Capítulo 37

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(Soraya): Pensei que você tivesse nascido aqui em Seattle — murmuro.

Minha mente está a mil. O que isso tem a ver com Jack? Simone  levanta o braço que lhe cobria o rosto, estende-o para trás e pega um dos travesseiros.



Colocando-o sob a cabeça, ela se acomoda e me fita com uma expressão de cautela. Depois de um momento, ela balança a cabeça.


(Simone):Não. Tanto Elliot quanto eu fomos adotados em Detroit. Viemos para cá logo depois da minha adoção. Fairte queria morar na Costa Oeste, longe da
expansão urbana, e arranjou um trabalho no hospital Northwest. Tenho poucas
lembranças dessa época. Mia foi adotada aqui.



(Soraya):Então o Jack é de Detroit?

(Simone):É.

Puxa…

(Soraya):Como você sabe?

(Simone);Fiz um levantamento do passado do Jack quando você foi trabalhar com
ele.

Mas é claro.

(Soraya):Você também tem um arquivo com informações sobre ele, num envelope de papel pardo e tudo? — Abro um sorriso irônico.

Ela torce a boca, achando graça mas disfarçando.

(Simone); Acho que é uma pasta azul-clara.


Seus dedos continuam a afagar meu cabelo; é tranquilizador.

(Soraya): O que consta no arquivo dele?

Simone apenas pisca. Inclinando-se para baixo, ela acaricia minha bochecha.

(Simone):Quer realmente saber?

(Soraya): É tão ruim assim?

Ela dá de ombros.

(Simone):Já vi piores.

Não! Será que ela está se referindo a si mesmo? E a imagem que tenho de
Simone como uma garotinha perdida, amedrontada e sujo me vem à mente.


Eu me aconchego nela, apertando, puxando o lençol por cima do seu corpo,
e deito o rosto em seu peito.


(Simone):O que foi? — pergunta ela, intrigado com a minha reação.


(Soraya): Nada — murmuro.

(Simone):Não, não. Isso serve para os dois lados, Soraya. O que foi?


Ergo o olhar por um momento e vejo sua expressão apreensiva. Voltando a descansar o rosto no seu peito, decido lhe contar:


(Soraya): Às vezes eu imagino você quando criança… Antes de você vir morar com os Tebets.

Seu corpo enrijece.

(Simone):Eu não estava falando de mim. Não quero sua piedade, Soraya. Essa
parte da minha vida já se foi. Acabou.


(Soraya): Não é piedade — sussurro, assustada. — É solidariedade e tristeza…
Tristeza por alguém fazer aquilo com uma criança. — Respiro profundamente para me acalmar, pois meu estômago se revira e as lágrimas brotam nos meus olhos de novo. — Essa parte da sua vida não acabou, Simone… como pode dizer isso? Você precisa conviver todos os dias com o seu passado. Você mesmo me disse: cinquenta tons, lembra? — Minha voz é quase inaudível.




Simone bufa e passa a mão livre pelo cabelo, embora permaneça muda e tensa embaixo de mim.



(Soraya): Eu sei que é por isso que você tem necessidade de me controlar. De me
proteger.


Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora