Capítulo 67

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Merda. Quando desço do carro, minhas pernas tremem tanto que não sei se vou conseguir me manter de pé.

A brisa fresca do fim de tarde traz o aroma do outono vindouro, assim como o cheiro de poeira e cal vindo dos prédios abandonados.

(Jack): Ora, ora, vejam só.

Jack emerge de uma porta pequena e coberta de tábuas à esquerda do prédio. Ele cortou o cabelo, tirou os brincos e está usando um terno. Um terno?

Ele se aproxima a passos lentos, destilando arrogância e ódio. As batidas do meu coração chegam ao máximo.

(Soraya): Onde está a Mia? — gaguejo, minha boca tão seca que mal consigo
articular as palavras.

(Jack): Existem prioridades, piranha — zomba ele, parando bem na minha
frente. Quase consigo sentir o gosto do seu desprezo. — Cadê o dinheiro?

Elizabeth está examinando as sacolas no porta-malas.

(Elizabeth):Tem uma montanha de dinheiro aqui — diz ela, estupefata, abrindo e fechando cada sacola.

(Jack): E o celular?

(Elizabeth):No lixo.

(Jack): Ótimo — diz Jack, quase rosnando, e do nada ele me dá um tapa, batendo as costas da mão contra o meu rosto com força.

O golpe violento e gratuito me joga no chão, e minha cabeça resvala no concreto com uma pancada nauseante. Minha cabeça explode de dor, meus olhos se enchem de lágrimas e minha visão fica embaçada, o choque do impacto ressoando e liberando uma agonia que lateja no meu crânio.

Solto um grito baixo de pavor, choque e sofrimento. Ah, não… Pontinho. Jack não perde tempo e desfere um chute rápido e cruel nas minhas costelas; o ar foge dos meus pulmões com a força do golpe.

Aperto os olhos ao máximo, tentando reprimir o enjoo e a dor, buscando o precioso ar. Pontinho, Pontinho, ah, meu Pontinho…

(Jack):Isso é pela SIP, sua piranha filha da puta! — grita Jack.

Puxo as pernas para cima, encolhendo-me como uma bola e esperando o próximo golpe. Não. Não. Não.

(Elizabeth):Jack! — berra Elizabeth. — Aqui não. Não em plena luz do dia, porra! — Ele faz uma pausa.

(Jack): Mas ela merece, essa puta! — exulta ele.

E isso me dá um precioso segundo para me virar e puxar o revólver.

Tremendo, miro em Jack, aperto o gatilho e atiro. A bala o atinge logo acima do
joelho, e ele cai na minha frente, gritando de agonia, agarrando a coxa, seus dedos cada vez mais vermelhos de sangue.

(Jack): Puta que pariu! — urra Jack.

Viro o rosto para Elizabeth, que me fita boquiaberta, apavorada, e levanta as
mãos acima da cabeça. Sua imagem fica borrada… a escuridão me cerca.

Merda… Ela está no fim de um túnel. A escuridão se apossa dela. De mim. Ao
longe, vejo o caos irromper. Pneus de carros cantando… freadas… portas gritaria… correria… passos. A arma cai da minha mão.

(Simone): Soraya!

É a voz de Simone … a voz de Simone … a voz de Simone em agonia.nMia… salvar Mia.

(Simone):Soraya!

Escuridão… paz.

Só existe dor. Minha cabeça, meu peito… uma dor lancinante. A lateral do meu corpo, meu braço. Dor. Dor e palavras sussurradas na penumbra.

Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora