Dívida de vida

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Chego na empresa, vou para a minha sala, me aproximo da mesa e vejo a placa com o nome James Muller, todos os meus planos deram errado e tudo começou aqui. Pego a placa e jogo no lixo, batem a porta, eu mando entrar e sento fazendo um sinal para o secretário do velho sentar também.

— O senhor mandou me chamar?

— Sim, eu  quero conversar sobre o seu futuro, Mix.

Ele não esconde a surpresa, mas espera eu continuar.

— Você já deve ter entendido o que estamos fazendo aqui, sei que você tem ajudado o Perth, mesmo não achando que ele está pronto para o cargo, eu agradeço por isso.

Ele acena, mas ainda não diz nada.

— A partir de hoje os negócios ilegais do presidente Tha foram completamente desvinculados da empresa e você terá que escolher o que vai fazer a partir de agora.

— Escolher?

— Sim. Quando eu estive no Japão me encontrei com a mãe do Perth, ofereci pra ela a oportunidade de assumir os negócios ilegais da empresa se ela passasse as ações que estão no seu nome para o Perth.

— Ela aceitou?

— Aceitou, a transferência das ações aconteceu há pouco. Você tem duas escolhas, Mix, pode continuar aqui e trabalhar como secretário do Perth ou ir trabalhar com a mãe dele.

— Vocês querem que eu fique?

— Sinceramente? Não tenho certeza se confio em você, mas o seu conhecimento será de grande ajuda para o Perth.

— E se eu não quiser escolher nenhum dos dois?

— Encerraremos o seu contrato com uma compensação adequada pelos anos dedicados a empresa e ao presidente.

— Ninguém sai, Nanon, você sabe disso.

— Eu não sou o velho e o Perth também não, se você quiser sair nada vai acontecer.

Ele me encara por um tempo, então levanta e vai até a janela, cruza os braços e fica olhando para fora, eu dou um tempo para ele pensar.

— Você sabe como eu vim parar aqui, Nanon?

Ele me olha e eu nego.

— Eu era como você... Você antes... Eu trabalhava de garçom e mal conseguia pagar as contas, não tenho família ou amigos, vivia um dia de cada vez. Todo dia eu acordava pensando "Talvez seja hoje que vou acabar com essa tortura."

Ele suspira e observa algo distante pela janela, provavelmente não a paisagem, mas a sua própria vida.

— Um dia eu fui contratado para trabalhar em uma festa, eram poucas horas e muito dinheiro, eu aceitei sem pensar duas vezes, enquanto servia as bebidas percebi que um homem estava estranho, muito nervoso e bebendo sem parar, alguma coisa nele me fez ficar atento.

Ele olha pra mim por um momento, então olha para a janela novamente.

— Tudo aconteceu rápido, o presidente Tha chegou na festa e o homem que estava do outro lado da sala foi pra cima dele com uma taça quebrada, eu corri e bati nele com a bandeja, não sabia lutar naquela época... Eu não fui rápido o bastante e o presidente se feriu, mas nem perto do que teria acontecido sem a minha intervenção. Ele foi levado para o hospital, o homem que fez aquilo sumiu da festa, todos continuaram agindo normalmente como se nada tivesse acontecido e eu voltei a trabalhar. Quando a festa acabou alguém foi me procurar, me levaram até o presidente que já estava em casa, ele disse que tinha uma dívida de vida comigo e me ofereceu um emprego, eu achei aquilo muito estranho, mas acabei aceitando pelo dinheiro. O presidente sempre me tratou como um filho e, assim como fez com você, pagou os meus estudos, me tirou daquela vida miserável, fez de mim o homem que eu sou... Ele diz que tem uma dívida de vida comigo, mas a verdade é que ele me salvou.

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