A sociedade se beneficiará. As crianças se beneficiarão. Eventualmente, o mundo se beneficiará.
Meu Deus. Ele é um psicopata. Realmente achava que alguém em sã consciência aceitaria isso? E, no entanto, uma pontada fria de pavor percorreu Jennie por saber que já outros haviam sucumbido a essa loucura. Não apenas sucumbido, mas colocado em prática.
Quem mais estava sofrendo? Tentando sobreviver a inúmeros terrores desconhecidos e dificuldades naquele exato momento? Ela estremeceu.
— Você acha mesmo que as pessoas vão aceitar isso? — Jennie perguntou, não exatamente buscando uma resposta, mas para mantê-lo falando, para bolar um plano. Qualquer coisa. Não importava o quê.
— Você tem razão. Eu vejo o jeito que vocês duas estão olhando para mim — o Dr. Chang disse, mal penetrando os pensamentos em sua mente. — Pode ser… intragável para alguns. Eles não vão compreender o alcance, os benefícios. — Ele se balançou nos calcanhares. — Mas há muitos que compreendem, e são eles que importam. Sabem que uma grande mudança requer uma ação ousada. Entendem que são os resultados que importam. E os resultados falam por si. Não é mesmo, Daire?
Pela primeira vez, o homem chamado Daire falou.
— Sim, senhor — concordou, dando um pequeno aceno de cabeça para o Dr. Chang.
Oh, Deus. Eles tinham mesmo convencido alguns dos sobreviventes de que isso era certo. A doença era inconcebível.
O homem tinha convencido a si mesmo de que estava melhorando a sociedade, enquanto lucrava com o tormento das pessoas.
Ao lado dela, a mente de Lisa estava definitivamente girando. Olhou para ela e, mesmo com medo, seu coração se acalmou.
Havia confiado nela quinze anos atrás, e confiava agora. Não para sobreviver a isso, percebeu. Mas para lutar, para tentar. Viu isso na natureza dela até mesmo naquele momento, ela percebeu de repente. Lisa cerrou os punhos. A lembrança veio em um flash, o barulho de água corrente enchendo sua cabeça, sua mente conjurando aquele momento que parecia um sonho. Lisa cerrou os punhos. Tremeu, como o resto deles, mas cerrou os punhos… e Jennie soube.
Encontrou o olhar dela e o tempo parou.
Uma intensidade profunda preencheu a expressão de Lisa antes de dar uma rápida olhada para trás.
Para trás. A cachoeira.
É a nossa única saída.
O estômago dela gelou. O medo disparou.
A água rugia, o homem diante delas ainda falava, andava de um lado para o outro, com maldade saindo de seus lábios. Jennie não conseguia mais ouvi-lo, não com o barulho da cachoeira, o zumbido em sua cabeça. Lisa deu um, dois passos à frente. Jennie encontrou seu olhar e sentiu uma calma estranha.
O homem diante delas não ia permitir que se livrassem. Não ia antes, e especialmente não depois de ter compartilhado tudo com elas.
Eram uma ponta solta antes, e agora tinham uma extrema responsabilidade.
Ia atirar nelas e quem quer que trabalhasse com ele ― uma rede bem vasta de pessoas, ou pelo menos era o que parecia ― o ajudaria a descartar os corpos em algum lugar dessa imensa floresta. Nunca seriam encontradas, ou mesmo se fossem, não haveria evidência alguma sobre quem as matou ou por quê. E se nunca fossem encontradas? As outras pessoas acreditariam que fugiram juntas? E mesmo que acreditassem, como isso poderia ser provado? Diriam que Lisa era uma caixinha de surpresas, imprevisível, não civilizada, e que Jennie estava sem foco e emocionalmente instável ― machucada pelo trauma de ter perdido os pais e crescido sem um lar verdadeiro. Quem poderia dizer o que fizeram e por quê?
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Selvagem - Jenlisa (G!P)
FanfictionQuando a guia florestal Jennie Kim é convocada ao escritório do xerife da pequena cidade em Boesang, Coréia do Sul, para prestar assistência em um caso, fica chocada ao descobrir que a única suspeita na investigação de um duplo homicídio é uma mulhe...