Lingchi

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Tento me mover, mas prenderam os meus braços em um lustre deixando tão esticados que os meus pés saem um pouco do chão, os meus músculos estão rígidos e doloridos, provavelmente do periodo que estive desacordado. Olho para a sala que parece tão impecável quanto a última vez que estive aqui, o que faz desse um cenário estranho para o que a mãe do Ohm planeja fazer. Conto seis homens espalhados pela sala, mas esses não são seguranças, estão longe disso, são capangas da pior qualidade, pessoas que matariam a própria mãe apenas pelo prazer de matar.

— Você viveu no Japão por alguns anos, não é?

Olho para a mãe do Ohm que espera a minha resposta como se fossemos velhos conhecidos em uma conversa amigável.

— Você aprendeu sobre a cultura e história do país ou só ficava acabando com as famílias de lá como fez aqui?

Quando percebe que eu não vou responder ela caminha na minha direção e perfura o meu ombro com a ponta da faca.

— Já ouviu falar sobre Lingchi? Era uma técnica de punição, foi criada pelos chineses, mas os japoneses também usaram por mil anos.

Ela segura a minha camiseta e começa a cortar ela devagar, quando está totalmente aberta sinto a lamina no meu peito.

— A morte por mil cortes.... Dizem que algumas pessoas aguentam por minutos, outras por horas, quanto tempo você acha que vai aguentar?

Quando olha para o meu peito ela sorri e fala enquanto faz mais um corte.

— Dois tiros no peito, como você conseguiu sobreviver a isso? Foi o bastardo, não foi? Eu devia ter afogado ele quando nasceu.

Ela continua me cortando sem parar enquando fala coisas aleatórias sobre o Perth e a sua mãe, começo me sentir fraco com a perda de sangue, mas a dor é tão intensa que me mantém acordado, mas quase não estou conseguindo manter o foco, parte do que ela está tagarelando se perde entre a tontura e a dor.

— Ei, você não pode morrer, eu ainda não acabei. — Ela bate no meu rosto e isso me ajuda a focar. — Onde eu estava? Ah, sim, o meu filho, você fez isso, afastou ele de mim, destruiu ele. Eu tentei consertar o estrago que você fez, mas os médicos disseram que não podiam fazer nada. Chega a ser ridículo, o filho de uma empregadinha qualquer teve a ousadia de olhar para o meu filho.

Ela dá a volta e faz pequenos cortes pelas minhas costas.

— Você destruiu tudo, o meu filho, a minha empresa e a minha família, eu disse que você era um risco no momento que descobri que estava vivo, mas o meu marido tem medo do presidente Tha, então não me deixou te matar. Do que adiantou?

Ela faz um corte profundo na altura da minha cintura, dessa vez eu não aguento a dor e apago.

Acordo e um homem levanta o meu rosto, vira para um lado e para o outro, se aproxima e fala baixo.

— Se você quiser eu posso acabar com isso agora, uma facada no fígado, você vai morrer rápido e ela não vai saber a diferença dos outros cortes.

Com a dor que estou sentindo a morte seria um grande alívio, mas eu não tenho forças nem para pedir que ele faça isso, então a oportunidade é perdida.

— Ele acordou? Ah, que bom, podemos recomeçar.

Dessa vez ela inicia a tortura pela barriga enquanto fala sobre as atrocidades que fez com o Ohm tentando consertar ele, a raiva me ajuda a ficar alerta enquanto penso em um jeito de me livrar dessa, eu não vou morrer, nem me entregar, não importa como, eu sobreviver e matar essa mulher!

— E tem o outro bastardo, esse vai morrer também, não sei como isso foi acontecer, filho de uma empregada! Eu soube que você o encontrou, quase não acreditei quando vi a semelhança com o meu filho.

Sinto a faca entrando na minha costela e o meu corpo treme, eu aperto os dentes e tento não gritar.

— O que você está fazendo? Ficou maluca!

Estou quase desmaiando novamente quando o pai do Ohm se aproxima, a faca sai, mas a dor continua cada vez mais forte.

— Pelo amor de Deus, me diga que ele está vivo!

— Não por muito tempo.

— Você sabe o que vai acontecer se ele morrer, o presidente Tha avisou que nos mataria.

— Ele estava blefando!

— Ele não faria isso, não com um assunto tão sério, ele vai fazer, o rapaz morre e nós morremos, ele vai nos matar! Como você pode ser tão estúpida? Tirem ele daí, ele esta morrendo!

Ele pega o celular e anda pela sala conversando com alguém, de repente aponta o celular já minha direção, volta a conversar com a pessoa e me olha preocupado.

— Não podemos levá-lo para um hospital. Eu sei, mas não é uma opção, tem que ter outro jeito.

Paro de prestar atenção quando dois capangas soltam a minha mão e me deitam no chão.

— Mande eles, por favor, não temos muito tempo!

Ele desliga e se ajoelha ao meu lado, grita e faz gestos desesperados, mas eu já não estou ouvindo e a minha visão está tão embaçada que mal consigo vê-lo também.

— Olha pra mim, você tem que ficar acordado! A ajuda está vindo, fica acordado!

Ele bate no meu rosto, eu fecho os olhos e tento me concentrar.

— Como você conseguiu pegar ele? Onde estão os seguranças?

— O nosso filho, eu sabia que cedo ou tarde ele iria atrás do nosso filho, então deixei alguns homens de olho naquela câmera que você instalou, ele não foi ver o Ohm, mas foi para o outro apartamento, foi fácil entrar no prédio  e tirar ele de lá.

— Você não devia ter feito isso, nós vamos morrer, se o presidente não nos matar o rapaz nos mata! Deve ter um motivo para ele virar o braço direito do presidente.

— Vai ver o presidente é gay também.

— Você está se ouvindo? Está cavando a nossa cova e se divertindo.

— Pronto, são sirenes, ninguém vai morrer hoje, feliz?

Ouço os passos dela se afastando, algo gelado no meu rosto e uma picada no braço.

— Ele vai ficar bem?

— Já era pra ele estar morto, ninguém sobrevive a isso.

— Vocês precisam salva-lo, precisam curar ele!

Sinto o meu corpo sendo movido e a minha consciência se perdendo em meio a dor, na névoa eu escuto o pai do Ohm conversando com alguém sobre o transporte sigiloso e que vamos para outro local.

— Mantenha ele vivo, não importa o que tenham que fazer.

— E depois, senhor?

O silêncio toma conta da sala até a voz da mãe do Ohm surgir novamente.

— Ele tem que desaparecer, só assim o nosso filho será livre!

A dor finalmente vai embora e o meu corpo fica leve, parte de mim entende o perigo em que estou, mas a outra parte quer apenas fugir da dor, então eu relaxo e deixo a escuridão me envolver.

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