Invasão

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A reunião acaba com gritos e pessoas sendo levadas para fora por seguranças, assim que todos saem eu pego as minhas coisas e saio também.

— Nanon? Ei, está indo aonde agora?

— Tenho outra reunião pra ir.

O Chimon olha para o Lego que nega com a cabeça, chego no elevador e o Hiroshi já está segurando a porta.

— Nanon, mas que merda, você tem que parar um pouco, passou a manhã inteira com o Perth demitindo os funcionários da empresa do avô dele e demitiu quase toda a diretoria aqui. Você não precisa fazer tudo sozinho, nós não estamos aqui pra te ajudar?

— Vocês vão me ajudar, quando chegar a hora, essa é uma briga que vocês não vão se envolver, é perigoso demais.

— É perigoso pra você também!

Eu ignoro esse comentário e entro no elevador.

— O que você quer que eu faça, Nanon?

— Agora vocês podem ir para casa, está tarde.

— Mas...

A porta se fecha sob o olhar irritado e a voz silenciada do Chimon.

— Pensei que ele seria o presidente da empresa.

— Vai ser.

— Mas ele não sabe o que você está fazendo?

— Não e nem vai saber.

— Você tem sérios problemas de confiança, Nanon!

A porta do elevador abre e eu ignoro esse comentário também, vamos até o carro e o Hiroshi faz um sinal para os seus homens que começam a entrar nos carros, eu suspiro e ele acena como se concordasse com a minha insatisfação.

— Eles vão melhorar.

— Espero que sim, não temos tempo para erros.

Ele concorda mais uma vez e entramos no carro.

Chegamos no prédio que eu aluguei para a nossa empresa e vamos para o quinto andar, foi o único que conseguimos equipar até agora, quando entramos vários homens e mulheres estão espalhados, alguns treinando, outros apenas conversando, assim que nos vêem todos ficam alertas e vem até nós, o Hiroshi começa a dar ordens organizando eles, eu aproveito e vou para o vestiário me trocar, quando volto todos já estão alinhados esperando por mim.

— O que vamos fazer hoje terá que ser rápido e preciso, estamos treinando há duas semanas, vocês sabem o que fazer.

— Sim, senhor!




Visto a máscara, verifico a arma colocando o silenciador e destravo, faço um sinal para o Hiroshi que já está de mascara também e saimos do carro, os outros se espalham como foram orientados, ainda são descuidados, mas eles vão aprender da melhor forma, em campo.

Ando pelo beco até chegar naquela mesma porta em que estive há meses atrás, mas dessa vez não é uma missão de resgate, estou aproveitando que a organização está um caos para derrubar cada um dos membros que restaram e os chineses são a maior ameaça, não por serem mais fortes, mas por conhecerem as minhas fraquezas, então é deles que vou me livrar primeiro.

Ouvimos um barulho e a porta abre, o Hiroshi derruba o homem com um golpe certeiro e eu seguro a porta para não fechar, dois seguranças levam o homem desmaiado e eu entro primeiro.

Andamos pelo longo corredor, quando temos que nos dividir eu faço um sinal para um grupo ir para a esquerda e vou para a direita, o Hiroshi deveria ir com o outro grupo, mas quando discutimos sobre o plano de invasão ele se recusou a sair de perto de mim. Entramos pelo corredor que tem várias portas e nos preparamos, cada porta fica com três homens, faremos ataques simultâneos já que estamos invadindo sem saber o que vamos encontrar. Eu levanto a mão e começo a levantar os dedos, um, dois no terceiro abrimos as portas de uma vez e atiramos, tudo aconteceu tão rápido que os chineses não tiveram tempo de revidar.

Verifico cada uma das salas, muitos feridos, mas como planejado nenhum dano permanente, os nossos homens amarram ou apagam aqueles que representam ameaças e separam tudo que possa incrimina-los, armas, drogas, documentos, equipamentos eletrônicos, qualquer coisa, deixo eles cuidando disso e vou na direção do restaurante, o líder não estava em nenhuma das salas, então deve estar lá.

