Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é ir até o quarto da minha mãe, onde mantenho exatamente como da última vez em que ela esteve dentro dele. Com a colcha de cama amarela, a janela sempre entreaberta, para que o sol banhe os cactos que ela cuidava, mas não de mais. As fotografias minhas quando bebê, fotos dela e do meu pai que não cheguei a conhecer devido à morte que parece que me persegue encima do hack da TV. Encaro a foto deles com atenção agora. Estou lidando com morte novamente, e, dessa vez, de uma garota que ainda era uma criança quando os pais morreram, e precisou crescer sozinha. Não sei como eu teria reagido, quem eu seria hoje caso precisasse lidar com algo tão repentino e significativo. Embora má, a morte sempre tentou pegar leve comigo. Não conheci meu pai, então não precisei lidar com seu falecimento, e com minha mãe, não foi como se eu estivesse vivendo minha vida, e de repente recebesse uma ligação avisando que ela não estava mais aqui, que tinha ido embora sem esperar pela minha despedida, meu abraço, meu beijo, meu adeus. A morte me deixou aproveita-la ao máximo durante três meses. Ela me avisou previamente que levaria minha mãe, que eu deveria me preparar, passar mais tempo com ela. E foi o que fiz, abandonei minha vida e passei os últimos meses dela em sua companhia, fazendo as coisas que ela gostava, ouvindo sua risada, colecionando o que um dia eu sabia que não viveria mais. Agora, como será ter isso arrancado de você sem aviso? Você dormir, e na manhã seguinte, ser uma criança completamente sozinha? Ainda que minha mãe tivesse morrido de repente, eu sou uma adulta, encontraria uma forma de me virar, mas e se Lauren Jauregui não tivesse Gracie? O que Lauren Jauregui é hoje?
Ela dança, é gata pra caralho, e tem uma fortuna milionária. É tudo que sei, e o que posso teorizar é que seu dinheiro deve ser do tamanho dos traumas em sua cabeça.
Me deito na cama da minha mãe. Os lençóis ainda tem seu cheiro adocicado, e não sei se terei coragem de lava-los algum dia. Estando aqui, penso em como consegui ficar tanto tempo longe dela enquanto estava em Denver, tocando para crianças, para públicos, fazendo o que não me dava muito retorno financeiro, mas era o que eu genuinamente gostava. Tocar é como colocar tudo pra fora, como quando você chora, e deixa doer.
— Consegui um emprego, mãe – sussurro, abraçando o travesseiro. – Devo te contar que minha intenção é sair dessa cidade o quão antes possível. Vou levar suas coisas mais importantes comigo, e prometo que não vou vender essa casa. Talvez, com o dinheiro que a Sra. Jauregui vai me pagar, consigo até dar uns trocados a alguém quando não estiver mais aqui para passar o olho de vez em quando, conferir se está tudo em ordens. Mas não posso ficar aqui. Você sempre quis que eu seguisse meus sonhos e ele está no piano, e não posso apresentar aqui. Não poderia ficar nem em Denver, teria de ir para uma cidade que apreciasse melhor espetáculos, mas estou dando um passo de cada vez, não temos dinheiro para saltos. Ainda estou esperando um caça talentos me encontrar e me levar para a Broadway.
Rio comigo mesma, e aspiro o cheiro no travesseiro outra vez. As vezes acho que seu perfume já sumiu, mas minha mente ainda se lembra o suficiente para o sentir por todo lugar desta casa, principalmente do quarto.
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Fallen Angel
FanficCamila, uma recém-chegada à pequena cidade de New Richland, sem opções, aceita o trabalho de assistente pessoal da mulher conhecida nacionalmente como a bailarina mais prestigiada da atualidade, e a única sobrevivente de um acidente que matou toda s...