· 98 · Ya'aburnee

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"Acho que poderíamos viver para sempre
Nos rostos um do outro, porque sempre verei minha juventude em você
E se não vivermos para sempre
Talvez um dia possamos trocar de lugar
Querido, você vai me enterrar antes que eu te enterre."

Ya'aburnee, Halsey.

Nenhum sentimento se compara ao amor. Nem mesmo o ódio mais profundo, ainda que persistente, seria capaz de durar tanto. É por essa razão, por ser quase infinito, que o inverso do amor deveria ser o fim.

As pessoas porém, possuem prazos de validade. A vida não passa de uma ampulheta cujos grãos de areia lentamente escorrem silenciosamente na imensidão incorruptível do destino. Quando chega a hora de partir é inevitável, é o momento de deixar tudo para trás e seguir em frente em passos firmes. É preciso acolher como uma velha amiga, aquela que sempre esteve à espreita.

Houve, certa vez, um menino que pensou que poderia brincar de enganar a morte. Se saira tão bem, que adiou por anos seu destino fatal. Entretanto ela, astuta e traiçoeira, sabia que o garoto viria até seus braços e se entregaria de bom grado, bastava esperar.

E ela esperou.

Porque se o inverso de amor fosse o fim, então até isso ele estaria disposto a enfrentar. Se o inverso de amor fosse o fim, então ele iria encontrá-lo primeiro, para que não tivesse que viver sem seu amor.

(...)

O dia anterior, você deve pensar, é apenas um dia como todos os outros. Na maioria das vezes isso está correto, mas se é contra o universo que se está jogando cartas, ele pegará o coringa bem debaixo do seu nariz. E quando você estiver perdendo e não houver mais nada a ser feito, ele orgulhosamente dirá "já estivemos aqui antes", rindo da sua cara, zombando de sua má sorte. E então, você se lembrará de que, no dia anterior, foi justamente você quem embaralhou todas as cartas.

Foi você quem escolheu esse destino para si mesmo.

Frederick Gideon Weasley acreditava que aquele seria mais um dos tediosos dias sob a terrível ditadura de sua não tão querida tia, Muriel. Bastava acordar no horário, tomar o café da manhã e seguir sua rotina obedecendo a extensa lista de regras que a velha senhora havia estipulado para aceitar sua estadia.

O ruivo nunca fora muito fã de regulamentos e isso não era segredo algum. Porém, dessa vez, a segurança de sua família dependia de seu bom comportamento e Fred, que até poderia ser travesso (mas não um cretino), decidiu refrear seus hábitos naturalmente marotos. Ele renunciou à diversão de sua mente para manter um teto confortável sobre sua cabeça e a de seus entes queridos. Todos estavam fazendo sacrifícios e lidando com essa nova perspectiva de vida, é claro que não queria ser o responsável por arruinar tudo.

Mas seu coração, que deveria ser um simples músculo pulsando em seu peito, as vezes falava mais alto do que poderia lidar.

Ah... Os sentimentos! Essas coisas selvagens que não podem ser domadas.

Fred caminhava pelo jardim da casa, admirando a vida ali condicionada. Havia um mundo inteiro bem à frente de seus olhos e tudo o que conseguia enxergar eram as árvores que cresciam fora dos muros de tijolos cercando-o, aprisionando-o ali. Eram dias de cão, remoendo ossos velhos.

Mas então, pela janela da elegante sala de estar da casa, viu seu resquício de esperança escalando aquelas mesmas barreiras de tijolos que estava tão acostumado a xingar. Teve o vislumbre de uma saída, encarando-o de volta com seus olhos cor de esmeralda, cauda e pelagem escura como a noite. Porém tão rapidamente quanto aparecera, desapareceu de sua vista.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora