Capítulo 19

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Carla

Ao que parece eu não foi uma boa mãe, pois se o tivesse sido Leila não se teria transformado em um monstro capaz de tudo para conseguir o que quer.

Olho para ela e não reconheço mais minha amada filha a quem sempre amei muito. Ela estava desiquilibrada e a prova disso era que tinha simulado a minha morte e de seu pai e nos mantinha presos em uma casa que era vigiada 24h por dia.

Meu marido Bob estava um farrapo. Ele bebia para esquecer que nossa filha nos mantinha presos e eu só pensava que estava a pagar pelos meus pecados.

O que será que ela tinha feito com Ana?

Fechei os olhos e encostei a cabeça na parede lembrando do passado.

Estava casada com Bob a dois anos e tinha uma filha linda, Leila que estava com quase um ano de idade, mas mesmo assim não era completamente feliz. Sentia que faltava alguma coisa.

Aproveitei que minha mãe queria passar um fim-de-semana com Leila e avisei ao meu marido que ia visitar a minha prima, Rosalina Steele. Nós sempre fomos muito unidas e eu não a via desde que a mesma tinha tido o seu filho, Elias.

Rosalina como sempre recebeu-me com um sorriso no rosto, ela vivia feliz o que me fazia sentir um pouco de inveja.

Naquele fim-de-semana ela saiu uma noite com Elias e acabei ficando sozinha com Ray. Ele sempre foi um homem que me chamou a atenção pois era lindo e depois de bebermos e conversarmos um pouco acabamos na cama dele. Quando percebi que o que tinha feito senti-me uma imunda e corri para o quarto de hóspedes não acreditando que tinha traído a minha prima e o meu marido.

No dia seguinte foi embora e decidi que esqueceria aquela noite mas não conseguia. Ray tinha despertado em mim um lado que não conhecia e acabei por começar a visitar a minha prima mais vezes e consequentemente a dormir com o marido dela. Estávamos a ter um caso a alguns meses quando Rosalina nos apanhou na cama, ela ficou em choque e depois colocou-me para fora da casa dela a tapas. Ray encontrou-se comigo mais tarde naquele dia e disse que tínhamos de terminar nosso caso pois não poderia perder a sua família e aceitei a sua decisão.

Uns dias depois descobri que estava grávida e quando contei a Bob ele não ficou feliz.

— Vagabunda. — Deu-me um tapa na cara e olhei-o em choque, ele não podia saber que meu bebé não era dele.

— Bob? Não ficou feliz? — Perguntei colocando a mão na minha barriga

— De quem é esse bastardo? Com quem me traiu Carla? — Ele estava transtornado

— Não sei do que fala. — Menti e ele riu e depois puxou os meus cabelos

— Sua cadela. Esse filho não é meu porque depois de Leila nascer fiz uma vasectomia. — Arregalei os meus olhos

— O quê? — Ele não poderia ter feito isso, ainda mais escondido de mim

— Você escutou sua puta. — Ele jogou-me com força em cima do sofá — De quem é?

— Do Ray. — ele ficou ainda mais furioso

— Por isso queria ver sua prima todos os finais de semana. — Disse ele — Saiba que não criarei um bastardo por isso escolha. Eu e Leila ou essa coisa que carrega. — Fiquei com os olhos marejados

— Não me peça uma coisa dessas Bob. — pedi chorando — Não posso escolher.

Eu sabia que tinha errado mas meu bebé não tinha culpa e apesar de tudo eu já o amava.

Como poderia escolher sabendo que perderia sempre um filho?

— Dê a criança ao pai quando nascer. — Disse ele frio — É a única forma de você continuar comigo e com Leila.

— Bob. — Supliquei

— É isso ou pode sair desta casa e não voltar mais.

Olhei para Leila que brincava no chão com uma boneca, eu não a podia deixar sozinha com o pai. Acariciei minha barriga ainda pequena e lembrei que meu bebé teria Ray e Rosalina que com certeza o ia amar como uma mãe.

Liguei a Ray e contei que estava grávida dele mas que não poderia ficar com a criança. Ele ficou chocado mas me disse que resolveria tudo e ele o fez pois me ligou no dia seguinte dizendo que Rosalina seria uma mãe para meu bebê.

Nove meses depois dei a luz a uma linda menina que Bob mal me deixou ver. Chorei com minha pequena nos braços e depois entreguei-o a Rosalina que decidiu chama-la de Anastásia. Voltei para casa e dediquei-me a salvar o meu casamento e a estar sempre presente para Leila.

Quatro anos depois recebi uma ligação avisando que Ray e Rosalina estavam mortos e Elias desaparecido. Bob e eu estávamos bem na época e fiquei surpresa com a atitude dele.

— Acho que podemos adotar a menina. — Olhei para ele sem acreditar

— Sério? — Perguntei com os olhos marejados ao saber que poderia ter minha filha mais nova perto de mim

— Sim. Agora que Ray não esta mais entre nós tenho certeza que não vai voltar a me trair. Vou conversar com o nosso advogado para que entre com os papéis de adoção.

— E Elias? — Perguntei depois que lembrei dele

— Por ele não podemos fazer nada Carla. Já estou sendo bom o suficiente em aceitar Anastásia e só o faço porque ela é meia-irmã de Leila. Esqueça o garoto, pois é bem provável que ele esteja morto. Quer sua filha com você ou não? — Fiz que sim com a cabeça

Uns dias depois Anastásia entrava na nossa casa.

Minha pequena era linda e tinha os olhos iguais aos meus e de Leila, de um azul profundo. Cuidei dela com todo meu amor e mantive em segredo sempre a sua origem. Leila sempre teve ciúmes dela e no início Bob fazia as vontades de nossa filha castigando Ana, mas com o passar dos anos ele começou a gostar de minha menina como sendo dele também.

— Nossa filha é um monstro. — Saí de meus pensamentos com a voz de meu marido que depois riu — O que poderíamos esperar dela sendo nossa, não é mesmo?

— Bob...

— Você foi uma vadia anos atrás quando me traiu e eu fui um monstro quando a separei de sua filha. Nós merecemos tudo o que estamos a passar.

— Não merecemos não. — Disse firme — Nós superamos isso tudo e sempre demos a Leila amor e bons exemplos, nada justifica o que ela esta fazendo com a gente.

— Estamos pagando por não termos ficado com o menino. — Disse ele e chorei ao lembrar de Elias

Nunca quis revelar a verdade a Ana pois sabia que a mesma ficaria triste ao saber que a abandonei e entreguei a outra mulher para criar. Ela poderia até vir a perdoar-me por isso, mas sei que não perdoaria se descobrisse que não fiz nada para procurar o seu irmão que ela nem sabia que tinha.

Talvez Bob e eu merecêssemos mesmo todo o mal que Leila estava fazendo para nós.

Vinda do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora