· 25 · Férias de Verão

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Lá pela segunda semana das férias de verão, os pais de Cedrico enviaram uma carta convidando Emily e Anabel à cumprirem a promessa de visitá-los em sua casa.

Durante os anos anteriores, os três jovens costumavam passar as tardes praticando quadribol, passeando pelos campos verdes da propriedade, ou simplesmente conversando por horas. Era, no entanto, a primeira vez que o faziam sem a presença de Cedrico.

Para as duas, a sensação de estar ali sem o amigo era estranha, como se estivessem incomodando ou atrapalhando-os. O plano inicial de passar apenas uma tarde e voltar para casa, caíra por terra quando o casal insistiu que as duas trouxessem bagagem para, no mínimo, uma semana.

Amos Diggory recebeu-as com o semblante abatido, embora hospitaleiro. A mãe de Cedrico, que sempre se mostrara uma senhora alegre e dócil, cumprimentou-as com um fulgor nostálgico e acomodou-as no quarto de visitas, deixando-as à vontade para desfazerem as malas.

No quarto ao lado, observaram ao atravessar o corredor para chegar à cozinha, os pertences do garoto permaneciam intocados. O cômodo estava organizado e limpo, esperando seu dono retornar do ano letivo para um merecido descanso. Uma pilha de roupas dobradas fora deixada em cima da cama, onde ficariam aguardando eternamente pelo momento em que finalmente seriam guardadas por seu dono.

– Está exatamente como ele deixou. – a Sra. Diggory conduziu-as para dentro do cômodo, abraçada à um cachecol da Lufa-Lufa. Ela sentou-se na cama e depositou-o em cima de um dos travesseiros, acariciando o tecido e contemplando o broche de monitor ao seu lado. A mulher discretamente passou as pontas do dedo no rosto e levantou-se, abrindo um sorriso tristonho. – Vamos almoçar.

Depois de almoçarem, o Sr. Amos Diggory trouxe um pesado álbum de fotografias para a mesa e os quatro passaram o restante da tarde analisando-as. Em uma delas, o pequeno Cedrico corria em direção aos pais balançando os braços e pedindo colo, inseguro quanto à firmeza de seus primeiros passos. Em outra, tinha as roupas sujas de glacê e uma carinha culpada. Na página seguinte, sorria e acenava para a câmera, planando em sua vassoura.

E ao longo dos dias surgiram histórias. Todas revelavam uma das faces de Cedrico: o aluno exemplar, o filho amado, o amigo querido que jamais poderia deixar de ser. Muito mais do que um nome, o jovem era parte da história de cada um deles.

O Sr. Diggory levou-as em passeios nos arredores da propriedade, dando especial atenção aos lugares favoritos do filho. Emily sabia que além da comunidade trouxa, a vila de Ottery St. Catchpole, aquele também era o lar de pelo menos mais três famílias bruxas, sendo elas: os Fawcett, os Lovegood e os Weasley.

Dois dias antes de encerrar sua estadia na residência, uma pequena coruja entrara voando pela janela do quarto de visitas e pousara no baú, ao pé da cama, trazendo consigo uma carta de um remetente inesperado. Emily apanhou-a antes que Anabel retornasse do banho. Assim que terminou a leitura, guardou-a apressadamente sob o travesseiro e rabiscou um mero bilhete em resposta.

Ele se enganou, não pretendo ficar por tanto tempo. Volto pra casa no sábado.

A corujinha saiu voando à tempo de Anabel entrar no quarto.

Quando Emily retornou ao cômodo após o almoço, a corujinha estava empoleirada na janela com mais uma carta para ser entregue.

– Que gracinha. De quem é a coruja? – Anabel questionou, aproximando um dos dedos do animal e recebendo bicadinhas como se fossem beijinhos.

– É de um amigo. – respondeu-lhe um pouco insegura, elaborando o que estava prestes a dizer. – Escute... Acha que alguém se importaria se eu... Ãn... Desse um passeio sozinha amanhã?

– Acho que não. Aonde você vai? – perguntou desconfiada.

– Prometi à Cedrico que faria uma coisa.

– Que tipo de coisa? – ela semicerrou os olhos.

– Sair da minha zona de conforto.

Anabel continuou a olhá-la com desconfiança, mas se deu por vencida e não fez mais perguntas. Depois do jantar, conversou com os Diggory e estes não fizeram objeções.

Emily deu comida à coruja encarapitada no alto do armário e foi para a cama. Prestes a adormecer, lembrou-se das cartas debaixo do travesseiro e guardou-as no fundo do malão entre algumas roupas, onde não correriam o risco de serem encontradas.

No dia seguinte, acordou e saiu pouco depois do café da manhã. A coruja ia voando na frente e ela manteve-se atenta ao céu, com receio de se perder entre as campinas verdes. Assim que se aproximaram de uma casa de proporções nada usuais, a ave entrou pela janela do segundo andar e Emily deteve-se diante do pequeno jardim pensando em voltar atrás. Entretanto, alguém já caminhava em sua direção.

O jovem apertou os olhos tentando distinguir com clareza quem estava parada ali. O sol forte da manhã batia em seu rosto e deixava seus cabelos, ruivos como fogo, mais brilhantes que de costume.

– Olá, Weasley. – Emily sorriu e acenou timidamente.

Na residência da família Diggory, Anabel procurava por uma blusa perdida. Esgotada a paciência com suas buscas, decidiu pegar outra emprestada e aproximou-se da mala de Emily, puxando uma das peças e revelando as duas cartas que caíram no chão. A garota apanhou-as, lembrando-se da coruja e da inesperada saída da amiga. Tomada pela curiosidade, sentou-se na beirada da cama para ler.

Querida Roxy,

Lee me contou que você e sua amiga comentaram no trem sobre passar o verão hospedadas na casa dos Diggory. Decidiu vir até aqui e nem cogitou nos ver? Imagino que a única razão para ainda não ter recebido uma visita, seja o fato de que não sabe como chegar à toca.

Esperando que mude de ideia,
Fabian.

Roxy,

Já que só vai embora no sábado, significa que ainda pode vir amanhã mesmo e deixar as malas para depois. Basta seguir a ave, ela sabe o caminho.

Mas esteja avisada de que se essa coruja aparecer sozinha amanhã, Fred e eu iremos pessoalmente buscá-la.
Até logo,
Fabian.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora