Tons de Cinza

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- Qual a sua cor favorita?
- Azul e a sua?
- Azul é a minha nova cor favorita!
Eu dou risada, enquanto contorno cada músculo nas suas costas deixando um rastro na espuma que cobre a sua pele.
- Você tem cara de quem gosta de preto, Ohm.
Ele encosta em mim e eu repouso os braços sobre os dele nas bordas da banheira.
- Eu prefiro o cinza... As pessoas veem o mundo em preto e branco, eu vejo ele em tons de cinza. Certo e errado, bem e mal, amor e ódio... Eu acho que nada é tão simples ou absoluto, uma pessoa pode fazer coisas erradas tentando acertar ou até mesmo fazer o que acha certo, mas estar errado. Até as pessoas mais puras tem o mal dentro delas e o amor e o ódio são sentimentos tão próximos que as vezes se misturam... Essa mistura entre o preto e o branco nos leva ao cinza. Tudo no mundo é em tons de cinza, o preto e branco, até mesmo o colorido, tudo isso é pura ilusão.
- É um pensamento meio deprimente...
- A vida é deprimente.
Nós ficamos em silêncio e eu beijo o seu pescoço, ele inclina a cabeça para o lado e eu beijo mais uma vez.
- E o seu lugar favorito, Nanon?
Eu penso por um momento.
- Koh Tao, praia e montanha, tranquilidade e animais marinhos, é um lugar perfeito. Você já foi?
- Não. A minha mãe não gosta de praias, ela dizia que a areia, o mar e o sol acabavam com a pele e acha que viagens dentro do próprio país são passeios, não viagens, então sempre que viajamos foi para outros países.
Quanto mais eu sei sobre a mãe dele, menos eu gosto.
- Você devia ir, é realmente lindo.
- Vou te levar lá na próxima semana.
Eu ignoro a última parte e o beijo.
- Qual a sua comida favorita?
Ele suspira, pois sabe o que estou fazendo, beija o meu braço e responde.
- Gosto de comidas simples do dia a dia, você?
- Qualquer coisa com queijo, muito queijo.
Nós continuamos fazendo perguntas aleatórias um para o outro, é o quinto dia que estamos aqui e ontem ele começou com isso. As primeiras perguntas que ele fez me deixaram em alerta, não é o tipo de conversa que eu imaginei ter com ele, mas eram realmente coisas aleatórias, animais de estimação, amigos, filmes, músicas... acho que ele queria saber informações que os detetives não conseguiram. Depois de algumas perguntas eu percebi que quanto mais eu sabia sobre ele, mais eu queria saber, algumas respostas dele são previsíveis como o filme favorito ser O poderoso chefão, mas outras são tão imprevisíveis, como ele gostar literatura clássica, romances mais especificamente.
- Onde você se vê daqui cinco anos, Nanon?
- No mesmo lugar que estou hoje, provavelmente.
- Você não quer fazer nada, você faz tantos cursos, não tem nenhuma ambição?
- Não, eu aprendi há muito tempo a não sonhar, não planejar, quando não temos expectativas não nos decepcionamos... E você?
- Eu espero que em cinco anos você tenha aceitado se casar comigo.
Quando eu não digo nada ele vira pra mim.
- Me desculpe, não devia ter dito isso.
Eu respiro fundo e aceno, ele me beija e vira novamente, dessa vez permanecemos em silêncio por vários minutos até ele segurar a minha mão e beijar.
- Você vai se atrasar se não sairmos do banho.
Eu concordo, ele levanta, segura a minha mão e me ajuda. Nos secamos ainda em silêncio, quando estou pronto ele vem até mim e coloca um cachecol no meu pescoço.
- Eu sei que eu não devia ter dito aquilo, mas já que está estranho, posso deixar mais estranho?
- Ohm...
Ele fica me olhando daquele jeito que me faz querer abraçar e o proteger, eu desisto e concordo, então ele segura o meu rosto.
- Você me ama.
Eu olho nos seus olhos e quero fugir dessa conversa, mas concordo.
- Você gosta de ficar comigo.
Eu concordo mais uma vez.
- Você me culpa pelo que aconteceu, entre nós ou com a sua mãe?
- Não.
Ele sorri e me beija.
- Namora comigo?
- Ohm...
- Não precisa responder agora, vai para o curso, faz o que você gosta e pensa sobre isso. Eu te amo muito e não quero te perder. Prometo que vou respeitar os seus limites, não vou gastar dinheiro com você, nem forçar a barra, prometo até que não te peço em casamento em cinco anos se você quiser, mas pensa nisso, vamos tentar... Só tentar...
- E se a minha resposta for não?
- Eu te procurei por anos, agora que te achei não vou desistir até te conquistar.
- Você sabe que não vai dar certo.
- Vai dar certo, eu sei que vai. Fomos feitos um para o outro, somos perfeitos juntos, você sabe disso também!
- Isso só vai nos fazer mal.
- Se você me deixar amanhã você vai ficar bem?
Nós dois sabemos a resposta para isso, nenhum de nós vai ficar bem.
- Se vamos sofrer de qualquer jeito porque não tentar ser feliz?
- Porque quanto mais isso se estender, pior vai ser.
- Você não é o tipo de pessoa que foge ou desiste, porque está desistindo de nós? Do que você tem medo?
Ele fico olhando nos seus olhos e penso nisso, porque eu estou com tanto medo? Eu realmente não sou assim, eu o amo e ele não tem nenhum vínculo com a família, nem tem culpa pelo que aconteceu. Eu gosto de ficar com ele e quanto mais tempo ficamos juntos, mais eu me apego. Tudo isso devia ser o suficiente para passar por cima dos meus preconceitos e ficar com ele, então porque eu estou com medo? Continuo olhando nos seus olhos e toda a fragilidade e vulnerabilidade estão ali, nos meus braços ele sempre vai ser assim, porque ele não tem medo de ser ele mesmo comigo. Então eu percebo, é disso que eu tenho medo.
- Eu não quero que você sofra...
Ele fica surpreso, segura as minhas mãos e beija.
- Então apenas me ame! Me ame intensamente, me ame com toda a sua alma. Seja meu e eu serei seu... Me faça feliz...
Os seus olhos se enchem de esperança e medo, odeio ver ele assim, odeio saber que estou fazendo isso com ele.
- Isso não vai dar certo, Ohm...
- Só vamos saber se tentar.
Ele beija a minha mão mais uma vez e aperta, eu sei que essa é a pior decisão que eu já tomei na minha vida, mas eu digo mesmo assim.
- Ok, vamos tentar.

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