Epílogo

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O fogo crepitava e sombras dançavam nas paredes da biblioteca. Lisa sorriu, saindo de seu torpor quando o cheiro da mulher que amava chegou ao seu nariz.

— Olá, esposa.

Jennie riu suavemente, dando a volta na poltrona e sentando-se no colo dela.

— Será que algum dia eu conseguirei chegar de fininho atrás de você? — perguntou, envolvendo seu pescoço com os braços e roçando a bochecha em sua mandíbula.

Lisa sorriu e expirou pela boca, apreciando o carinho dela.

— Talvez. — Esperava que seu olfato aguçado se tornasse… menos, assim que estivesse vivendo na civilização há tempo suficiente, agora que não dependia mais de seus sentidos sagazes para sua sobrevivência.

— Humm — Jennie murmurou, beijando-a suavemente.

Lisa passou a mão sobre a pequena protuberância de sua barriga, o filho delas guardado na segurança de seu corpo. Pelos próximos cinco meses, pelo menos.

A partir de então, seria sua função proteger os dois. Garantir que fossem alimentados e aquecidos e que seus corações estivessem cheios. Lisa dava bastante valor a essa terceira parte, depois de uma vida inteira sendo capaz de atender somente às necessidades físicas. E muitas vezes, nem mesmo essas. Um arrepio de gratidão a percorreu. Minha família. As duas palavras ainda faziam sua respiração ficar presa, de tão feliz.

Maravilhada.

Ela e Jennie se casaram seis meses depois de terem sobrevivido após pularem a cachoeira Amity Falls. Ninguém foi capaz de convencê-la de que havia algum motivo para esperar, porém, a agente ― Rosé ― Chaeyoung sentou-se com Lisa e teve uma conversa “de mulher para mulher” sobre a “prudência da paciência” e a “sabedoria da espera”.

Respeitava Rosé, mas queria colocar um anel no dedo de Jennie. Seu anel, e isso era tudo. Queria que todos soubessem que Jennie era dela e ela era de Jennie.
Assim que descobriu que era isso que as pessoas faziam quando estavam apaixonadas e queriam que o mundo soubesse, pediu Jennie em casamento imediatamente. E ela disse sim.

Ficou muito feliz por ela também não concordar que era prudente ou sábio esperar. Elas se casaram no quintal das Park sob um pôr do sol de verão, cercadas por seus novos e velhos amigos.

Lisa pensava neles como sua matilha, e não se negou isso. O sentimento. A maneira como a fazia se sentir conectada.

Talvez seus sentidos ficassem menos aguçados, talvez não, mas uma parte dela sempre seria selvagem ― a menina que cresceu ao lado de um lobo que amou como um irmão ―, e negar isso seria negar Pup. Negar tudo o que a trouxe para a vida que Lisa agora vivia.

A vida que amava com todo o seu coração.

O bebê foi inesperado, mas desde que ambas se acostumaram com a ideia, não conseguiam parar de sorrir por isso.

Deitavam na cama à noite e simplesmente conversavam por horas sobre como ele ou ela seria, as coisas que queriam ensinar a seu filho ou filha, o milagre da vida que criaram depois de ambas enganarem a morte mais de uma vez. E aquele pequeno milagre fez Lisa querer aprender tudo o que pudesse sobre como ser uma boa mãe. Uma boa líder de matilha. Rosé e Jisoo iriam ajudá-las.

Lisa e Jennie já tinham perguntado se elas poderiam atuar como avós do bebê, e Jisoo chorou, enquanto Rosé fingiu que tinha algo no olho.

Lisa entrara em contato com Almina Kavazović ― em quem ainda pensava como sua Yâa ― apenas alguns meses antes e, embora Lisa não tivesse certeza do que o futuro reservava para o relacionamento delas, precisava dizer a ela que perdoava, e que sua Yâa esteve com ela durante tantos momentos de luta e solidão. Ela tinha sido sua força, o lembrete de que era forte. Lisa sentiu a mãe de Jennie ― seu padre, seu Abade Busoni ― sorrindo para ela enquanto dizia
isso.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora