espécie de vigilância. Fora um pedido de Narcisa Malfoy, após a revelação de Draco durante o jantar. A mulher odiava pontas soltas e, apesar de parecer inofensiva, sabia muito bem como se livrar de contratempos.

Considerava a dissimulação uma de suas maiores qualidades.

Após o treino daquela tarde porém, ver a garota naquele estado fez com que Atlas questionasse todos os seus esforços. A essência de Ditamno resolveria os ferimentos externos, pequenos cortes e arranhões, mas seria ineficaz nas feridas abertas internamente. Estas sim, sangrariam até cicatrizar... Se é que iriam.

Na manhã seguinte quando despertou, Emily recobrou os sentidos lentamente. Os acontecimentos lhe pareciam um sonho distorcido e sua cabeça doía, pesando uma tonelada. Talvez por culpa da ressaca moral que começava a consumi-la por inteiro.

Apanhou um vidrinho e cheirou-o, reconhecndo o aroma da essência de Ditamno. Tateou os braços, apreciando os cortes curados e limpos, sem o menor vestígio de sangue.

Atlas estava debruçado sobre a lateral da cama. Dormia profundamente, sentado na cadeira com o tronco curvado sobre o lençol, de modo a ocupar o mínimo possível de espaço. Os braços sustentavam a cabeça como um desconfortável travesseiro e cobriam parte de seu rosto evidentemente cansado. Emily olhou ao redor, encontrando o cômodo organizado como antes.

– Atlas? Atlas, acorde. – chamou-o, cutucando seu braço.

Ele levantou a cabeça e esfregou os olhos, aéreo. Depois coçou a bochecha e preguiçosamente puxou o relógio de bolso.

– Feliz aniversário, pirralha. – Atlas espreguiçou-se na cadeira e sentiu a coluna demonstrar as primeiras consequências de um cochilo naquela desconfortável posição.

– Não é meu aniversário. – ela riu incrédula, mas subitamente ficou séria. – Que dia é hoje? – buscou inutilmente por um calendário preso nas paredes desbotadas, mas não havia nenhum à vista.

– Trinta de maio.

– O quê?!

– Trinta de maio – repetiu. – Parabéns!

Ela assentiu atônita. Ainda que muito tempo tenha se passado desde que chegaram ali, os passeios pelos corredores do castelo pareciam tão recentes, tão vívidos...

– Já que é uma data importante – Atlas emendou, tirando-a da viagem que fazia por tempos, momentos e lugares aos quais não pertenceria nunca mais. – Decidi que, contrariando minha razão, vou deixar que visite alguém especial.

– Está falando sério? Não tem graça, Atlas.

– Vamos ter que modificar a memória deles depois para garantir que não te procurem e Bellatrix não pode saber que fizemos isso de jeito nenhum. No geral, é a ideia. Não quer ver sua família?

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora