· 20 · Data Infame Para Promessas

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– Pensei que os outros também estariam aqui. – Emily disse.

Seu primeiro instinto fora fugir, mas Fred pediu que ficasse para ouvir o que tinha a dizer. Os dois estavam sozinhos perto da fonte, no centro do Pátio do Relógio.

– Eu achei que seria melhor conversarmos à sós, já que fui eu quem te disse aquelas coisas. – ele explicou-se.

– Lee me disse...

– Eu sei. – Fred interrompeu. – Eu pedi à ele que te convencesse a vir. – ela deu-lhe uma sutil exclamação irônica – Teria vindo se eu te dissesse que queria conversar? Teria me deixado falar com você?

– É claro. – ela mentiu. Ambos sabiam que não era verdade.

– Quando tentei da última vez, você me deixou plantado naquele corredor com cara de idiota, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

– Me chamou aqui pra discutir ou resolver o problema? – ela questionou. – Se for a segunda opção, é melhor começar logo. Tive um dia muito longo e estressante e sei que ainda vai piorar, então se puder, por favor...

– Está chorando? – ele deu dois passos à frente e percebendo seu gesto involuntário, recuou. Ela levou a ponta dos dedos ao rosto, tocando as tais lágrimas. – O que aconteceu?

Era estranho. Não se importava o suficiente com Francis, não tinha sentimentos por ele, não considerava-o como nada além de um amigo.

Nem sequer estava triste. O mais perto que poderia chegar de uma descrição para seu estado emocional, era decepcionada. Então qual o problema?

– Não é nada. – ela puxou a manga das vestes e enxugou o rosto.

– Eu entendo que não queira me dizer. George me contou o quanto demostrou estar magoada comigo quando se falaram da última vez. – Fred colocou as mãos nos bolsos. – Te chamei aqui porque quero me desculpar.

– Não será necessário.

– Como?

– Tinha razão sobre Harrington, Weasley. – Emily evidenciou seu desgosto ao falar. – Vamos, pode dizer: Eu te avisei! – ela adicionou sarcasmo ao tom e Fred arqueou as sobrancelhas. – Aposto que está morrendo de vontade, então vá em frente.

– É por isso que está chorando? Caramba! Você gosta dele? – disse incrédulo. Ela grunhiu e tentou ir embora, mas Fred deu um passo para o lado e segurou seu braço com delicadeza. – Espera, por favor. – o olhar dela repousou sob onde estava sua mão e ele soltou-a imediatamente. A garota continuou a fitá-lo. – Me desculpe. Não sei o que aconteceu entre vocês, mas realmente sinto muito. Eu não deveria ter dito aquelas coisas.

– Tudo bem. Você tinha razão, não precisa se desculpar.

– Emily, o que quer que Harrington tenha dito ou feito, não justifica o que eu disse e fiz. E preciso que você entenda isso, porque não quero que pense em mim como mais um babaca que te machucou. – Fred nunca lhe parecera tão sério antes. – Eu sinto muito. Genuinamente.

– Nesse caso, aceito suas desculpas. – ela soltou um muxoxo desanimado, chegando à uma conclusão. – Às vezes parece que estou descontando minhas frustrações nas pessoas erradas. E você é meu saco de pancadas favorito, Weasley.

– Já é alguma coisa. Melhor que o tratamento de silêncio, eu acho. – eles riram.

– Se não se importa, já vou indo. Tenho que resolver umas questões. – ela deu um sorriso fraco e começou a se afastar, mas vacilou por um instante para frente e para trás, tentando ganhar coragem. – Ah, sim... Quase me esqueci. – pegando-o desprevenido, ficou na ponta dos pés e depositou um beijo suave na bochecha dele. – Não acho que seja um babaca, Weasley. Feliz aniversário.

Ela saiu sem olhar pra trás. Fred permaneceu congelado no mesmo lugar com a mão sobre a bochecha e um olhar abobado.

Na sala comunal, Cedrico estava sentado em uma almofada no chão, cercado de pergaminhos rasurados. Ela abraçou-o por trás e o garoto virou o rosto surpreso. De todas as pessoas, ele parecia ser o único em que podia confiar tranquilamente. Tinha a certeza de que Cedrico jamais seria capaz de fazer algo que pudesse machucá-la.

– O que você quer? – ele perguntou admirado com o gesto repentino.

– É só o meu sincero agradecimento – ela sentou-se na frente dele e notou como o garoto tinha esse brilho nos olhos constante.

Se os olhos são o espelho da alma, a de Cedrico definitivamente era muito preciosa, pura e bonita.

– Obrigada por ser a melhor pessoa que eu já conheci, Diggy.

– Você é tão esquisita... Primeiro me procura com uma cara péssima e agora aparece agindo assim. Está doente por acaso?

– Não. – ela balançou a cabeça. – Simplesmente percebi que preciso fazer as coisas melhorarem daqui pra frente. Você vai ver.

– Certo. E como exatamente vai ser isso?

– Primeiro, você vai ganhar aquele torneio e quando finalmente estiver livre, vai me ajudar a sair da minha zona de conforto. – ele riu com a empolgação dela. – Vai me visitar nas férias de verão e me ajudar a treinar para os testes do time. Vai me apresentar à pessoas novas e eu prometo me esforçar pra conhecê-las. – ela levantou o dedo mindinho e puxou a mão dele, entrelaçando-o ao dele. – É uma promessa de dedinho.

– Que é isso? – ele riu com o gesto.

– Nunca fez uma promessa de dedinho? – ela separou suas mãos e Cedrico negou. – Acho que deve ser um costume trouxa, então. – ela abanou o ar como se afastasse o que dizia para longe. – Esqueça, não tem importância. O fato é que vou cumprir com o que estou dizendo. Todas essas metas.

– Sabe Emily, não é que eu não acredite...

– Mas? – instigou-o a prosseguir.

– Você escolheu o dia errado para fazer promessas. – ele levantou-se e beijou o topo da cabeça dela.

– Como assim? – Cedrico apontou para um dos pergaminhos rasurados ao lado dela.

Emily puxou-o para si e procurou a data. Pegou a almofada mais próxima e tentou acertá-lo, mas o garoto desviou. Ela se levantou depressa e os dois começaram a correr pelo Salão Comunal, se revezando entre disparar almofadas e esquivar-se delas.

Acima de todas as anotações, bem discretamente perto do título, a caligrafia de Cedrico informava o dia, mês e ano em que estavam.

Era 1° de abril de 1995.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora