Capítulo 36

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(Simone):Desculpe. Desculpe — murmura Simone, a voz embargada. Ela beija meu cabelo repetidas vezes. — Soraya, me perdoe, por favor.



Virando o rosto para seu pescoço, continuo a chorar, e é uma libertação
catártica. Muita coisa aconteceu nos últimos dias, incêndios em salas de
computadores, um carro nos perseguindo, carreiras sendo planejadas para mim,
arquitetas piranhas, lunáticos armados invadindo nossa casa, discussões, a raiva
dela, e Simone ficou fora um tempo. Odeio que ela viaje…



Uso o canto do lençol para assoar o nariz e gradativamente percebo que as notas racionais de Bach continuam ecoando pela sala.


(Soraya): Por favor, desligue a música. — Dou uma fungada.


(Simone): Sim, claro. — Simone se mexe sem me soltar e pega o controle remoto
do bolso de trás.



Ela pressiona um botão e o solo de piano cessa, substituído pela minha respiração tremida.



(Simone): Melhor? — pergunta ela.


Aquiesço, meus soluços diminuindo. Simone enxuga minhas lágrimas
delicadamente, com o polegar.


(Simone): Não é muito fã das Variações Goldberg de Bach? — pergunta ela.


(Soraya): Não dessa peça.



Ela me encara, tentando em vão esconder a vergonha que aparece em seus olhos.


(Simone): Me desculpe — repete ela.

(Soraya): Por que você fez isso? — Minha voz é quase inaudível, pois estou tentando processar o emaranhado de sentimentos e pensamentos.



Simone balança a cabeça tristemente e fecha os olhos.


(Simone):Eu me perdi no momento — diz ela, de modo pouco convincente. Franzo o cenho, e ela suspira. — Soraya, a negação do orgasmo é uma ferramenta padrão no… Você nunca… — Ela não termina a frase.



Mudo de posição no seu colo e ela estremece. Ah. Fico ruborizada.



(Soraya): Me desculpe — balbucio.


Ela revira os olhos e se inclina para trás subitamente, levando-me consigo, de forma que agora estamos nos duas  deitadas na cama, eu nos seus braços. Ajeito o sutiã, que estava me incomodando.



(Simone):Precisa de ajuda? — pergunta ela, baixinho.



Balanço a cabeça em negativa. Não quero que ela toque nos meus seios. Ela muda de posição para poder me olhar; levanta a mão, hesitante, e afaga meu rosto gentilmente com os dedos.



As lágrimas enchem meus olhos novamente. Como ele pode ser tão insensível em um minuto e tão terno no outro?


(Simone):Por favor, não chore — sussurra ela.


Estou pasma e confusa com essa mulher. Minha raiva me abandonou bem na hora em que eu precisava dela… Sinto-me entorpecida.



Quero me dobrar em posição fetal e hibernar. Pisco algumas vezes para tentar conter as lágrimas, enquanto fito seus olhos angustiados. Inspiro o ar, trêmula, sem desviar os olhos dos dela.






O que eu vou fazer com essa mulher controladoraĥ? Aprender a me deixar controlar? Acho que não…



(Soraya): Eu nunca o quê? — pergunto.


Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora