Vizinho

186 37 10
                                    

- Essa é a pior ideia que você já teve, Nanon!
Eu sorrio e dou de ombros, pego o meu celular e coloco no bolso.
- Eu volto antes da reunião da diretoria, se o seu avô perguntar por mim me dá cobertura.
Ele suspira e concorda.
- Agora vai lá e distrai a secretária.
Ele sai, eu espero três minutos e saio também.

Chego no prédio e a corretora já está me esperando na portaria, quando me vê sorri e vem até mim.
- Senhor James?
- Boa tarde, obrigado por ter me atendido tão rápido.
- É um prazer, vamos entrar?
Eu concordo e vamos para o elevador, paramos na cobertura e eu vejo o corredor com as mesmas quatro portas que me são tão familiares.
- O senhor deu sorte, o antigo inquilino entregou o apartamento há uma semana, nós acabamos de vistoriar, o senhor ligou logo depois que foi anunciada a locação.
- Acho que estou com sorte mesmo.
Na verdade sorte não tem nada a ver com isso, eu ameacei o cara que morava aqui e paguei para ele sair, depois fiquei acompanhando a imobiliária que ele informou que era responsável pelo apartamento, me custou um bom dinheiro, mas ele fica ao lado do apartamento do Ohm, vou poder entrar no prédio sem levantar suspeitas.
A corretora abre a porta, faz um sinal para eu entrar e entra atrás.
- Como eu disse o apartamento já foi vistoriado, nós mandamos pintar todas as paredes há três dias, então o cheiro não vai incomodar, se tiver algum problema é só entrar em contato que nós mandamos alguém verificar.
- Muito obrigado!
- Nós já recebemos o contrato assinado, eu vou mandar um documento com fotos do apartamento, quando puder verifique e assine também.
- Tudo bem.
- Precisa de alguma coisa?
- Não, muito obrigado.
Ela me entrega a chave e sai, eu verifico o apartamento, vou até o meu carro e pego as minhas malas, deixo no apartamento e volto para a sede.

Fico observando o velho falando sobre a necessidade de criarem um novo produto para lançamento no próximo mês, ainda não entendi qual é a jogada dele, achei que ele ia nos deixar responsáveis pelos cassinos da Tailândia, mas ele nos colocou na sede e estamos há duas semanas sem fazer nada, absolutamente nada. Eu aproveitei a folga para me adaptar na nova faculdade, peguei vários trabalhos com os professores para recuperar o trimestre perdido, pelo visto o velho cobrou alguns favores por lá, ele fez a minha transferência no meio do semestre e mudou o Perth de faculdade também, agora ele está estudando comigo.
O meu celular toca e eu abro a mensagem, o Perth que está ao meu lado me mandou uma imagem de um bonequinho dando um tiro na cabeça, eu desligo e volto a prestar atenção no presidente.
Quando a reunião acaba o presidente faz um sinal para ficarmos, nós esperamos todos saírem e ele olha para mim.
- Soube que você conseguiu um apartamento.
Velho maldito, está me rastreando. Eu não respondo e ele sorri.
- É uma decisão muito arriscada, isso pode te desmascarar.
- Acho que esse é um problema meu.
- Tem certeza que vai fazer isso?
- Como eu disse, esse é um problema meu.
Ele fica me encarando e tenho certeza que está imaginando as várias formas que gostaria de me matar.
- Se pedirem a sua cabeça eu vou entregar.
Eu ignoro o que ele disse e levanto.
- Agora que a reunião acabou eu vou me retirar, espero que não se incomode, mas eu tenho que me instalar.
Ele faz um sinal com a mão para eu sair e o Perth levanta.
- Você não.
Eu paro e olho para o Perth, como não confio no velho eu espero pra ver o que quer, ele pega uma pasta e entrega para o secretário que leva para o Perth.
- Esse homem está com uma dívida atrasada, estendemos o prazo três vezes e ele não pagou, você vai com os nossos homens resolver isso.
- Ele não vai!
Eu vou até o Perth e tiro a pasta da mão dele.
- O senhor tem muitos homens, arrume outra pessoa pra isso, o Perth não vai se envolver.
- Isso não é problema seu, Nanon, vai embora!
- Eu disse que ele não vai! Perth, já está tarde, vai embora.
O Perth levanta e o velho olha irritado, eu olho para trás e faço um sinal.
- Agora, Perth!
O Perth sai rápido e o avô dele se aproxima de mim, pega uma arma e aponta para a minha cabeça.
- Você se dá valor demais, moleque!
- Então me mate!
Ele destrava a arma engatilhando e eu encaro ele.
- Se o senhor me matar o Perth nunca vai te perdoar, ele vai atrás do pai e do irmão. Eu aposto que o pai dele vai adorar te matar para poder ficar com os seus negócios. - Ele me olha mais irritado ainda, porque sabe que eu estou certo. - Eu sou a única coisa que mantém o seu neto ao seu lado e o senhor sabe disso, então pare de me ameaçar.
Sinto a arma tremendo e isso me preocupa mais do que a sua ameaça, sei que ele não me mataria, mas tremendo assim um acidente pode acontecer. Eu seguro a arma e abaixo.
- Não tente envolver o Perth nos seus negócios ilegais, o senhor tem homens fazendo fila para te agradar, use eles.
Eu espero e ele não fala nada, mas continua com o dedo no gatilho mesmo com a arma abaixada, eu me curvo me despedindo e saio, quando chego na minha sala o Perth corre pra mim.
- Como você está?
Ele olha pelo meu corpo e respira aliviado.
- Ele está muito bravo?
- Eu já resolvi isso. Perth, você não pode aceitar fazer essas coisas.
- Era só pra cobrar a dívida.
- Você acha mesmo?
Ele suspira e nega.
- Aprenda a dizer não para o seu avô, ele só vai te respeitar quando você enfrentar ele.
- Eu sou herdeiro dele, Nanon, os negócios vão ficar para mim.
- O dia que isso acontecer eu vou embora.
- Nanon...
- Você disse que eu poderia sair quando quisesse, eu vou ficar ao seu lado, mas essa é a minha condição, eu não vou fazer nada ilegal e você também não.
- Isso não é justo!
Eu sorrio, vou até a minha mesa e pego as minhas coisas.
- Te vejo amanhã, vai embora também.
Ele concorda e sai comigo, entra na sala dele e eu vou embora.

Sirvo a terceira taça de vinho e fico olhando para ela, começo a ficar preocupado, porque ele está demorando tanto?
O interfone toca e eu corro para ele.
- O morador do apartamento ao lado chegou.
- Muito obrigado, Alf!
Eu desligo e corro para o banheiro, me arrumo e saio para fora, eu subornei o porteiro para me avisar quando ele chegasse, valeu cada centavo. Fico olhando para os números subindo, fecho os olhos, respiro fundo, encosto na parede e tento parecer relaxado, mesmo estando muito nervoso, três andares, dois andares, um andar... O elevador apita e a porta abre, ele me olha em choque e eu sorrio.
- Quem é você?
- Você me procurou por oito anos, mas me esqueceu em dois?
Ele continua me olhando como se estivesse vendo um fantasma, a porta do elevador começa a fechar, eu vou até ela e aperto o botão, quando ela abre mais uma vez ele avança com tudo, segura o meu rosto e me beija.

VIPOnde histórias criam vida. Descubra agora