· 28 · Honestidade e Confiança

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Anabel estava deitada na cama, contando os minutos para a chegada da amiga. Tinha guardado as cartas embaixo das cobertas e pensava em como poderia tocar no assunto sem transformar a conversa exatamente no que era: uma grande intromissão de sua parte.

Ela sentia que aquilo não estava certo e precisa intervir, antes que fosse tarde demais.

– Podemos conversar? – Anabel sentou-se na cama ao lado de Emily. A mais nova tinha um sorriso bobo no rosto, que camuflou quase instantâneamente.

– Podemos.

– Quer me contar alguma coisa?

– Não. Você quer? – Emily sutilmente desafiou-a.

Anabel foi até o próprio colchão, pegou as cartas e jogou-as em cima da pilha de roupas que Emily dobrava para guardar no malão

– Acho que sei aonde esteve hoje.

– Não tinha o direito de ler isso.

– Você não pode continuar alimentando essa situação. Esse garoto...

– Precisa parar de se meter na minha vida, Anabel.

– Só estou tentando fazer o que é melhor pra você.

– Não quero que decida absolutamente nada por mim.

– Não pretendo decidir nada por você, só quero te ajudar a enxergar as coisas como elas são. Você não sabe lidar com perdas e sempre acaba agindo de forma imprudente pra substituir o vazio e se distrair da dor.

– O vazio que a minha mãe deixou quando morreu? Que Cedrico vai deixar? – Emily levantou-se frustrada. – Nunca tentei substituir nada.

– Fez isso da última vez e pode estar fazendo agora, sem nem mesmo perceber. Finge que está bem, se coloca em risco, tenta fugir...

– Eu não sou essa coisa frágil que você insiste em proteger, Anabel. Eu posso lidar com meus próprios problemas sozinha!

– Me desculpe. Só quero ajudar.

Ela se afastou e encolheu-se na cama, assistindo Emily voltar a arrumar o malão com ignorância, sem saber que no fundo, Anabel enfrentava um de seus momentos de maior indecisão.

– Não tenho sido sincera com você. – Anabel disse depois de alguns minutos em silêncio. – Tem algo que não sabe sobre mim.

– Eu sei. Pode acreditar.

– Sabe? E por que nunca me disse nada?

– Achei que só me contaria se quisesse que eu soubesse. – Emily riu irônicamente. – Se chama privacidade. Dar à você o espaço e a liberdade de que precisa.

– Você deve ter muitas perguntas...

– De maneira alguma! Prefiro que guarde os detalhes da sua hipocrisia apenas para você. – ela fez uma cara de nojo.

– Espere um segundo... Do que é que você está falando? – Anabel perguntou, estranhando a reação da amiga. – Não acho que estamos falando da mesma coisa.

– Do que você está falando?

– Das minhas visões, é claro.

– Visões? – Emily achou que não estava escutando direito. – Acabou mesmo de dizer Visões?

– Sim. Desde o segundo ano venho tentando criar coragem para contar. Tive medo de que não fosse acreditar em mim, ou pior, me achar esquisita.

– Eu não faria isso.

– Você nunca gostou de adivinhação.

– Nunca gostei da Trelawney, que é uma farsante... É completamente diferente.

– Sinto muito por ter te arrastado para as aulas dela. É que eu realmente precisava delas, entende? Pra descobrir o que estava acontecendo comigo. É um alívio poder finalmente falar com você sobre isso e...

– Por isso está me vigiando? – Emily chegou à conclusão sozinha, ligando as informações. – Teve uma visão e quer evitar que aconteça.

Anabel baixou a cabeça envergonhada e encarou o chão como se este fosse a coisa mais complexa do mundo e requisitasse sua total atenção.

– Aconteceu algumas vezes. Foi assim que soube sobre o Ministro trazendo um dementador para dentro do castelo. – ela confessou. – Durante a maior parte do tempo, consigo evitar que acabe de uma maneira ruim, mas sei que nem sempre isso será possível. Por isso tenho sido paranóica com tudo e todos.

– Cedrico...? – perguntou temerosa.

– Não. Não tive nenhuma. – Anabel disse com tristeza. – E essa é a pior parte. Se eu soubesse o que iria acontecer, talvez ele ainda estivesse aqui conosco.

– Não se culpe pelo que houve. – Emily aproximou-se da amiga, vendo como os olhos dela estavam se enchendo de lágrimas.

As duas permaneceram quietas, apenas com o som do choro de Anabel sendo abafado pelo travesseiro, enquanto Emily acariciava seu cabelo. Foi a primeira vez que Anabel chorou pela morte de Cedrico desde que acontecera. A primeira vez em que se permitiu ser cuidada, ao invés de ser a pessoa que se preocupa demais.

Anabel atrasara sua dor, para que Emily pudesse viver a dela plenamente. Naquela noite de junho, duas garotas perderam seu melhor amigo, mas apenas uma delas pôde sentir a perda devidamente. Era a vez de Anabel baixar a guarda e receber apoio.

Um pouco mais afastado dali, os Weasley's faziam as malas para deixar a Toca. Em dois dias estariam se transferindo temporariamente para outro endereço, em razão de uma agravante nas atuais circunstâncias.

Fred e George estavam no segundo andar, tentando enfiar no malão todo tipo de coisa de que pudessem precisar pra preparar seus produtos durante a estadia longe de casa. Estavam tão compenetrados na tarefa, que nem se deram ao trabalho de avisar ninguém sobre seu breve desaparecimento.

No dia seguinte, Emily e Anabel já estavam de malas prontas. Iriam até o vilarejo trouxa de Ottery St. Catchpole e de lá pegariam um taxi. Estavam prestes a deixar a casa, quando a Sra. Diggory apareceu carregando um pequeno objeto.

– Anabel me contou que pertencia à você. – ela mostrou a bússola de prata reluzindo em suas mãos. – Estava com ele... Quando...

– Não. – Emily envolveu as mãos da mulher nas suas com delicadeza. – Dei isso à Cedrico. Foi meu último presente e gostaria que permanecesse assim.

Ela discordou. Levou o objeto pra junto de si como se estivesse abraçando-o e deixou uma lágrima solitária escorrer lentamente por seu rosto cansado e triste.

– Por favor. Fique com isso.

Já no vilarejo, as garotas colocaram os malões no carro e se despediram do casal com o coração apertado.

– Esse aí também vai? – o taxista apontou com desdém para algo atrás de Emily.

A bruxa virou-se. Um gato magricela espiava-os por detrás de um arbusto e saltou para longe deste, deixando-se à vista de todos. Era sua primeira aparição já que, conforme contaram os Diggory, o animal não dera as caras pela propriedade desde que Cedrico os deixara. Quando a garota se aproximou, ele esticou-se inteiro, contornou seus pés e pulou pra dentro do carro, escolhendo um lugar para se acomodar confortavelmente.

– É, pelo jeito ele vai sim.

Já tinham chegado ao seu destino e estavam prestes a se separar quando Anabel sinalizou para Emily como se quisesse confessar um último segredo.

– Tem mais uma coisa que preciso te dizer antes de irmos.

– O que é?

– É sobre uma visão que tive. Vai ter que confiar em mim... – Anabel sussurrou, vendo os pais acenando para elas. – Precisa se afastar dos gêmeos Weasley.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora