Capítulo 22

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Olho para a linha do horizonte de Seattle lá fora, sob a perolada luz cor-derosa do anoitecer. E, como de hábito, ela quer resolver nossas diferenças na cama… hmm… no sofá… no quarto de jogos… na bancada da cozinha… Pare!



Tudo sempre termina em sexo com ela. É o mecanismo que utiliza para enfrentar os problemas.


Entro no banheiro e faço uma careta para meu reflexo no espelho. Voltar ao mundo real é difícil. Conseguimos superar nossas diferenças enquanto estávamos na nossa bolha porque ficamos muito agarradas uma na outra.




Mas e agora? Por um momento volto ao dia do meu casamento, lembrando-me das
minhas preocupações daquele dia, casar tão depressa. Não, não devo pensar
assim. Eu sabia que Simone era Cinquenta Tons quando me casei com ela.



Só preciso perseverar e tentar resolver isso com ela na base da conversa. Encaro a mim mesma no espelho, os olhos semicerrados. Estou pálida, e ainda tem aquela mulher para eu enfrentar.



Estou usando uma saia-lápis cinza e uma blusa sem mangas. Vamos lá! Minha deusa interior pega seu esmalte vermelho-meretriz. Abro dois botões da blusa, criando um pequeno decote.



Lavo o rosto e refaço com cuidado a
maquiagem, aplicando mais rímel do que o usual e colocando brilho extra nos
lábios. Jogando a cabeça para baixo, escovo meu cabelo vigorosamente da raiz
às pontas.



Quando volto a erguer o corpo, ele cai como uma nuvem castanha sobre meus seios. Ajeito-o habilidosamente atrás das orelhas e vou procurar meu scarpin, para ter um pequeno salto sob meus pés.


Quando volto para a sala, Simone está com as plantas da casa espalhadas
sobre a mesa de jantar. Uma música toca no aparelho de som. Paro de súbito.



(Simone):Sra. Tebet — diz ela, calorosa, e me olha zombeteiramente.

(Soraya): O que é isso? — pergunto. A música é maravilhosa.


(Simone): Réquiem de Fauré. Você está diferente — responde ela, distraída.

(Soraya): Ah. Eu nunca tinha ouvido antes.


(Simone):É muito calma, relaxante — diz ela, e levanta uma sobrancelha. — Você
fez alguma coisa com o cabelo?





(Soraya): Escovei.


Sou transportada pelas vozes pungentes. Abandonando as plantas sobre a mesa, ela vem até onde estou, um caminhar vagaroso, no ritmo da música.


(Simone):Dança comigo? — murmura ela.

(Soraya): Isso? Mas é um réquiem — retruco, chocada.

(Simone): É.

Ela me puxa para seus braços e me abraça, enterrando o nariz no meu cabelo e me balançando suavemente de um lado para o outro. Seu cheiro é divinamente inconfundível.




Ah… eu senti falta dela. Retribuo o abraço e tento não chorar. Por que você é tão irritante Simone?


(Simone):Odeio brigar com você — sussurra ela.

(Soraya): Então pare de ser babaca, ora essa.


Ela ri, e o som cativante reverbera pelo seu peito. Simone me aperta contra si.

(Simone):Babaca?

(Soraya): Escrota.

(Simone) Prefiro babaca.

Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora