Anabel estava deitada na cama, contando os minutos para a chegada da amiga. Tinha guardado as cartas embaixo das cobertas e pensava em como poderia tocar no assunto sem transformar a conversa exatamente no que era: uma grande intromissão de sua parte.
Ela sentia que aquilo não estava certo e precisa intervir, antes que fosse tarde demais.
– Podemos conversar? – Anabel sentou-se na cama ao lado de Emily. A mais nova tinha um sorriso bobo no rosto, que camuflou quase instantâneamente.
– Podemos.
– Quer me contar alguma coisa?
– Não. Você quer? – Emily sutilmente desafiou-a.
Anabel foi até o próprio colchão, pegou as cartas e jogou-as em cima da pilha de roupas que Emily dobrava para guardar no malão
– Acho que sei aonde esteve hoje.
– Não tinha o direito de ler isso.
– Você não pode continuar alimentando essa situação. Esse garoto...
– Precisa parar de se meter na minha vida, Anabel.
– Só estou tentando fazer o que é melhor pra você.
– Não quero que decida absolutamente nada por mim.
– Não pretendo decidir nada por você, só quero te ajudar a enxergar as coisas como elas são. Você não sabe lidar com perdas e sempre acaba agindo de forma imprudente pra substituir o vazio e se distrair da dor.
– O vazio que a minha mãe deixou quando morreu? Que Cedrico vai deixar? – Emily levantou-se frustrada. – Nunca tentei substituir nada.
– Fez isso da última vez e pode estar fazendo agora, sem nem mesmo perceber. Finge que está bem, se coloca em risco, tenta fugir...
– Eu não sou essa coisa frágil que você insiste em proteger, Anabel. Eu posso lidar com meus próprios problemas sozinha!
– Me desculpe. Só quero ajudar.
Ela se afastou e encolheu-se na cama, assistindo Emily voltar a arrumar o malão com ignorância, sem saber que no fundo, Anabel enfrentava um de seus momentos de maior indecisão.
– Não tenho sido sincera com você. – Anabel disse depois de alguns minutos em silêncio. – Tem algo que não sabe sobre mim.
– Eu sei. Pode acreditar.
– Sabe? E por que nunca me disse nada?
– Achei que só me contaria se quisesse que eu soubesse. – Emily riu irônicamente. – Se chama privacidade. Dar à você o espaço e a liberdade de que precisa.
– Você deve ter muitas perguntas...
– De maneira alguma! Prefiro que guarde os detalhes da sua hipocrisia apenas para você. – ela fez uma cara de nojo.
– Espere um segundo... Do que é que você está falando? – Anabel perguntou, estranhando a reação da amiga. – Não acho que estamos falando da mesma coisa.
– Do que você está falando?
– Das minhas visões, é claro.
– Visões? – Emily achou que não estava escutando direito. – Acabou mesmo de dizer Visões?
– Sim. Desde o segundo ano venho tentando criar coragem para contar. Tive medo de que não fosse acreditar em mim, ou pior, me achar esquisita.
– Eu não faria isso.
– Você nunca gostou de adivinhação.
– Nunca gostei da Trelawney, que é uma farsante... É completamente diferente.
– Sinto muito por ter te arrastado para as aulas dela. É que eu realmente precisava delas, entende? Pra descobrir o que estava acontecendo comigo. É um alívio poder finalmente falar com você sobre isso e...
– Por isso está me vigiando? – Emily chegou à conclusão sozinha, ligando as informações. – Teve uma visão e quer evitar que aconteça.
Anabel baixou a cabeça envergonhada e encarou o chão como se este fosse a coisa mais complexa do mundo e requisitasse sua total atenção.
– Aconteceu algumas vezes. Foi assim que soube sobre o Ministro trazendo um dementador para dentro do castelo. – ela confessou. – Durante a maior parte do tempo, consigo evitar que acabe de uma maneira ruim, mas sei que nem sempre isso será possível. Por isso tenho sido paranóica com tudo e todos.
– Cedrico...? – perguntou temerosa.
– Não. Não tive nenhuma. – Anabel disse com tristeza. – E essa é a pior parte. Se eu soubesse o que iria acontecer, talvez ele ainda estivesse aqui conosco.
– Não se culpe pelo que houve. – Emily aproximou-se da amiga, vendo como os olhos dela estavam se enchendo de lágrimas.
As duas permaneceram quietas, apenas com o som do choro de Anabel sendo abafado pelo travesseiro, enquanto Emily acariciava seu cabelo. Foi a primeira vez que Anabel chorou pela morte de Cedrico desde que acontecera. A primeira vez em que se permitiu ser cuidada, ao invés de ser a pessoa que se preocupa demais.
Anabel atrasara sua dor, para que Emily pudesse viver a dela plenamente. Naquela noite de junho, duas garotas perderam seu melhor amigo, mas apenas uma delas pôde sentir a perda devidamente. Era a vez de Anabel baixar a guarda e receber apoio.
Um pouco mais afastado dali, os Weasley's faziam as malas para deixar a Toca. Em dois dias estariam se transferindo temporariamente para outro endereço, em razão de uma agravante nas atuais circunstâncias.
Fred e George estavam no segundo andar, tentando enfiar no malão todo tipo de coisa de que pudessem precisar pra preparar seus produtos durante a estadia longe de casa. Estavam tão compenetrados na tarefa, que nem se deram ao trabalho de avisar ninguém sobre seu breve desaparecimento.
No dia seguinte, Emily e Anabel já estavam de malas prontas. Iriam até o vilarejo trouxa de Ottery St. Catchpole e de lá pegariam um taxi. Estavam prestes a deixar a casa, quando a Sra. Diggory apareceu carregando um pequeno objeto.
– Anabel me contou que pertencia à você. – ela mostrou a bússola de prata reluzindo em suas mãos. – Estava com ele... Quando...
– Não. – Emily envolveu as mãos da mulher nas suas com delicadeza. – Dei isso à Cedrico. Foi meu último presente e gostaria que permanecesse assim.
Ela discordou. Levou o objeto pra junto de si como se estivesse abraçando-o e deixou uma lágrima solitária escorrer lentamente por seu rosto cansado e triste.
– Por favor. Fique com isso.
Já no vilarejo, as garotas colocaram os malões no carro e se despediram do casal com o coração apertado.
– Esse aí também vai? – o taxista apontou com desdém para algo atrás de Emily.
A bruxa virou-se. Um gato magricela espiava-os por detrás de um arbusto e saltou para longe deste, deixando-se à vista de todos. Era sua primeira aparição já que, conforme contaram os Diggory, o animal não dera as caras pela propriedade desde que Cedrico os deixara. Quando a garota se aproximou, ele esticou-se inteiro, contornou seus pés e pulou pra dentro do carro, escolhendo um lugar para se acomodar confortavelmente.
– É, pelo jeito ele vai sim.
Já tinham chegado ao seu destino e estavam prestes a se separar quando Anabel sinalizou para Emily como se quisesse confessar um último segredo.
– Tem mais uma coisa que preciso te dizer antes de irmos.
– O que é?
– É sobre uma visão que tive. Vai ter que confiar em mim... – Anabel sussurrou, vendo os pais acenando para elas. – Precisa se afastar dos gêmeos Weasley.
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The Castle On The Hill | Fred Weasley
FanfictionEmily é uma jovem bruxa prestes a iniciar o sexto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Dividindo seu tempo entre amizades, estudos e grandes eventos sediados pela escola, sua vida acadêmica promete ser mais movimentada do que nunca... Espe...