Capítulo 35

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A velha senhora espiou através da porta entreaberta, analisando Chaeyoung, olhos estreitos com suspeita.

- Olá, senhora. Almina Kavazović?

- Sim.

- Agente Park Chaeyoung. Eu gostaria de fazer algumas perguntas para a senhora, se me permitir.

- Sobre o quê? - exigiu saber, em uma voz com sotaque carregado, sem mover a porta um centímetro.

- Um homem que costumava morar no apartamento ao lado do seu. Isaac Driscoll?

Os olhos se arregalaram quase imperceptivelmente. Quase. Chaeyoung percebeu e sabia que seu pressentimento estava certo quando conseguiu a lista de inquilinos do prédio que a irmã de Driscoll havia mencionado e encontrou o nome Kavazović nela.

- Driscoll? O que tem ele?

- Senhora, essa conversa seria muito mais fácil se me deixasse entrar por alguns minutos. Eu tenho...

A trava da corrente desengatou com um ruído suave e a porta se abriu antes que Chaeyoung terminasse sua frase. A mulher afastou-se para permitir que ela estrasse, uma senhora usando um vestido florido e com os cabelos escondidos por baixo de um lenço escuro enrolado na cabeça.

- Eu sabia que esse dia chegaria - ela disse, e sua voz de repente não continha mais suspeita, apenas conformação.

Virou, e ela fechou a porta, seguindo-a para a sala de estar, onde a senhora acomodou-se em uma poltrona de frente para um sofá florido de dois lugares. A mobília era bem gasta, mas o cômodo estava limpo e bem arrumado, com guardanapos de renda sobre quase todas as superfícies. Chaeyoung sentou-se e esperou que Almina falasse.

- O que ele fez? - perguntou.

- Ele está morto, senhora.

Almina encontrou o olhar dela nesse momento, mas não parecia chocada.

- Sim - ela disse com naturalidade. - É melhor assim.

- A senhora pode me contar mais sobre Driscoll? Como o conheceu?

Suspirou, um som exausto que tremeu em sua garganta.

- Ele era meu vizinho, como você disse. Eu não o conhecia muito, só sabia que trabalhava para o governo. Eu vim da Bósnia nos anos noventa durante a guerra. Minha família tentou vir, mas eles... - Parou por um momento, e Chaeyoung esperou até ela continuar. - Eles não puderam.

Chaeyoung não pediu que ela contasse mais sobre aquilo, e podia imaginar os motivos pelos quais a família dela teve problemas ao tentar imigrar.

Burocracias... atrasos... finanças insuficientes... Ela se perguntou como Almina havia conseguido, mas aquilo era irrelevante.

- Eu fui ao Dr. Driscoll, perguntei se ele podia ajudar porque tinha emprego do governo. Primeiro, disse não. Que não podia ajudar. Depois, voltou e disse sim. Podia me ajudar se eu trabalhasse para ele, seguisse suas regras e não contasse a ninguém.

- Que emprego era esse, senhora? - ela perguntou, seu coração pesando, pensando que já sabia o que ela ia dizer.
- Cuidar do bebê. Criar o bebê até o Dr. Driscoll estar pronto para treiná-lo.

Treiná-lo? Chaeyoung esperava que Almina contasse sobre criar o bebê, mas não sobre... treinamento. Lembrou-se de suas dúvidas sobre o interesse de Driscoll nos Espartanos. Ela franziu o cenho.

- Que tipo de treinamento?

- Ele não disse. Só falou que não devia mimar a garota ou estaria fazendo um desserviço. Me disse para alimentar a garota e cuidar dela, mas nada mais. Nada de mimá-la - Almina repetiu. - Isso é muito importante, ele disse. É o jeito certo.

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora