Alexander

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A noite está tão movimentada que eu não consigo parar por mais que alguns poucos segundos, dou a cerveja de um cliente e olho para os vários clientes que ainda esperam para ser atendidos, o Neo, o outro barman, aponta para um cliente que pede tequila e eu vou até uma mulher, ela olha para mim e depois para o menu de coqueteis indecisa, provavelmente uma daquelas pessoas que não gostam de arriscar. Olho para a sua pele morena e os seus lábios em um tom chocolate e sorrio.
- Posso dar uma sugestão?
Ela fica envergonhada e acena, ainda olhando para ela eu pego a coqueteleira que já está com gelo, coloco brandy e creme de cacau, pego o creme de leite e adiciono com os outros. Fecho a coqueteleira e agito ouvindo o gelo tilintando. Pego uma taça e assim que coloco a mistura nela consigo sentir o seu aroma delicioso, um dos meus favoritos. Polvilho um pouco de canela em pó por cima e para finalizar decoro com uma canela em pau.
Olho para a cliente e sorrio mais uma vez.
- Alexander, suave e com um toque de classe, a canela combina com o seu lindo tom de pele.
Mais uma vez ela fica envergonhada, mas pega a taça e experimenta, olha para a bebida fascinada e sorri, eu pisco para ela e aponto para um cliente ao seu lado.
- Boulevardier.
Eu aceno e vou até a prateleira, pego whisky e camparari, quando me estico para pegar o vermute o Chimon se aproxima e fala baixo.
- O VIP chegou!
Eu sinto um arrepio, mas ignoro e vou com as garrafas para o balcão, eu começo a preparar o Boulevardier e o Chimon pega o que usei ma bebida anterior.
- Vai me contar qual é a do VIP?
Eu olho irritado e ele revira os olhos.
- Pelo menos conta qual é o nome dele.
- Chimon, eu estou tentando trabalhar, não tenho ideia de qual o nome dele. Faz assim...
Eu pego um copo, coloco uma esfera de gelo e sirvo o whisky que já está na minha mão, empurro na sua direção e aponto.
- Vai servir ele hoje e pergunta.
Ele me olha surpreso e coloca o copo em uma bandeja.
- E ainda dizem que perguntar não ofende.
- Nanon, o de sempre pro VIP.
- O Chimon já está indo levar.
Ele concorda e se afasta, para e olha pra mim.
- Nanon...
- Não tem como eu deixar o Neo sozinho, Tay.
Ele olha para os outros clientes e concorda. Desde que o VIP começou a frequentar o bar o Tay pediu para eu atendê-lo porque os outros não tem muito filtro e podem falar o que não devem, não sei porque ele se importa tanto com o que o cara pensa, mas apenas eu servi ele desde então.
Volto a preparar a bebida, vejo o Chimon se afastando e tento ignorar o pensamento indesejado de que o VIP pode tentar fazer alguma coisa com ele e tenho certeza que o Chimon ia adorar. Eu bloqueio esse pensamento e me concentro no que estou fazendo, a dose errada pode estragar o sabor da bebida.
Claro que o meu humor foi embora junto com o Chimon, então eu sirvo o cliente e já aponto para o outro pegando o seu pedido.
Alguns minutos depois eu vejo o Chimon entrando no balcão e sinto um breve alívio, vou para a prateleira e guardo as garrafas que estão se acumulando no balcão.
- Caralho, como você consegue ficar perto daquele cara? Tudo que ele tem de gostoso tem de assustador!
Eu dou risada e com essas simples palavras o meu humor voltou.
- Ele perguntou por você.
Eu tento não reagir e pego uma garrafa de gin.
- Ele falou pra você preparar um Martini mais tarde.
- Sério?
Ele acena uma vez e pigarreia falando com a voz um pouco mais fina.
- "Onde está o outro garçom?" Daí eu falei que você não é garçom e ele ficou me encarando. Sério, assustador! Eu falei que está muito cheio hoje, ele me olhou como se eu tivesse o ofendido e disse "Mande ele trazer Martini mais tarde."
Ele faz uma careta e treme.
- Juro que aquela sala estava fria como o Alasca.
Eu dou risada mais uma vez.
- Fica aqui, eu já preparo o Martini pra ele.
- Sem chance, nunca mais eu chego perto do cara, sem contar que ele foi bem claro dizendo pra mandar você levar, eu que não vou contrariar.
Eu suspiro e vou até o balcão, ele vai junto e começa a limpar.
Eu enrolo o máximo que posso esperando o VIP ir embora, mas duas horas depois ele não deu sinal de vida, quando já não tem clientes para atender e mais nada para limpar eu desisto, vou preparar a minha receita de Martini, mas lembro do Alexander que preparei mais cedo que também combina com o seu tom de pele. Faço um para ele, quando coloco na bandeja o Chimon me olha curioso.
- Eu não entendo muito de bebidas, mas isso não me parece um Martini.
Eu dou de ombros e saio, vou até a sala, bato na porta uma vez e entro, quando ele me vê sorri, as vezes tenho impressão de que esse cara é uma miragem, é praticamente impossível alguém ser tão perfeito.
Eu vou até a mesa e tento me manter sério quando coloco a bebida na sua frente.
- Você não veio mais cedo.
- Essa aqui não é a minha função, não podia deixar o bar.
Ele faz um bico e acena, pega a taça e prova a bebida.
- Você tem alguma especialização?
- Bartender flair.
Ele acena novamente e bebe mais um pouco, quando levanta o meu corpo inteiro fica alerta, ele anda devagar na minha direção e para na minha frente, levanta a taça até a minha boca, eu resisto por três segundos antes de beber, então ele afasta a taça e me beija.
- Que horas você sai, Nanon?
- Quando fecha, não importa a hora.
- Alguma chance de você sair mais cedo?
- Porque?
- Porque eu quero muito transar com você em uma cama, na minha cama.
Eu sinto aquele arrepio gostoso na espinha, mas continuo sério.
- Eu nem sei o seu nome.
- O meu nome é Pawat, Ohm Pawat.

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