Laços

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Entro pelo barracão abandonado e estaciono, pego o meu celular e o revólver, e saio do carro,  ando até um canto cheio de entulhos, empurro uma pequena placa escondida que abre dando acesso a um corredor escuro, após alguns metros os sensores são ativados e as luzes se acendem, ando desviando de algumas macas e cadeiras de rodas, quando estou chegando na porta ela abre e sou atingido por força quando a Love me abraça.

— Ei, vai com calma.

— Me desculpe, me desculpe, me desculpe!

A sua mão vai do meu braço para o ombro e depois para o peito.

— O que aconteceu? Porque você voltou? No que você se meteu? Você prometeu que não faria nada assim novamente, Nanon!

— Ok, se acalma e vamos entrar, preciso de um remédio e que você tire isso de mim, acho que a bala está pegando em alguma veia, nervo ou algo assim, a minha mão está amortecendo.

— Merda!

— Isso não é muito educado vindo de uma médica.

— Vai tomar no...

— Estou brincando, agora aquele remédio.

— Consegue entrar sozinho?

Eu aceno confirmando e ela abre a porta pra eu passar, vejo alguns pacientes clandestinos em camas alinhadas como em uma sala de emergência, desde que construimos esse lugar ele ficou popular entre as pessoas em situação ilegal no país, antes era apenas uma salinha no fundo de uma casa de jogos, com o tempo procuramos um lugar maior e alguns doadores que tem muito dinheiro, mas quando precisam de atendimento médico não podem ir no hospital, foi assim que conseguimos todos os equipamentos e remédios.

— Vai me dizer em que merda você se meteu?

Ela se aproxima com uma bandeja de alumínio e antes que eu consiga responder já está cortando a minha camisa, o meu ombro dói com o líquido de cor estranha que ela joga em mim, então aplica uma injeção, o alívio é quase imediato.

— Para de enrolar e conta a história de uma vez, Nanon.

— Eu fui levar o meu noivo no aeroporto e...

— NOIVO?

Ela dá um grito estridente e eu fico preocupado com o bisturi na sua mão, de repente ela fica séria e aponta ele para o meu rosto.

— É o VIP bonitão?

— Claro.

— Ai Meu Deus, eu não acredito! Como você acabou ficando noivo?

— Eu pedi a mão dele em casam...

— AHHH!

— Pelo amor de Deus, Love, pára com isso! E solta esse bisturi se não for usar.

Ela faz uma careta e se aproxima, enquando cuida do ferimento eu conto a história desde que parti.

— Ele te reconheceu de cara?

— Ele sempre foi assim, sempre me reconheceu.

— Para de jogar na cara o seu romance perfeito e continua a história.

Eu falo sobre o apartamento, os seus pais, a casa, sobre o velho querer que eu assuma a presidência, o NewYear e sobre a mãe do Perth, a Love toda hora me interrompe fazendo perguntas ou comentários, quando termino ela já está colocando um curativo no meu ombro.

— Achei que você nunca mais ia se meter nessas confusões.

— Eu sabia que não seria fácil, mas está acabando.

— Quando você vai embora?

— Em três dias, você devia voltar comigo.

— Você sabe que eu não posso, essas pessoas precisam de ajuda.

— E você precisa voltar para casa.

— Eu não tenho uma casa, Nanon, não tenho para quem voltar.

— Então volte por mim.

Os seus olhos se enchem de lágrimas e ela senta na cadeira na minha frente.

— Isso não é justo...

— Não é, mas o seu lugar não é aqui, essas pessoas vão encontrar alguém para ajudar, sempre terá alguém pra ajudar. Volte comigo.

A Love olha em volta e pra mim, sei que fazer ela escolher entre os pacientes e eu é quase cruel, mas não quero deixar ela pra trás novamente.

— E eles?

— Eu contrato alguém para cuidar deles por enquanto, depois fechamos a clínica.

A porta abre  e nós viramos para ver quem chegou.

— Papai!

A Love revira os olhos quando o Minato corre e pula no meu colo, eu o abraço e faço sentar com cuidado antes que os pontos se abram.

— Você voltou?

— Não, só vim por alguns dias, mas estou tentando convencer a mamãe ir embora comigo, o que você acha?

— Eu vou morar com o papai?

Eu olho para a Love sem saber o que dizer, ela suspira e acena.

— Vocês vão ficar em uma casa bem bonita e você vai poder me ver sempre que quiser.

— Oba!

Ele me abraça batendo no meu ombro, a Love olha irritada, ela odeia ter que refazer pontos. O meu celular toca e eu vejo a mensagem com o local para onde levaram as pessoas que nos atacaram.

— Eu preciso ir, prepare tudo, nós vamos em dois, no máximo três dias.

— Mas...

— Não se preocupe, vou pedir pra encontrarem alguém até o final do dia pra ficar aqui.

Ela não parece muito convencida, mas concorda mais uma vez.

— Eu tenho que ir agora, Mini.

— Posso ir com o papai?

— Hoje não, mas eu volto para buscar vocês, eu prometo.

— Tabommm...

Eu coloco ele no chão e levanto, a Love vai até o armário, pega uma camisa e trás pra mim, tiro o que sobrou da minha e visto a outra.

— Se precisar de ajuda com alguma coisa pra viagem me liga.

— Os documentos...

— Eu cuido disso, vou mandar fazer identidades falsas pra vocês.

— Pra onde você vai agora?

— Você sabe que eu não posso contar.

— Então volta e passa a noite aqui com a gente.

— Eu volto.

Ela se aproxima e me abraça deitando a cabeça no meu ombro bom.

— Senti a sua falta!

— Eu também!

Eu bagunço o cabelo espetado do Minato e vou embora, quando entro no carro o celular toca novamente, dessa vez é o Hiroshi.

— Como vocês estão, Hiroshi?

— Estamos bem, mas o menino insiste que quer saber como o senhor está, ninguém sabia onde te encontrar.

— Fale pra ele que estou bem, eu estava na clínica, leve o NewYear para lá, até descobrirmos quem entregou a nossa posição não é seguro na mansão.

— Você acha que foi um dos nossos?

— Você decidiu na última hora qual caminho seguir, não tem como terem tanta sorte assim.

— Eu posso descobrir para o senhor.

— Não, leve o NewYear para a clínica e proteja ele e a Love.

— Sim, senhor!

Eu desligo, confiro o horário e acelero, tenho que resolver tudo isso antes do Ohm pousar em Bangkok.

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