Capitulo 01 - A casa das montanhas.

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Encaro o folheto de trabalhos com vaga em aberto no jornal em minhas mãos

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Encaro o folheto de trabalhos com vaga em aberto no jornal em minhas mãos. Quase todas as lojas da única avenida principal já estão marcadas com um "X", para me lembrar que já participei de uma entrevista e fui dispensada no ato.
Que a verdade seja dita, não é fácil se mudar para uma cidade pequena no auge dos vinte e três anos, porque você se torna uma estranha em meio a tantos conhecidos. E além dos olhares atravessados que recebe na rua, até arrumar uma droga de um emprego se torna difícil, já que as lojas e mercadinhos preferem alguém familiar para ocupar uma vaga de "responsabilidade".

Responsabilidade o caralho.

Isso me deixa frustrada. Sou competente, organizada, receptiva, responsável e pontual. Isso não é suficiente para me gerar uma vaga ao menos na limpeza da única pousada da cidade? Aparentemente não.

Quando me mudei para New Richland, a cerca de três meses atrás, não foi por vontade própria, minha mãe estava doente, e com os laudos médicos apontando ser terminal, não tive outra escolha senão me mudar. Eu poderia ter apenas viajado, permanecido nesta cidade que, por alguma razão, ela amava mais do que tudo, pelos três meses que ainda a restava, e ido embora quando ela se fosse, mas passagens de avião não são baratas, e eu não tinha dinheiro suficiente para comprar nem uma. Precisei vender o pequeno apartamento onde morava em Denver, comprar apenas a passagem de ida, e sobreviver com o restante do dinheiro que me sobrou da venda. Meu plano era guarda-lo, arranjar um emprego em New Richland e permanecer na cidade até que conseguisse juntar uma quantia legal para comprar uma nova passagem e alugar outro apartamento, mas mamãe ficou mais doente no último mês, e seu plano já não cobria mais todos os medicamentos que ela precisava. Eu, mesmo sabendo que sua morte era inevitável, não consegui vê-la sofrer com as dores e não gastar do meu próprio dinheiro para comprar seus remédios, que a mantinham dopada até o dia em que deu seu último suspiro, a duas semanas atrás. Hoje, estou sem dinheiro, sem emprego, sem minha mãe, com meus planos arruinados, e nenhuma empatia dos moradores dessa cidade. Estou ferrada, esse é o resumo.

— Por que você não tenta vender a casa? – Dinah, a única pessoa que foi gentil comigo sem ser em festas desde que cheguei nesse lugar me pergunta, sentada do outro lado do sofá.

Minha mãe a deu aulas de piano quando mais nova, e quando a doença chegou, Dinah não deixou de visitá-la nenhum só dia, trazendo ensopados, doces caseiros e todas essas coisas de velho, mesmo ela tendo a mesma idade que eu. Gosto dela, é animada, uma boa ouvinte, e sempre me arrasta para as festas e baladas –as duas únicas que há na cidade– com seus amigos, o que me permite sentir um pouco mais perto da minha vida em Denver.

— Porque os terrenos aqui são desvalorizados, e se eu conseguisse vender, seria apenas para comprar uma passagem – a olho por cima do jornal. – E também não sei se quero desfazer desse lugar que minha mãe gostava como se não fosse nada.

— Mas você vai sair daqui quando conseguir dinheiro, Mila. Alguém vai invadir esse lugar se você deixar aqui.

Encaro o papel de parede florido, o chão de madeira, os candelabros das lâmpadas, os móveis. Tudo me fazia lembrar um pouco minha mãe, e embora sei que na primeira oportunidade irei embora, minha cabeça me faz acreditar que é uma falta de respeito tremenda simplesmente vender tudo isso como se não fosse nada, para alguém que jogaria tudo fora, estragaria o que uma vez ela amou.

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