· 38 · Além do Castelo na Colina

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– O que foi aquilo? – Fred correu para alcançá-la antes que pudesse chegar à trilha que levava ao castelo.

Emily respirou fundo. Era o momento de ser sincera consigo mesma sobre o que sentia.

Gostava dele, embora estivesse tentando negar e agir como se pudesse evitar tais sentimentos há pelo menos um ano. Qual o problema de se arriscar a dizer a verdade de uma vez por todas?

Não se manda no coração e isso, Anabel iria ter que entender.

– Eu realmente disse aquilo, só que nunca foi para o George. – ela recuou e virou-se para Fred. – Realmente não percebeu que era tudo sobre você, o tempo inteiro?

Um calafrio percorreu o corpo de Fred e ele ficou estático. Não conseguia parar de fitá-la como se fosse uma jóia preciosa. Já Emily por sua vez, estava ansiosa e inquieta.

– Fred Weasley, quantas vezes ainda vou ter que te dizer que odeio quando fica em silêncio?

Sem pensar em mais nada, ele rompeu a distância e avançou até ela. Naquele momento, Emily era a única coisa existente no mundo inteiro, a única coisa que realmente importava.

Ele segurou seu rosto com delicadeza e colou seus lábios, ao que ela docemente correspondeu. Dessa vez, o ruivo estava muito mais feliz por ter a certeza de que sim, sempre fora ele, quem Emily queria que estivesse ali beijando-a.

Foi intenso e apaixonado. A primeira vez fora de fato especial, mas agora, contavam com todos os sentimentos de ambos, mesclando-se em um só.

– Não prometeu ficar longe de idiotas esse ano? – Fred perguntou, abraçando-a pela cintura e afastando uma das mechas do cabelo dela para ver seus olhos perfeitamente. Ele amava perder-se no olhar dela.

– Ainda posso manter minha palavra, se quiser. – Emily disse dando alguns passos para trás, soltando-se do abraço dele.

– Não se atreva. Esperei muito por isso. – ele puxou-a de volta para si e beijou-a novamente. Os dois riram, abraçados. Ela deitou a cabeça em seu peito e Fred acariciou seus cabelos.

Emily estava leve, de uma maneira que não sentia-se há tempos. Estar com Fred era sempre bom, porque ambos pareciam viver uma realidade paralela, avulsos a quaisquer problemas com os quais estivessem lidando. Quando estavam juntos, apenas os dois existiam... E existiam um para o outro.

– Não precisamos voltar para o castelo agora. Podemos dar umas voltas por aí, se quiser. – ele propôs. – Está me devendo um encontro na Casa de Chá da Madame Puddifoot desde o ano passado.

– Está me convidando para um encontro de verdade dessa vez, Fred? – ela instigou.

– Estou. – ele sorriu de lado e segurou a mão dela.

A chuva tinha dado lugar à brisa fresca e um céu limpo, mas as ruas ainda estavam molhadas.

– Posso perguntar uma coisa? – Emily indagou assim que saíram de uma breve passada pela Dedos de Mel. Fred assentiu. – Por que agora? Por que essa mudança repentina?

– É engraçado assumir isso, mas não é nada repentino. Pouco antes do Natal, George e eu tivemos uma conversa bastante esclarecedora. É que... Eu achei que vocês se gostassem e não queria ser um empecilho. – Fred disse, escondendo as mãos no bolso, sem graça.

– É claro que não. Nunca tive esse tipo de sentimentos por ele. – Emily riu.

– Bem, agora eu sei, não é? – ele riu e roubou-lhe um selinho.

– Mas então por que não respondeu minha carta no verão?

– Que carta? – Fred perguntou.

– Te enviei uma carta nas férias de verão, pouco depois de voltar da casa dos Diggory. Você não me respondeu. Acho que nem sequer chegou a ler. Por que estava me ignorando?

– Acredite, eu não estava. Jamais faria isso intencionalmente. – disse cabisbaixo. Fred sabia que não poderia contar à ela a verdadeira razão pela qual não recebera sua carta, porque isso também exigiria uma explicação sobre onde esteve durante o resto do verão após se encontrarem. Revelar tal informação significaria comprometer, ainda que minimamente, o endereço da Ordem. Estava fora de cogitação. – Me desculpe... É complicado. Acredita em mim se eu te disser que existe um motivo bastante razoável, mas não posso te contar?

