Muita informação invade minha cabeça quando começo a despertar. Sinto um cheiro bom de shampoo, algo pinicando meu braço e minha bochecha, e ouço batidas frenéticas na porta. Abro os olhos com dificuldade, o peso do sono profundo no qual tenho certeza que me envolvi me forçando a fecha-los novamente, mas minha visão continua escura, e preciso de alguns segundos para me lembrar de que estou em um quarto de hotel, onde há uma cortina com blackout.
Eu resmungo algo que nem eu mesma consigo compreender, e tento focar mais no ambiente ao meu redor, naquele cheiro e no fato de que eu e Camila estamos atracadas uma na outra.Não a vejo, mas agora sei que o que pinica minha pele é seu cabelo. Meu braço está contornando seu corpo, sua cabeça deitada no meu peito, e sua mão repousa na minha barriga, enquanto nossas pernas se entrelaçam. Ai, meu Deus, o que aconteceu? Não me lembro de termos nos tocado durante a noite, quem dirá nos abraçado, mas cá estamos nós, acordando como um casal.
Meu corpo inteiro fica rígido. Não é como se eu tivesse aversão ao toque, porque sei que não tenho, mas não sou a maior fã de trocas de afeto. Isso desenvolveu ao longo do tempo, e mesmo quando me deito com alguma mulher e acabamos dormindo juntas, eu nunca acordo grudada a elas. Não gosto que me encostem fora do sexo, e sei que isso se deve às minhas muralhas que são densas demais para me deixar sentir o toque, o que faz ser quase um incomodo ter alguém me abraçando, por exemplo, e eu não sentir aquele abraço. Mas estou sentindo meu coração se acelerar à medida em que meu cérebro vai se dando conta de que estou abraçando uma mulher na qual nem beijei. E não só isso, meu corpo está paralisado, não consigo sair de perto.
Não sei lidar com sentimentos mais fora do palco, enquanto estou sóbria, então não sei o que fazer. Já estou imaginando diversos cenários onde não consigo me tirar dessa cama quando mais uma sequência de batidas surgem, e, dessa vez, acordam Camila em um susto. Sua cabeça se levanta em um impulso, e um segundo depois, ela já pulou para fora
do colchão, me causando um alívio que não consigo nem descrever.— O que você está fazendo? – Ela pergunta, a voz rouca, e finalmente consigo reagir para me virar para o lado e acender o abajur, que tem a luz mais forte do que eu imaginava. Consigo enxerga-la agora.
Não reparei ontem, mas Camila está com um short curto de pijama, e uma blusa larga, mas que não cobre toda sua coxa.
Seu corpo é bonito, mais do que gostaria que fosse para meu próprio foco.— Nada? – Eu me levanto, obrigando meu cérebro a esquecer o que aconteceu a alguns segundos atrás para conseguir vestir minha casca novamente. – Eu acordei e você estava deitada no meu peito.
— Não me lembro de ter feito isso – Camila diz, mas não como se tivesse me acusando, e sim tentando se lembrar de algo. Batidas novamente. – Você pediu serviço de quarto?
Ela se atrapalha ao enfiar os pés nos chinelos e começar a sair para fora do quarto, acendendo as luzes e me causando uma dor de cabeça pela explosão clara em meus olhos.
Confiro meu celular ao lado do abajur, e me assusto quando percebo que horas são. Onze da manhã, e há mais de sete ligações perdidas da minha agente enfeitando a barra de
notificação. Puta que pariu.
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Fallen Angel
FanfictionCamila, uma recém-chegada à pequena cidade de New Richland, sem opções, aceita o trabalho de assistente pessoal da mulher conhecida nacionalmente como a bailarina mais prestigiada da atualidade, e a única sobrevivente de um acidente que matou toda s...