Passos pelas portas e sinto uma dor forte na altura do estômago, ouço um segundo disparo e dou um passo para trás indo para o lado porta.

— Nanon!

O Hiroshi corre na minha direção e abre a minha camisa enquanto eu tento respirar, tateia e me vira devagar.

— Está tudo bem, o tiro acertou o colete.

— Você devia ter me esperado! Quantos estão lá?

Fecho os olhos e tento me lembrar das mesas e das pessoas.

— Acho que seis, já estavam me esperando, por isso me pegaram de surpresa.

— Está melhor?

Eu respiro fundo e fico reto, fecho a camisa e aceno.

— Vamos acabar com isso de uma vez.

Eu seguro a fechadura e espero ele estar pronto, ao seu sinal eu abro a porta e o Hiroshi já entra atirando, vou atrás dele e atiro também, mais um tiro me acerta no peito e outro passa de raspão pelo meu braço, mas antes mesmo de chegarmos nas primeiras mesas todos já estão caídos, exceto o líder que está com as mãos levantadas rendido, vou até ele enquanto o Hiroshi entra na cozinha e novos tiros são ouvidos, o líder me olha curioso, mas não fala nada, faço um sinal para ele sentar, sento na sua frente e ligo o aparelho que vai distorcer a minha voz.

— Quem é você?

Eu já tinha pensado sobre isso, mesmo preso ele tem contatos aqui fora, então temos que apontar as armas dele para os alvos certos.

— Você escolheu o lado errado, traiu a nossa aliança e agora vai pagar.

— Quem está no comando?

— Só existe uma pessoa no comando, sempre existiu apenas uma pessoa, um único líder e você o traiu.

A surpresa no seu rosto mostra que ele entendeu o recado, todos sabem que se pudesse o antigo líder da organização viria atrás de cada um dos que o traíram, com as ordens de prisão do velho e do pai do Ohm surgiram boatos que o antigo líder entregou eles como vingança, então não é difícil pra ele acreditar no que estou dizendo.

— E agora?

Eu levanto e aponto a arma.

— Agora você morre!

Atiro uma única vez no seu peito, é arriscado, mas eu treinei para acertar um ponto exato que não vai mata-lo, mas com certeza vai fazer ele acreditar que a intenção era essa, ouço as sirenes e me afasto, quando chego na porta o Hiroshi me encontra, segura o meu braço e me leva para fora.

— Quanto tempo nós temos?

— Não muito, a polícia já está quase aqui.

Um carro freia na nossa frente e antes que as portas estejam fechadas já está acelerando.



Chego em casa dividido entre querer ir embora, porque esse lugar só me faz lembrar do Ohm, e ficar, porque esse lugar só me faz lembrar do Ohm. Vou para o quarto e tiro a camisa com cuidado, olho os dois hematomas dos tiros que levei e o curativo que fizeram onde a bala pegou de raspão, movimento o braço e ele dói, isso vai atrasar os meus planos em alguns dias. Olho para o banheiro e penso em tomar um banho, mas desisto e vou fazer o que sempre faço quando chego em casa, pego o meu celular e entro nas câmeras do apartamento do Ohm, apesar de ser quase meia noite ele ainda está acordado olhando para a câmera,  é como se soubesse que eu o observo...

São quase duas horas quando ele finalmente suspira e levanta, apaga a luz vai para o seu lado da cama, deita e pega o meu travesseiro, mal consigo ver ele iluminado apenas por um abajur, mas o que eu vejo é o suficiente pra me fazer chorar, pois ele está limpando o rosto, está chorando também. Passo o dedo tremendo pela tela enquanto tento me convencer que manter ele distante agora é mais seguro.

— Só mais um pouco meu amor, logo nós estaremos juntos!

Ele abraça o meu travesseiro com força e fica parado, quando finalmente dorme eu deito na minha cama e fecho os olhos.

— Só mais um pouco, meu amor...

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