Camila, uma recém-chegada à pequena cidade de New Richland, sem opções, aceita o trabalho de assistente pessoal da mulher conhecida nacionalmente como a bailarina mais prestigiada da atualidade, e a única sobrevivente de um acidente que matou toda s...
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Quinta e sexta se passam rápido. Encontro com Lauren apenas quando nos sentamos na mesa para comer, e a vejo sempre lá fora, sentada no mesmo banco, encarando New Richland com um cigarro entre os lábios. Não a vejo fumando mais do que um por dia, e o tabaco as vezes é substituído pela maconha, porque consigo sentir o cheiro. Isso não me surpreende, afinal, estamos em 2024 e ela é toda fodida, estou surpresa por não ter pinos de cocaína espalhados pela casa, embora acho que não há porque isso afetaria diretamente seu desempenho no palco, e a deduzir pelas horas que ela passa dançando, Lauren prioriza demais sua qualidade no palco para cair nas drogas pesadas.
Acho que estou fazendo uma boa leitura dela, se levar em consideração que Lauren parece uma pedra sem emoções.
Como combinado, o motorista que Lauren falou chegou às quatro em ponto, e ela já estava pronta, com a mala pequena na entrada da casa. Eu comecei a me preparar duas horas antes, para ter certeza de que não iria atrasar nem um minuto sequer e causar um mal humor nela, e quando a buzina soou, eu também já estava pronta, descendo as escadas. Colocamos as coisas dentro do porta-malas, e eu estava ansiosa, não vou mentir. Estou saindo de New Richland depois de três meses, e nenhum centavo está sendo descontado do meu bolso.
— Se cuidem vocês duas, e não deixem de me dar notícias quando chegarem – Gracie pede, ajeitando o cabelo de Lauren, que não parece gostar muito do toque pela forma que seu corpo fica rígido, mas também não se afasta. – Você salvou meu número, não é, Camila?
— Salvei, vou te mandar uma mensagem assim que chegarmos – garanto, para a tranquilizar, e Gracie sorri.
— Ótimo! – Ela da um passo para trás, deixando Lauren livre. – Agora vão, antes que se atrasem para o vôo.
Nós nos despedimos, e eu entro no banco de trás da Mercedes preta que veio nos buscar junto com Lauren. O banco é de couro marrom, e tem um cheiro tão agradável, além do ar-condicionado, que eu poderia ficar sentada aqui por horas sem reclamar.
— O caminho de sempre, senhorita? – O motorista pergunta, simpático, olhando para Lauren do retrovisor.
— Sim, e o vôo é seis horas, então não precisa se preocupar com a velocidade – ele assente, colocando seu cinto, e da partida no carro em seguida.
Pesquisei hoje pela manhã, e Lauren e eu vamos ficar uma hora e meia juntas dentro deste carro, até a chegada da cidade menos antiquada que New Richland, que possuí um aeroporto. Tentei pensar em alguns assuntos que eu poderia trazer para não deixar o clima desagradável, mas com os olhos focados no telefone, digitando freneticamente para várias pessoas, Lauren não parecia bem querer conversar, ou se importar com o silêncio, então fico calada, e pego o meu aparelho também, que possuí algumas mensagens de Dinah, perguntando como estão as coisas, uma de Austin, o cara que eu me agarrei na festa e depois descobri que namorava, dizendo que fazia tempo que não me via pela cidade, e perguntando se eu estava bem. Ignoro sua mensagem. Algumas notificações do Instagram, outras do Twitter, outra do aplicativo que uso para leitura, me lembrando que eu tenho livros na estante inacabados. Apago o telefone, sem muita vontade de fazer nada dentro da internet agora.