– Não. – ela brincou. – Mas tudo bem. Posso fingir que sim.

– O que tinha na carta?

Emily sorriu, corando logo em seguida.

– Nada.

Ela se adiantou, andando mais rápido na frente com um sorriso bobo no rosto. Só parou quando chegou à rua lateral seguinte, apoiando-se à parede, tentando recuperar o fôlego.

Na pequena casa de chá completamente decorada com laços e babadinhos do outro lado da rua, Anabel estava de mãos dadas com Francis. Os dois haviam escolhido uma mesa perto da porta e agora olhavam a figura de Emily pela vitrine, enquanto Fred finalmente a alcançava e encurralava-a contra a parede, beijando seu pescoço e fazendo-lhe cócegas, numa tentativa de extrair detalhes da carta.

– Droga. – Emily disse ao notar, por cima do ombro dele, Anabel atravessando a rua até eles. – Não diga nada, Fred. Me deixe cuidar disso sozinha.

– Emily! – Anabel exclamou nervosa. – Saiu mesmo do castelo! E ainda por cima... Com ele! – olhou-o de cima a baixo com um ódio mortal. – Não vai aprender a me ouvir nunca?

– Não precisa reagir assim.

– Eu implorei para se afastar deles! – o som da sineta da porta soou e Francis apareceu atrás de Anabel logo em seguida. – Não pode ficar com ele!

– Que história é essa? – Fred disse, franzindo o cenho. Tentara manter-se calado como a garota havia pedido, mas ambos sabiam que isso não iria durar para sempre. – Desde quando é você quem decide com quem Emily pode ficar?

– Qual é, Annie... Não surta. – Francis pediu cauteloso. – Vai todo mundo ficar olhando.

– Não, já chega! Você vai voltar comigo agora mesmo e nós duas vamos conversar. – Anabel ia agarrar a mão de Emily, mas desistiu. Seus olhos desceram até a cicatriz na mão da amiga.

– Ela não vai. – Fred afastou-as imediatamente e colocou-se entre as duas garotas como uma barreira, mantendo Emily atrás de sí. 

– Vamos, Emily. – Anabel arriscou numa última tentativa. – Se vier agora, juro que vou te contar aquilo que tanto quer saber. Vou te dar um motivo para se afastar.

A jovem ficou tentada. Se seguisse a amiga, finalmente descobriria o segredo que ela queria manter consigo. Entretanto, não existia garantia alguma de que ela estivesse dizendo a verdade e cumpriria com sua promessa. Anabel estava reagindo como uma criança birrenta e Emily não sentia confiança alguma em suas palavras. 

– Não. – Fred percebeu o desconforto no olhar assustado da jovem. Ela acariciava o relevo da própria mão machucada instintivamente. – Vocês precisam se acalmar primeiro. – ele sinalizou para Francis e esperou que ele se aproximasse de Anabel, mas ele estava mais preocupado em evitar atenção do que com o estado de fragilidade da namorada. Fred voltou-se para Emily e apoiou as mãos nas laterais de seus ombros, olhando-a com ternura, tentando tranquilizá-la diante da situação. – Vamos sair daqui, pode ser?

Ela concordou. Ele afastou gentilmente a garota na direção oposta e Francis começou a discutir com Anabel. Fred passou o braço por sua cintura e guiou-a por alguns minutos até chegarem perto do castelo, numa campina em frente ao lago negro. Era fim de tarde e o sol estava prestes a se pôr.

– Eu sinto muito por te envolver nisso. – ela afastou-se visivelmente constrangida pela discussão. – Não era minha intenção acabar o dia assim.

– Gosta de assistir ao pôr do sol, não é? – ele apontou para o céu. 

– O quê? Ah... Sim. Bom, isso não importa agora. Estou tentando te dizer que...

– Você gosta de assistir ao pôr do sol, então vamos simplesmente fazer isso, por agora. – Fred virou-a para que pudesse ver a paisagem. – O restante pode esperar.

Emily calou-se. Fred esticou seu braço e envolveu-a pela cintura. Ela apoiou a cabeça em seu peito e permaneceu quieta.

Os dois admiraram o horizonte até o sol se esconder por completo nas sombras do imponente castelo.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora