Capítulo 61

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Ray está muito mais animado e bem menos carrancudo. Fico tocada por sua
discreta gratidão a Simone, e por um momento, quando me sento para ouvir
os dois conversarem sobre pescaria e sobre os Mariners, esqueço a desagradável
notícia que recebi hoje. Mas ele se cansa fácil.


(Soraya): Papai, vamos deixá-lo dormir.

(Ray): Obrigado, Solzinha querida. Gostei de ver você. Hoje também vi sua mãe,
Simone. Ela me tranquilizou bastante. E ainda por cima torce pelos Mariners.

(Simone): Mas ela não é muito fã de pesca — diz Simone, com uma careta, ao se
levantar.

(Ray): Não conheço muitas mulheres que sejam, não é? — Ray abre um sorriso.

(Soraya): Vejo você amanhã, ok?

Dou-lhe um beijo. Meu inconsciente faz cara de reprovação. Se Simone  não resolver trancar você… ou se não fizer coisa pior. Meu ânimo vai lá no chão.

(Simone): Venha.

Simone estende a mão para mim, franzindo o cenho. Eu aceito sua mão e
deixamos juntos o hospital.





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Mal toco no jantar. A Sra. Jones preparou frango à caçadora, mas simplesmente não estou com fome. A ansiedade dá um nó apertado no meu estômago.

(Simone): Droga! Soraya, quer fazer o favor de me dizer o que está havendo? —
Simone afasta seu prato vazio, irritada. Eu olho para ela. — Por favor. Você
está me deixando louca.


Engulo em seco e tento controlar o pânico que cresce na minha garganta. Respiro fundo para me recompor. É agora ou nunca.

(Soraya): Estou grávida.

Ela fica imóvel, e pouco a pouco toda a cor foge de seu rosto.

(Simone):O quê? — murmura ela, pálida.

(Soraya): Estou grávida.

Surgem vincos de incompreensão entre suas sobrancelhas.

(Simone):Como?

Como assim como? Que espécie de pergunta ridícula é essa? Eu fico
vermelha e lanço-lhe um olhar irônico, como quem diz “Como é que você
acha?”.

Imediatamente sua postura se transforma, seus olhos se endurecendo como
pedra.

(Simone):E a injeção? — rosna ela.

Ah, merda.

(Simone):Você esqueceu de tomar a injeção?

Eu apenas a encaro, incapaz de falar. Cacete, ela está com raiva — muita
raiva

(Simone):Meu Deus, Soraya! — Ela dá um soco na mesa, fazendo-me pular, e se
levanta tão bruscamente que quase derruba a cadeira. — Você só precisava se
lembrar de uma coisa, uma única coisa. Merda! Eu não acredito. Como é que
você pôde ser tão idiota?

Idiota! Engulo em seco. Merda. Quero dizer a ela que o método falhou, mas as palavras me faltam. Olho para os meus dedos.

(Soraya): Sinto muito — sussurro.

(Simone): Sente muito? Porra! — repete.

(Soraya): Eu sei que não é a melhor hora.

(Simone): Não é a melhor hora! — grita ela. — A gente se conhece faz só cinco minutos, porra. Eu queria levar você para conhecer o mundo, mas agora… Puta
que pariu. Fralda, vômito e merda!


Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora