Capítulo 50

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(Soraya): Por que é tão importante para você se encontrar com ela? — pergunto
com gentileza.


(Renata): Para agradecer. Eu estaria apodrecendo num manicômio judiciário
fedorento se não fosse por ela. Sei disso. — Ela olha para baixo e passa o dedo
pela borda da mesa. — Sofri uma crise psicótica grave e, sem a Sra. Tebet e o
John… o Dr. Flynn… — Ela dá de ombros e me olha mais uma vez, o rosto cheio de gratidão.



Novamente, fico sem palavras. O que ela espera que eu diga? Ela deveria dizer essas coisas para Simone, não para mim, com certeza.


(Renata): E pelas aulas de artes. Não tenho como agradecer o suficiente por isso a ela.


Eu sabia! Simone está financiando as aulas dela. Permaneço sem expressão, tentando avaliar meus sentimentos a respeito desta mulher agora que ela confirmou minha desconfiança em relação à generosidade de Simone.




Para minha surpresa, não sinto raiva dela. É uma revelação, e fico contente por ver que está melhor. Agora, espero que ela possa seguir em frente com sua vida
e sair da nossa.



(Soraya): Você está faltando às aulas para estar aqui? — pergunto, porque estou
interessada.


(Renata): Só duas. Volto para casa amanhã.

Ah, que bom.

(Soraya): Quais são os seus planos enquanto estiver aqui?



(Renata): Pegar meus pertences com a Susi e voltar a Hamden. Continuar pintando e aprendendo. A Sra. Tebet já tem uns dois quadros meus.



Que porra é essa? Meu estômago mergulha em queda livre mais uma vez.
Estão pendurados na minha sala? Eu me arrepio só de pensar.


(Soraya): Que tipo de quadros você pinta?

(Renata): Na maioria abstratos.

(Soraya): Entendo.


Minha mente rememora os quadros, agora familiares, em nossa sala de estar. Dois deles são obras da ex-submissa de Simone … talvez.


(Renata): Sra. Grey, posso ser franca? — pergunta ela, completamente alheia às
minhas emoções beligerantes.

(Soraya): Por favor — murmuro, olhando para Prescott, que parece ter relaxado
um pouco.

Renata se inclina para a frente como se fosse revelar um segredo antigo.


(Renata): Eu amei o Geoff, o meu namorado que morreu este ano. — Sua voz se transforma num mísero sussurro triste.


Merda, essa conversa está ficando muito pessoal.

(Soraya): Sinto muito — digo automaticamente, mas ela continua como se não tivesse me ouvido:

(Renata): Eu amei o meu marido… e mais uma  mulher — balbucia ela.


(Soraya): minha esposa. — As palavras saem da minha boca antes que eu possa
impedi-las.


(Renata): Isso. — Ela mal emite o som da palavra.

Isso não é novidade para mim. Quando ela ergue os olhos castanhos e fita os meus, vejo que estão bem abertos, deixando transparecer emoções conflitantes,
das quais a que parece sobressair é o receio… da minha reação, talvez? Mas o
meu principal sentimento com relação a essa pobre jovem é o de compaixão.



Cayendo en la Tentación III - Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora