A garota que se chamava Jennie estava roncando. Alto.
Lisa a observava, sentada no chão com a cabeça inclinada para frente e a boca aberta. Aproveitou o momento para encará-la sem que ela soubesse, permitindo que seus olhos a percorressem livremente.
É você, pensou. Sentia como se uma abelha estivesse presa em seu peito.
Ela era o bebê na foto que vinha usando em seu pescoço há tanto tempo. Era por isso que os sussurros se agitavam sempre que Jennie estava por perto? Era por isso que sentia como se a conhecesse? Estendeu a mão e pegou o medalhão por hábito, deixando a mão cair em seguida. Vazio. Ainda encarando. Ela era a pequena garota sorridente com um laço rosa em seus cachos castanhos.
Como era possível? Aquilo a chocou. No entanto, tantas coisas a chocavam.Por que não chocaria? Uma pontada de infelicidade a atingiu, mas a abafou. Por enquanto. Enquanto Jennie ainda estava ali. A garota a deixava agitada. Ou… não, agitada não. Era o oposto. Qual era o oposto de agitado? Ela a deixava quieta.
Como se ela quisesse ficar parada, esperando e observando até poder compreendê-la.
Quieta também não era a palavra certa, e ela pensou naquilo por um minuto enquanto vestia seu casaco, tentando fazer barulho para que ela acordasse.
Jennie emitiu mais um ronco, que quase a fez sorrir, mas ela estava muito tensa para conseguir sorrir.Lisa desviou a atenção por um minuto, mas não pôde evitar tornar a observá-la. Lisa queria olhá-la. Ela é linda. Mas será que ela podia confiar nela? Esfregou a cabeça. A mulher com cabelos ruivos, que havia tirado as roupas para ela e beijado sua boca, também era linda. Não tão linda quando a garota babando durante o sono no chão, mas ainda era linda. Mas, de qualquer jeito, eram diferentes, não eram? Lisa conhecia essa mulher. Não conhecia? Meio que sentia que a conhecia.
Uma mecha de seus cabelos escuros caiu no rosto. A cor de castanhas na luz do sol. Um marrom profundo e brilhante. Sua mão coçou para afastar o cabelo do rosto dela, para correr os dedos pelos fios e descobrir se era tão sedoso quanto parecia. Tocar. Sentir o cheiro. Os olhos dela estavam fechados, mas podia imaginá-los se abrindo e a encarando como se Jennie não soubesse o que ela faria em seguida.
O que ela pensava? O que via quando olhava para Lisa? Um animal ou uma mulher? Algo a se temer? Sim, sabia qual era a resposta, ou Jennie não teria trazido uma arma consigo.
Silenciosamente, se aproximou.
Silenciosa como um lobo. Tentando sentir o cheiro dela de onde estava. E ali estava. Fechou os olhos, inspirando, segurando. Estava mais terroso naquela manhã, como se tivesse colhido uma flor, esmagado em suas mãos e levado ao nariz, com todas as partes se misturando. Doce e não doce. Não tinha as palavras para descrever o aroma dela, somente imagens. Sensações.
Sussurros baixinhos. Mas aquilo mexeu com Lisa. Fez seu corpo reagir, a fez querê-la.
Olhou-a com mais atenção, estudando-a. Aprendendo. A boca dela era grande, o lábio superior, mais fino que o inferior, e quando se separavam ― como estavam naquele momento ―, Lisa podia ver seus dois dentes da frente superiores. Perolados, suaves. Quando a viu pela primeira vez, achou que ela parecia um filhote de cervo ― pura e jovem, com seus grandes olhos castanhos piscando com curiosidade.
Nunca vira nada mais bonito. Nem mesmo o cair da noite, quando as cores do sol se pondo preenchiam o céu e surgiam para beijar a terra.
Ela se mexeu em seu sono, e Lisa deu um passo rápido e silencioso para trás, mas Jennie continuou dormindo. Mal havia dormido a noite inteira, tão ciente da presença dela sob seu teto que não conseguia aquietar a mente. Talvez ela não tivesse tanto medo de Lisa como ela pensava, já que conseguiu dormir daquele jeito. Jennie soltou mais um ronco e deixou a cabeça cair para frente mais uma vez. Os lábios de Lisa curvaram-se para cima, transformando-se em um sorriso que parecia estranho em sua boca. Ergueu a mão para senti-lo, passando os dedos pelo formato curvado de seus lábios.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Selvagem - Jenlisa (G!P)
أدب الهواةQuando a guia florestal Jennie Kim é convocada ao escritório do xerife da pequena cidade em Boesang, Coréia do Sul, para prestar assistência em um caso, fica chocada ao descobrir que a única suspeita na investigação de um duplo homicídio é uma mulhe...