Capítulo 23

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Jennie mexeu a sopa com uma das colheres de plástico que havia colocado na bolsa junto com os enlatados que trouxera para Lisa. Uma olhada rápida para as coisas sobre a mesa lhe disse que Lisa tinha somente uma coisa de cada:

Uma panela, uma tigela, uma colher e um garfo. Coisas pelas quais fez trocas com Driscoll? O que o garfo havia lhe custado? Quanto havia pagado pela panela? Se o que Driscoll fazia por ela era uma gentileza, por que Jennie sentia que não era bem assim?

Alguma coisa estava muito estranha nessa situação toda, e torcia para que a agente descobrisse o que era, embora não tivesse obrigação alguma de compartilhar informações. Mas ela poderia ser uma… procurou em sua mente a descrição que mais combinava… amiga? Um contato? Sim, um contato, pelo menos. Poderia ser um contato para essa mulher que tinha poucas opções para obter itens necessários, depois do jeito que viveu sua vida até agora. Então, por que aquela palavra não a… satisfazia?

Enquanto mexia a sopa, pensou na expressão de Lisa quando lambeu a manteiga de amendoim do dedo, e um arrepio a percorreu assim como na primeira vez. Sentia-se atraída por ela, não somente por sua beleza, mas pelo jeito como seu olhar se afiava com inteligência quando ela tinha curiosidade sobre alguma coisa, por aquela expressão tímida quando se preocupava se estava dizendo alguma coisa errada ou usando a palavra errada, pelo som da voz dela, e o jeito como seu corpo se movia. Lisa tinha um apelo sexual intenso, de uma maneira que ela nunca sentiu em relação a nenhuma outra mulher, e aquilo a assustava, mas seu medo vinha com um pedacinho de empolgação.

Talvez as regras e estruturas sociais com as quais havia crescido não se aplicassem aqui. Talvez fosse mais fácil reconhecer os seus instintos mais básicos em um lugar sem mercados ou eletricidades, nada para mantê-la aquecida além do calor de uma chama e o corpo de outra pessoa. Lisa era uma mulher das cavernas, em alguns aspectos, mas talvez todos eles tivessem sido colocados no ambiente certo e forçados a viverem sozinhos apoiando-se em seus instintos e valentia.

Olhou para ela disfarçadamente. Sabia que Lisa também se sentia atraída por ela. Via o jeito que a observava, o jeito que seu sorriso era inocente, mas o calor em seus olhos era primitivo, o jeito como estudava seu corpo quando achava que Jennie não estava vendo. Havia aprendido a ficar atenta a homens e as mulheres que demonstrassem interesses não bem-vindos, a avisos de perigo iminente, um sinal vermelho que lhe dissesse para correr e se esconder.

E, ainda assim, não queria fugir de Lisa.

E isso também deveria assustá-la. Mas não assustava.

A sopa estava borbulhando, então ela serviu na única tigela que Lisa tinha e na única caneca, colocando-os sobre a mesa e sentando-se no tronco de árvore que servia como banco. Será que Lisa os havia feito? Não, como ela poderia? Não parecia ter ferramentas. Tinha? Não queria perguntar e fazê-la sentir como se tudo em seu mundo fosse entranho e questionável, mas era como se houvesse centenas de pequenas coisas que queria saber. Como ela tinha se virado sem itens do dia a dia que ela não valorizava?

Realmente caçava sem mais nada além de uma faca e suas próprias mãos? Como havia feito as botas e o casaco que usava? Que eram tão cuidadosamente costurados com… o quê?

Era solitária?

Tinha medo, às vezes?

Sim, devia ter. Era humana, afinal.

Sorriu para ela ao dar uma colherada na sopa, observando-a fazer o mesmo.

Um olhar de satisfação tomou conta de sua expressão, e ela sentiu seus músculos da barriga estremecerem.

— O que acha?

Lisa assentiu ao colocar mais uma colherada na boca, sorvendo ruidosamente.

— Salgado. Bom.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora