Capítulo 26

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Jennie bateu à porta que já estava se tornando uma visão familiar. Deu um passo para trás, seu coração pulsando de forma irregular e desenfreada, como sempre parecia fazer quando estava prestes a estar na presença dela. A porta se abriu e ali estava Lisa, olhando-a com uma expressão um pouco menos cautelosa do que as primeiras duas vezes em que ela apareceu sem aviso. Não que tivesse algum meio para avisar além do som de sua caminhonete se aproximando alguns minutos antes de chegar, mas…

— Oi.

— Oi.

Enfiou a mão dentro da bolsa grande que tinha em seu ombro e tirou de lá os cadernos que um dia pertenceram à sua mãe.

— São seus.

O rosto de Lisa encheu-se de surpresa.

— Eles não são meus. Eu só os encontrei. Pertencem a você.

Jennie sacudiu a cabeça e pegou também o livro que havia trazido em sua bolsa.

Entregou O Conde de Monte Cristo para Lisa e observou seus olhos se arregalarem com um prazer surpreso.

— Também achei que você pudesse querer isso, para poder compreender melhor aquelas anotações.

Lisa não fez menção de rejeitar o livro como havia feito com os cadernos. Ela o recebeu e o segurou contra o peito, como se fosse precioso.

Jennie olhou por cima do ombro dela, assimilando a luz das chamas dançando nas paredes.

— Posso entrar? Não vou demorar muito.

Lisa não respondeu, mas deu um passo para trás, e ela entrou, fechando a porta atrás de si. Jennie colocou os cadernos na cama vazia que ficava mais próxima da porta e manteve o olhar nos objetos por um instante antes de observá-la.

— Eu quero que você fique com as anotações da minha mãe.

— Por quê?

— Porque… eu acho que elas foram feitas para você.

Lisa franziu a testa.

— Como assim?

Jennie suspirou, aproximando-se dela.

— Não sei exatamente. Eu só… tenho essa sensação. — Sacudiu a cabeça. — E não é sempre que sigo meus instintos, ou a minha intuição, como queira chamar, mas acho que esses cadernos pertencem a você e pronto. Não pensei direito sobre o assunto. Eu os trouxe de volta, e espero que esteja tudo bem. Além disso, descobri algo hoje à tarde e queria… bem, eu queria te perguntar sobre isso, ver o que você acha, porque…

— Jennie.

Disse o nome dela, nada mais, mas havia uma súplica delicada em seu tom ― parecia dizer calma, respire, estou tentando te entender ― e aquela única palavra foi o suficiente para parar sua tagarelice sem sentido e se recompor.

Sentia-se vista por Lisa, de uma maneira que não era vista por alguém há muito tempo, mesmo que Lisa não entendesse sempre suas palavras.

— A agente Park me ligou esta tarde e me disse que encontraram evidências de que os meus pais levaram um tiro.

— Tiro? Com… uma flecha?

— Não, não. Com uma arma.

— Pensei que eles tivessem morrido no acidente de carro.

Jennie sentou-se na cama ao lado da dela, as molas de metal rangendo suavemente.

— Eu sempre acreditei nisso. Sempre presumi que nós três nos envolvemos em um acidente, e o carro nunca foi encontrado. Acreditei nisso a minha vida toda. Apesar do local ser estranho — ela franziu a testa —, encontrar o carro na base daquele desfiladeiro foi uma confirmação disso. Estou tão, tão confusa, e… não sei como me sentir. — Fez uma breve pausa. — Você viu alguém perto daquele lugar? Ou sabe de alguma coisa que poderia explicar o que aconteceu com eles?

Selvagem - Jenlisa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora