Dúvidas

284 38 6
                                    

Eu saio do bar e fecho os botões da minha camisa, o Chimon para de limpar a mesa e vem até mim.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, eu vou aproveitar que o movimento acabou e vou embora, estou muito cansado hoje e já são quase meia noite, logo o Tay fecha.
- Você está bem? O seu humor oscilou muito hoje, não é normal, normalmente você consegue ser simpático do começo ao fim com os clientes.
- Eu só estou cansado mesmo, não preocupe.
Ele suspira e dá um soco no meu ombro.
- Te vejo em casa.
Merda, eu não tinha pensado nisso, o Chimon e eu dividimos um apartamento desde a época que ele entrou na faculdade, é claro que como ele está preocupado provavelmente vai querer checar se eu estou bem quando chegar.
- Acho que vou para a casa da minha mãe hoje, assim eu consigo dormir melhor sem todo o barulho dos vizinhos.
Ele me olha surpreso, eu não gosto de ir para a casa da minha mãe a noite porque é distante demais e de ônibus levaria quase uma hora para chegar, já o nosso apartamento chegamos em dez minutos a pé, realmente não faz sentido, mesmo assim ele aceita sem discutir fazendo eu me sentir um péssimo amigo por mentir pra ele. Ele me dá mais um soco e depois me abraça.
- Se cuida.
- Você também, até amanhã.
Eu faço um sinal para o Tay saber que estou indo embora e me despeço do Neo que ficou no bar, saio e caminho em direção ao ponto, sento, fecho os olhos e passo a mão pelo rosto.
- Que merda eu estou fazendo, Deus?
Eu espero como se fosse receber uma resposta magicamente, mas a única resposta que eu recebo é a buzina de um carro que eu nem vi se aproximar.
Eu abro os olhos e vejo um carro desses de luxo que são feios demais para o preço que valem, amarelo super chamativo, quando olho para dentro do carro ele sorri para mim novamente parecendo uma miragem, tenho impressão que pedi ajuda de Deus, mas a resposta veio do diabo, usando algo que ele mesmo disse, esse cara vai ser a minha ruína! Ele é exatamente o tipo pessoa que eu evito a todo custo, lindo demais pra eu dar conta, sedutor, misterioso, vai em bares com frequência, transa com qualquer um, apesar que isso infelizmente entrou para a minha lista também, e para completar ele é rico, um cara rico e um barman é o coquetel do fracasso.
- Você vem?
Eu procuro na minha cabeça alguma desculpa para não ir, mas a minha mente sempre muito criativa resolveu descansar mais cedo hoje e me deixou na mão, já o meu pau está mais acordado que nunca e está praticamente implorando para eu entrar no carro de uma vez.
Como eu não me mexo ele liga o carro e vai embora, simples assim, nem um adeus, nem um você é um idiota, ele nem insistiu só foi embora. Mais uma vez eu fecho os olhos e não sei se fico aliviado ou triste.
Sinto duas mãos tocando o meu rosto e levantando, abro os meus olhos para encontrar com os dele.
- Você está bem?
- Não tenho certeza.
Ele olha preocupado e abaixa na minha frente ficando sobre um joelho.
- Me conta o que você tem.
É engraçado ele parecer genuinamente preocupado, como se fossemos velhos conhecidos e ele quisesse cuidar de mim.
- Não é nada.
- Posso te levar para a minha casa?
É isso, por isso estou aqui, por isso eu saí mais cedo, não importa quanto eu lute contra é isso que eu quero, eu quero ele.
Eu me concentro empurrando a dúvida de lado e descarto essa personalidade frágil, esse não sou eu e não vou deixar ele pensar que sou alguém que ele tem que cuidar e proteger.
- Onde você deixou o carro?
Ele ainda com aquela cara preocupada aponta com a chave para o lado.
- Não dá pra estacionar aqui por causa dos ônibus, tive que deixar na rua lateral, você está bem?
- Estou, eu só trabalhei muito hoje.
Ele levanta e estende a mão, eu olho para ela, ignoro e levanto sozinho, algo que ele não gostou.
- Você quer mesmo fazer isso?
- Escuta, Ohm, é Ohm certo? Ohm, eu não saí mais cedo do meu trabalho pra ficar batendo papo em um ponto de ônibus, então se vamos fazer isso é melhor irmos de uma vez.
Ele acena sem dizer mais nada e vai para o carro, quando chega abre a porta pra mim, era só o que eu precisava, a porra de um gentleman!
Eu entro no carro e coloco o cinto antes que ele invente de fazer isso também. Ele entra, olha pra mim e liga o carro. Andamos algumas poucas quadras até chegar no seu prédio, a pé o seu apartamento não deve ficar há vinte minutos do meu, mas claro que ele fica na área nobre da cidade, enquanto o meu apartamento fica em uma área suburbana, cheia de prédios com estruturas duvidosas e moradores mais duvidosos ainda.
Ele estaciona e sai do carro, percebo que está dando a volta, então solto o cinto e abro a porta antes de que faça, ele me olha contrariado, mas eu finjo que não vejo e bato a porta do carro, coloco as mãos nos bolsos e espero, mais uma vez ele vira sem dizer nada e caminha, olho em volta e me ocorre que eu não devia ir para o apartamento de alguém que eu não conheço, principalmente sem ninguém estar sabendo, mas eu ja estou aqui, então eu sigo em frente.
Quando chego no elevador ele já está dentro segurando a porta, quando eu entro ele solta o botão, a porta fecha e aqui nesse pequeno espaço confinados, sem ter para onde fugir eu consigo sentir toda a sua energia que me atraiu pra ele desde o primeiro momento. Percebo que ele está me olhando, mas simplesmente coloco as mãos nos bolsos e olho para os números que não param de subir, quando o elevador para só um pensamento me ocorre: tinha que ser a porra da cobertura? Isso só deixa evidente a diferença entre nós, eu sou o subsolo, ele a cobertura.
Mais uma vez eu decido que se já estou aqui vou seguir em frente, saio do elevador e vamos até uma das quatro portas do corredor, ele abre a porta e entra, eu entro atrás e olho em volta.
A decoração sofisticada em tons neutros em uma escala de cores de vai do creme ao marrom, os sofás grandes são beges, as cortinas também, mas com pequenos detalhes dourados quase imperceptíveis. A sala é grande com mesas, abajures, quadros, vasos e tudo o que se espera que tenha em um apartamento assim, do meu lado esquerdo eu deixei para olhar por último porque foi a primeira coisa que eu vi quando eu entrei, um bar, deve ter um metro e vinte de uma ponta a outra, se muito, uma coleção de taças incríveis e as bebidas mais caras do mundo estão expostas, todas intactas.
- Você quer beber?
Ele fala muito próximo a mim fazendo o meu corpo todo se arrepiar e o meu pau ficar duro. Eu não quero realmente beber, mas talvez isso me ajude agora, então sem pedir permissão eu vou até o bar. Olho para a sua coleção que deve custar tanto quanto o seu carro, pego um whisky, vou até o balcão, escolho um copo, abro uma pequena geladeira embaixo do balcão e tem um pacote de gelo, apenas um cara rico compraria gelo para deixar em casa, abro e pego dois cubos, sirvo whisky e dou para ele que sorri e se aproxima do balcão, eu guardo a garrafa e olho em volta, vejo uma adega e opto pelo básico, se dá para chamar esses vinhos de básicos. Escolho um tinto, abro e sirvo em uma taça e faço a degustação, simplesmente perfeito.
- Você entende de vinhos?
- Eu sou sommelier.
Ele acena como se encontrasse com um sommelier todos os dias, mas eu não me surpreenderia se encontrasse.
Sem dizer nada ele anda com o seu copo de whisky até um dos sofás e senta, eu fecho a garrafa de vinho, pego a minha taça e vou até ele, independente do que vai acontecer aqui eu quero estar sóbrio, então não vou beber demais. Sento ao seu lado e viro de lado para ficar de frente com ele.
- O que você quer de mim, Ohm?
Ele vira para mim e toca o meu lábio inferior com o polegar.
- Nesse momento eu quero provar o vinho na sua boca, pelo resto da noite eu quero você. E você, Nanon, o que quer?
Eu olho para a minha taça e antes mesmo que eu consiga me controlar eu digo.
- Eu quero ir embora. - Eu levanto os olhos e ele está me encarando surpreso. - Mas eu não quero ir embora. Eu quero ficar longe de você, mas eu quero muito você. Eu quero que você me foda, mas nesse momento eu quero muito foder você!

VIPOnde histórias criam vida. Descubra agora