· 47 · Cores Que Desbotam

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Mesmo durante a semana do feriado de Páscoa, Emily decidiu ocupar a mente com os estudos. Os exames finais estavam se aproximando e ela queria manter as notas impecáveis como de costume. Contudo, essa não era a única razão pra estar diariamente enfurnada na biblioteca, sob a companhia de pilhas de livros, penas, tinteiros e pergaminhos.

Ali, refugiada entre as prateleiras empoeiradas e o olhar atento de Madame Pince, sua mente ficava condicionada a ignorar distrações. E por distração, ela queria dizer a figura ruiva que volta e meia insistia em se apoderar de seus pensamentos e tornar seus batimentos cardíacos acelerados. Encontrar-se com Fred, ainda que por um momento furtivo de engano, obrigação ou sina, era algo cruel demais.

Eles nunca diziam nada. Não ousavam se olhar nos olhos, nem cruzar o mesmo caminho. De estranhos, haviam se tornado amigos, amantes e agora estranhos outras vez. Mas Emily conhecia-o demais pra atribuir este título à ele. Reconhecia-o e buscava-o em cada detalhe, cada olhar, cada toque. Não o encontrava em lugar algum, senão nas lembranças que ainda cultivava consigo, como um prazer culposo que ela dolosamente infligiu a si mesma, sempre que a saudade apertou no peito.

A verdade é que ela, na simplicidade de seus sentimentos inocentes, caíra na desgraça de amá-lo, como jamais achou que poderia. E a incerteza da reciprocidade de sua tristeza, arrancava pedaço por pedaço do que restou de seu orgulho, sua última arma de defesa.

O orgulho é a barreira natural do amor.

Sim, amor. Palavra dolorosa. A dor mais poética que existe. Dor que agora ela excruciava por ele.

Porque Emily amava-o, mas teve que deixá-lo.

Ela não sofria por amor, sofria pela ausência. Sofria porque ninguém merece amar alguém a quem não se pode pertencer por completo e de forma plena. Sofria, porque amar é verbo e o sujeito era, para ela, determinado. Sofria porque amor e dor sempre terão o mesmo fim, o que muda é apenas o começo.

E um começo como o deles, não merecia um fim.

– No que está tão concentrada? – Anabel debruçou-se sobre a mesa assim como ela, as duas com as cabeças apoiadas na madeira, encarando a parede à frente delas.

– A parede – Emily apontou sem desviar sua atenção. – Não me lembro de que cor era e agora está desbotando – esticou a mão até a estrutura, descascando um pedaço da tinta com a unha. – Viu? Está se desfazendo aos poucos. – ela suspirou, piscou, entortou a cabeça pra um lado e depois para o outro, procurando um ângulo confortável. – Em breve não vai haver mais nada além dessa cor desbotada, que também vou esquecer.

– É... Alguém deveria reformar esse castelo ou vai acabar caindo na cabeça de alguém. – Anabel concordou, apesar de estar completamente perdida. – Trouxe suas anotações dessa parte da matéria? Quero comparar com as minhas.

Emily assentiu e puxou a mochila para o colo, procurando entre os livros por uma folha de pergaminho. Entretanto, seus dedos esbarraram em um envelope e ela retirou-o de lá de dentro para examinar melhor.

Não era de sua autoria e não havia remetente algum, restando à garota apenas a opção de rasgá-lo para encontrar respostas. Acontece que, a letra e o conteúdo, não deixavam dúvidas quanto à identidade de seu autor.

Lista (definitiva) de qualidades de
Emily Carpenter:

1. Os olhos dela

2.  Tem um ótimo senso de humor e respostas afiadas

3. Ri de todas as minhas piadas (gosto de contar algumas só para vê-la sorrir)

4. É inteligente (mas não deve ser muito, já que acredita que eu também sou)

5. Quadribol

6. Minha família gosta dela e ela gosta da minha família (e ainda assim, sou o Weasley favorito)

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora